Principais referências do segmento abrem diálogo com Meirelles, Alckmin, Maia e até Bolsonaro
Thiago Prado / O Globo
A oito meses das eleições, os pré-candidatos à Presidência começam sua peregrinação entre as principais lideranças evangélicas do país de olho na força do voto conservador. Em jogo, a busca por um eleitorado que, segundo estimativas de pesquisadores, já alcança uma fatia de quase 30% da população. Os rumores de lançamentos de diversos nomes no campo da centro-direita dividem a opinião das mais influentes referências do segmento, que prometem trabalhar fortemente para que a bancada evangélica atinja a marca de mais de cem deputados no Congresso Nacional.
A mais visível das articulações foi feita no início do mês pelo ministro Henrique Meirelles (PSD). Ele esteve na igreja Sara Nossa Terra, comandada pelo bispo Robson Rodovalho. Durante o ano passado, Meirelles, que é católico, já havia visitado templos da Assembleia de Deus, um roteiro típico de um postulante ao Planalto. Rodovalho, que preside a Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil, diz não ter definido quem vai apoiar, mas dá pistas sobre qual o perfil do candidato que deve conquistar a sua preferência:
— O público evangélico está de olho em um candidato que seja liberal na economia e conservador nos valores.
Desanimado com o desempenho de Meirelles nas pesquisas (1%, segundo o último Datafolha), o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, pensa diferente. Por enxergar uma falta de “feeling político” no ministro, ele começou a articular o apoio ao deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Até o ano passado, o candidato preferido de Malafaia era o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), com quem troca mensagens no WhatsApp frequentemente. Como a candidatura do tucano naufragou, o pastor aposta no deputado:
— Eu e Bolsonaro vamos discutir esse apoio no fim deste mês. Tenho a seguinte tese: quem estiver citado na Lava-Jato não irá prosperar entre os evangélicos. É o caso de Geraldo Alckmin e Rodrigo Maia.
CRIVELLA QUER INDIO
O presidente da Câmara dos Deputados, caso de fato resolva colocar sua candidatura na rua, seria aquele com os apoios mais azeitados entre os evangélicos. Nos últimos anos, o DEM filiou, em uma só tacada, o braço-direito de Malafaia, o deputado federal Sóstenes Cavalcante, além de parlamentares ligados ao missionário R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, e ao apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus. Santiago, aliás, mantém-se, por enquanto, em agenda suprapartidária, sem definir que rumo tomar.
Recebeu Alckmin em cultos no fim do ano passado, mas terá agenda marcada para amanhã com o presidente Michel Temer no Palácio do Planalto.
— Em eleições proporcionais, o discurso evangélico muito radical consegue eleger deputados como Marco Feliciano. Já nas majoritárias, é inevitável moderar o discurso e caminhar para o centro — afirma o demógrafo José Eustáquio Diniz, especialista em estudos ligados à religião.
A Igreja Universal do Reino de Deus também segue em compasso de espera, mas desde já descarta a aproximação com o ex-presidente Lula (PT), a quem apoiou nos seus dois governos, e com Bolsonaro, que apoiou no segundo turno a eleição de Marcelo Crivella (PRB) no Rio. O presidente do PRB, Marcos Pereira, afirma que a sua legenda, ligada à Universal, aguarda a consolidação de um nome distante dos extremos.
— Estaremos no centro com certeza. Não temos condição de estar do lado da esquerda, muito menos da extrema-direita — prevê Marcos Pereira.
No Rio, as dúvidas sobre os nomes que sonham com o Palácio Guanabara também deixam um ponto de interrogação no cenário de apoio evangélico. Bispo licenciado da Universal, Crivella sugere, porém não crava, a sua opção para a sucessão de Luiz Fernando Pezão:
— Indio da Costa é um bom candidato. Na hora certa, espero dizer que ele é o meu candidato — diz o prefeito do Rio.
Ligado ao grupo político de Crivella, está ainda o ex-governador Anthony Garotinho (PR), presbiteriano que acalenta o desejo de concorrer ao governo do estado. Já na oposição estão Cesar Maia e Eduardo Paes. Dos dois, quem for o candidato a governador será apoiado pelos evangélicos do DEM.
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