O cronograma eleitoral do Partido dos Trabalhadores (PT) está atrasado, mostrou reportagem do Estado. Nas eleições passadas, neste período do ano, a legenda já tinha definido, ainda que informalmente, os nomes da coordenação da campanha, responsáveis pelas articulações políticas. Neste ano, até agora a legenda informou apenas que Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, será o coordenador do programa de governo. Ainda não se sabe, por exemplo, quem assumirá a coordenação-geral da campanha. Há quem diga que a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) exercerá a função. O partido informa, no entanto, que, até o momento, não há definição.
Questionado a respeito do atraso no cronograma, o PT afirmou que a montagem da equipe de campanha entrará no foco a partir do dia 25 de janeiro, um dia após a data marcada pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 4.ª Região para o julgamento em segunda instância de Lula da Silva. O presidente de honra do PT tenta reverter a condenação a 9 anos e 6 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Caso se confirme o veredicto condenatório, Lula da Silva ficará inelegível, conforme dispõe a lei. “São inelegíveis para qualquer cargo os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de oito anos após o cumprimento da pena, pelos crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores”, fixa a Lei Complementar 64/90, de acordo com a redação final dada pela Lei Complementar 135/2010, conhecida como Lei da Ficha Limpa.
Conforme alguns dirigentes petistas reconhecem, a situação jurídica de Lula da Silva tem atrapalhado a organização da legenda para as eleições. Não é para menos. O partido que prometia instaurar uma nova ética na vida pública vê-se na inglória tarefa de livrar seu líder máximo de uma condenação criminal por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ainda por cima, essa tarefa tão pouco entusiasmante não é resultado de uma eventual convicção a respeito da inocência de Lula da Silva. Ela é primordialmente consequência de um fato: para as eleições presidenciais de 2018, os petistas só têm Lula da Silva.
Essa situação não é fruto do acaso. Ela foi criada ao longo de toda a história da legenda. Com a presunção de se achar superior ideologicamente, o partido atuou reiteradamente à revelia da lei, como se tudo lhe fosse permitido para se perpetuar no poder. Logicamente, esse tipo de atitude traz consequências com a Justiça.
De certa forma, o que o PT vive agora é uma situação parecida ao que ocorreu em 2009. Por força dos problemas na Justiça que o PT enfrentou por ocasião do mensalão, não havia nomes eleitoralmente viáveis e Lula da Silva, que não podia se reeleger pela terceira vez, inventou a candidata Dilma Rousseff.
Também agora o partido não tem nomes eleitoralmente viáveis que não estejam com problemas na Justiça. Diante disso, a única saída para os petistas é Lula da Silva. Sendo assim, o calendário eleitoral vai para um segundo plano. O que importa de fato é a pauta da seção penal do TRF da 4.ª Região.
Ainda que alguns dirigentes reconheçam o atraso do cronograma, há uma forte resistência em admitir a causa do problema. “Estamos em uma situação excepcional em relação a anos anteriores”, afirma o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, atualmente um dos vice-presidentes do PT. No entanto, ele opta por não ver que a causa do problema tem origem no próprio partido. “Agora é uma disputa com grande instabilidade institucional; temos a situação de enfrentamento pelo direito de Lula ser candidato; desde 2003, pela primeira vez, não estamos no governo federal”, diz Padilha.
O obstáculo não é uma suposta instabilidade institucional, que não existe, e tampouco as circunstâncias do País. O problema do PT é, sempre foi, ele mesmo. Se a legenda não se emendar, não resta dúvida de que a Lei da Ficha Limpa seguirá atormentando os seus trabalhos e a sua agenda.
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