Silvia Amorim / O Globo
SÃO PAULO - Por falta de quadros competitivos e de recursos financeiros, uma campanha do governador Geraldo Alckmin à Presidência deverá ser mais dependente de palanques de outros partidos do que do próprio PSDB nos maiores colégios eleitorais. Em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul, onde vivem 54% do eleitorado, os tucanos tendem a ter candidato a governador somente nas sucessões paulista e gaúcha. Na eleição baiana e fluminense, o plano A de Alckmin é usar palanques do DEM. Em Minas, para desespero do PSDB, o cenário é uma incógnita.
A aliança com os democratas, parceiros históricos de Alckmin, é natural, mas, desde a semana passada, passou a ser um negócio de risco, depois que, em entrevista ao GLOBO, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), confirmou que pode ser candidato ao Planalto. Se isso se concretizar, o governador poderá ficar sem suporte para a campanha em dois dos cinco maiores estados — Rio de Janeiro e Bahia. Com 23 milhões de eleitores, só perdem para São Paulo e Minas em peso eleitoral no país.
Alckmin reagiu à pretensão de Maia com um discurso amistoso dias atrás, dizendo que uma candidatura dele será legítima e bem-vinda. Reservadamente, entretanto, ele tem se mostrado cético quanto a uma entrada de Maia na disputa. O tucano também aguarda o desenrolar das movimentações de outro potencial candidato de centro à Presidência: o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD).
Geraldo Alckmin também precisa superar ritos burocráticos no PSDB, como as prévias com o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, para oficializar-se candidato tucano.
No plano A do governador, ele teria como principais cabos eleitorais no Rio e na Bahia os nomes cotados pelo DEM aos governos estaduais: Cesar Maia e ACM Neto, respectivamente. O PSDB não tem sequer interessados nas vagas. Diante da escassez de recursos para o financiamento eleitoral, a orientação no tucanato é investir somente em candidaturas próprias com chances de vitória.
Os palanques estaduais são estratégicos para as campanhas nacionais. Candidatos a governador ajudam a difundir o nome dos presidenciáveis e fazem campanha para eles no interior do estado. Em tempos de eleição mais curta (45 dias), o apoio desses cabos eleitorais de luxo tornou-se mais valioso que nunca.
INCERTEZA EM MINAS
Em São Paulo, berço político do PSDB, o palanque tucano está garantido. O partido terá candidato próprio, mais ainda não decidiu quem será o candidato. Quatro nomes disputam a indicação, entre eles, o prefeito João Doria e o senador José Serra. Alckmin terá a palavra final na escolha, afinal o tucano quer ter tranquilidade para viajar o país tendo um aliado que defenda seu legado no governo paulista.
Se em São Paulo sobram candidatos, em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral, o quadro é inverso. O PSDB até tem um nome competitivo para o governo e com potencial para oferecer a Alckmin um palanque robusto, o senador e ex-governador Antonio Anastasia, mas não consegue convencê-lo a disputar a eleição.
— A indefinição é completa em Minas. Não há dúvida de que Anastasia vai ser muito pressionado para rever sua posição. E o único capaz de fazêlo mudar de ideia é o Aécio (Neves)— disse um deputado mineiro encarregado das articulações locais.
Sem Anastasia, o PSDB em Minas não sabe dizer hoje qual caminho seria a alternativa.
Minas e São Paulo são estados essenciais na estratégia do PSDB que, sem tanta popularidade no Norte e no Nordeste, depende de votações mais expressivas nas regiões Sul e Sudeste. É nesse contexto que o apoio do prefeito de Salvador, ACM Neto, favorito nas pesquisas na Bahia, é considerado fundamental para aliados de Alckmin.
Por enquanto, as negociações para candidaturas a governador estão acontecendo sem a interferência da cúpula nacional do PSDB. No Rio Grande do Sul, o partido caminha para lançar o ex-prefeito de Pelotas Eduardo Leite. Jovem e bem avaliado pela população, o tucano gaúcho tem a simpatia de Alckmin.
— O melhor palanque para o Alckmin aqui é uma candidatura própria. O que posso adiantar é que o governador tem simpatia e respeito pela candidatura do Eduardo — disse o deputado estadual Lucas Redecker, um dos articuladores da aliança tucana no Rio Grande do Sul.
Auxiliares de Alckmin dizem que, por enquanto, o pré-candidato monitora à distância a condução dos arranjos locais. Na avaliação deles, as negociações deverão ganhar fôlego a partir de março, com o fim do prazo para a troca de partidos sem sofrer punições, e abril, quando os candidatos que ocupam cargo público terão que se desincompatibilizar. Em 2014, o PSDB teve 13 candidatos próprios a governador.
ALIANÇA NACIONAL
Alckmin planeja ter uma coligação com quatro ou cinco partidos e tem avaliado que dividir o campo político de centro com mais um candidato não seria o “fim do mundo”.
Em seu desenho de aliança, Alckmin separa os partidos pela força de cada um no horário eleitoral e conclui que ter um representante de cada porte será suficiente para estruturar uma campanha competitiva. PP, PPS e PV são apontados como parceiros viáveis.
Nas conversas reservadas, ele tem deixado claro que não vai buscar o PMDB como aliado preferencial. Tentará montar uma coligação priorizando outras legendas. Mas afirma que não recusará os peemedebistas se houver a oferta de apoio. O tucano desconfia do poder de influência da internet nesta eleição e apostará num canal tradicional para chegar ao segundo turno: o horário eleitoral gratuito.
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