- Folha de S. Paulo
"The Internationalists", de Oona Hathaway e Scott Shapiro (Yale), conta a história de como a guerra deixou de ser a forma civilizada de resolver diferenças entre países e se tornou ilegal à luz do direito. Mostra como esse passo, que parecia o devaneio de alguns sonhadores, acabou sendo inscrito nos tratados internacionais e, dezenas de milhões de mortos depois, está se convertendo numa realidade (estamos aqui falando de conflitos entre Estados, não de guerras civis).
O ponto forte do livro é que os autores conseguiram transformar o que poderia ser um soporífero tratado de direito internacional num verdadeiro "page-turner". As duas primeiras partes da obra se leem como romance. É só a terceira que se parece mais com um texto de ciências sociais.
Hathaway e Shapiro nos levam por uma jornada que começa no século 17 com Hugo Grotius, que foi o primeiro a sistematizar a velha ordem mundial em que a guerra tinha papel preponderante, nos apresentam personagens pouco conhecidos como Salmon Levinson, James Shotwell, Sumner Welles e Hersch Lauterpach, que podem ser apontados como os arquitetos de um mundo sem guerras, e culmina no Tribunal de Nurembergue em 1945, com um confronto virtual entre as ideias de Hans Kelsen e Carl Schmitt.
O ponto mais discutível do livro é que os autores, buscando uma interpretação original, parecem dar peso demais à sua tese de que o grande divisor de águas foi o Pacto Kellog-Briand de 1928, em que os participantes renunciavam à guerra como instrumento de política nacional. O problema com o Pacto Kellog-Briand é que ele nunca foi levado a sério, nem pelos atores políticos nem pelos historiadores. E é complicado erguer à condição de peça fundamental um tratado que nunca foi percebido como importante nem pelos jogadores, nem pelos árbitros. De todo modo, "The Internationalists" é uma leitura em tudo surpreendente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário