quinta-feira, 14 de agosto de 2025

PL 2.628/2022 protege crianças nas redes, por Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Precisamos de um arcabouço de regras para que o crime nas redes não compense

Adultização, esse é o termo utilizado pelo influenciador Felca no vídeo viral em que faz um alerta didático contra a exploração de crianças e adolescentes nas redes.

O vídeo é eficaz não só por seu formato —o que ensina muito o poder público e o terceiro setor sobre estratégias capazes de alcançar dezenas de milhões de visualizações. Ele é igualmente eficaz porque tem alvo certo: produtores de conteúdo que exploram crianças e adolescentes nas redes sociais e plataformas que lucram com esse tipo de vídeo.

Exploração de crianças e adolescentes nas redes sociais não é um desvio moral isolado; é um negócio lucrativo para produtores de conteúdo e redes sociais, com a conivência da classe política, que não regula o tema com a contundência que deveria. Aumentar a pena de crimes não é suficiente; deve-se criar um arcabouço de regras e de monitoramento para que o crime nas redes não compense. Nove em dez brasileiros pensam que as empresas não fazem o suficiente para proteger crianças na internet; é isso que o PL 2.628/2022 busca fazer.

Se aprovado, o PL avançará em pontos relevantes para proteger os jovens. O projeto impõe obrigações a empresas para impedir o acesso a materiais ilegais ou prejudiciais, como pornografia; proíbe que publicidade seja direcionada a crianças e adolescentes por meio da análise comportamental e emocional; restringe a promoção de produtos nocivos; determina a transparência sobre uso de inteligência artificial e controle sobre recomendação de conteúdo e protege a privacidade e o controle parental.

Não existe liberdade para explorar crianças e adolescentes nas redes; por isso, aprovar o PL 2.628/2022 é urgente. O tema une parlamentares de direita e esquerda porque apenas cinismo ou mau-caratismo poderiam dar margem a qualquer defesa de promoção de conteúdos nocivos e de exploração sexual de crianças e adolescentes na internet.

No país em que 57 meninas de 10 a 14 anos dão à luz todos os dias e 78% dos estupros são contra vítimas de até 17 anos, proteger crianças e adolescentes dentro e fora das redes é pauta imperativa.

 

 

 

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