- O Globo
A inflação abaixo do piso da meta foi um momento breve de conforto para o governo na segunda semana do ano. O resto do tempo ele se debateu em torno de questões como o rombo das contas públicas, o esforço para nomear uma pessoa inadequada para o cargo de ministra do Trabalho, a fogueira das pretensões presidenciais entre aliados e, por fim, o rebaixamento da nota de crédito do Brasil.
Foi uma semana ruim, com um breve intervalo de comemoração. A inflação, que já arruinou tantos governos no Brasil, chegou ao número mais baixo desde o começo do sistema de metas de inflação. E tão baixa que o presidente do Banco Central teve que se explicar publicamente. Se os alimentos não tivessem caído tanto, a inflação teria ficado matematicamente no ponto certo de 4,5%. Mas ficou em 2,95%. O presidente Temer quis brilhar e montou um palco para subirem todos, ele e sua equipe econômica. Durou pouco a alegria, porque as más notícias aguardavam na saída da breve comemoração.
A inflação baixíssima deu o ar de sua graça, mas ao mesmo tempo o país continua cercado de más notícias. O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão — esse é o nome completo do órgão — tem que preparar neste começo de ano a Lei de Diretrizes Orçamentárias e depois o Orçamento. Mas não sabe por onde começar. Há um problema incontornável naquele ano. Puxa daqui e estica dali, não dá para cumprir a regra de ouro que proíbe o governo de se endividar mais do que o valor que investe. Dentro do governo, foi discutida a ideia de suspender temporariamente essa lei num pacote que daria outros instrumentos para administrar melhor o Orçamento. A regra de ouro foi escrita, na época da Constituinte, pelo deputado Maia, Cesar Maia. O deputado Maia, Rodrigo Maia, rebelou-se contra a mudança na Constituição da regra disciplinadora de autoria paterna. Isso ajudou a fortalecer os protestos contra a mudança e a melhorar a foto do presidente da Câmara na galeria da pré-corrida presidencial.
O governo limpou o salão para a posse que não houve, a deputada Cristiane Brasil comemorou em jantar o cargo que ainda não tem, mas, com ajuda de aliados que ocupam o Ministério do Trabalho, já exerce algum poder por lá. A discussão que se arrasta há alguns dias é sobre o poder que tem o chefe do Executivo de escolher seus ministros. Não é dele a prerrogativa de nomear os ministros? Sim. Mas nem é disso que se trata no fato em questão. O que o país está vendo é um ex-deputado cassado por corrupção nomeando sua filha para o cargo. O presidente apenas assina a indicação, e não tem poderes para revogar seu próprio ato porque o cargo não lhe pertence, mas ao PTB presidido pelo notório Roberto Jefferson. A escolhida do seu pai tem um histórico ruim exatamente na área trabalhista que pretende ministeriar. E, no país que já vai perdendo a noção do óbvio ululante, alguns ainda se perguntam por que uma pessoa que foi condenada na Justiça Trabalhista e com dívida de contribuições patronais não recolhidas à Previdência não pode ser ministra do Trabalho? Pois é. Por óbvio, não pode.
O Ministério do Trabalho anda dando trabalho ao presidente Temer. Por que ele escolheu se desgastar mantendo a imprópria nomeada? Por que ele manteve neste mesmo cargo, até o dia em que o próprio quis ir embora, o autor da portaria que relativizava o que é trabalho escravo? Temer com sua popularidade no mesmo nível da inflação, em torno de 3%, não perde oportunidade de se desgastar um pouco mais.
Na sexta-feira de manhã, tiros na Rocinha ecoavam no Alto Gávea. Era mais um bang bang da disputa territorial do tráfico de drogas. Enquanto isso, numa avenida do Leblon, bandidos e polícia trocaram tiros num assalto. Apenas mais um dia no Rio. Anos atrás, a cidade viveu o sonho da libertação das áreas de risco pelas forças de segurança. O governador que vendia essa ilusão, soube-se depois, nos distraía enquanto acumulava joias e bens. Nesta semana ele passou a responder ao seu vigésimo processo.
Na quinta-feira à noite, uma agência de risco avisou que o país foi rebaixado uma vez mais. Um sinal de menos depois de um BB não é o pior. O ano apenas começou. O país tem pela frente mais 50 semanas de um governo que não sabe para onde vai.
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