domingo, 28 de setembro de 2025

Ratinho e o desarranjo das direitas. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Governador do Paraná é balão de ensaio e boi de piranha, mas atrai adeptos da frente ampla

Direita está em confusão, mas a articulação política ainda é para lançar Tarcísio

Empresários que participam desses jantares políticos ficaram animados com Ratinho Junior, do PSD, governador do Paraná, que nesta semana foi lançado candidato no circuito São Paulo-Brasília. Ratinho por ora é candidato a balão de ensaio e, decerto, a boi de piranha ou a boneco de manobra diversionista das direitas. As direitas precisam desconversar enquanto dão sedativos aos Bolsonaro e tentam esconder Tarcísio de Freitas (Republicanos) enquanto lavam o governador de São Paulo da lama política que ele tem atirado na testa desde o início de julho.

Esses empresários poderiam aderir ao "bolsonarismo de resultados" de Tarcísio: "não tem tu, vai tu mesmo". Mas prefeririam alguém "mais de centro mesmo", que agregasse a elite econômica mais civilizada, de empresas e finança, e quadros e tecnocratas de alto nível, em especial economistas, "que não vão com Tarcísio" (será?). Com Ratinho, seria possível. Tais pessoas e os raros políticos do centro acham que o governador paranaense poderia reunir uma "frente ampla" para tirar votos da esquerda e de antibolsonaristas em geral.

Empresários e finança não decidem nada da política, embora façam lobbies específicos decisivos, concedam votos de louvor e deem mãozinhas ricas, está aí Joesley Baptista e sua conversa com Donald Trump para nos lembrar disso. Ora não há articulação para sustentar Ratinho. PP, parte do União Brasil, Republicanos, parte do PL e, sob certas condições, o PSD estão com Tarcísio.

Mas Tarcísio usou bonezinho MAGA, aceitou o tarifaço Trump-Bolsonaro, desancou a Justiça e apoiou a insurreição permanente da extrema direita -boa parte do dinheiro quer o fim da confusão. O governador queima o filme. Pode ficar com cara de tacho, como boa parte da direita, se Trump chegar a algum acordo com Luiz Inácio Lula da Silva.

O desarranjo intestino da direita é grande. É preciso colocar os Bolsonaro na casinha, mas Eduardo quer ser presidente e líder da extrema direita pura. A família, agregados e parte do PL querem um Bolsonaro ao menos como vice, além de anistia grande, o que bagunça não só negociações presidenciais. Muita gente da direita gostaria de "verticalizar" a eleição, que o bloco tivesse tantas candidaturas únicas quanto possível para governador e senador. Para encrencar, Tarcísio se estranha com Gilberto Kassab, seu secretário de governo e líder do PSD de Ratinho.

Dos candidatos da direita, Ratinho é aquele ora que perde de menos para Lula em um segundo turno, apontam seus amigos na política e no dinheiro. Pesquisa interna de um partido indica que Tarcísio saiu chamuscado nessa temporada em que fez questão de se mostrar vassalo dos Bolsonaro e em que abanou o bonezinho MAGA para Trump.

Foi um trimestre ruim para a direita. Mas convém lembrar que, no final de junho, o governo Lula estava acossado, atropelado no Congresso, atolado nas pesquisas, sob risco de sufoco fiscal agudo etc. Veio o tarifaço e as direitas, felizes como pintos no lixo, chafurdaram na própria sujeira. A baixa do dólar serviu de sedativo para a tensão fiscal e financeira.

A eleição deve ser disputada; o ano que vem será mais difícil na economia; direitas têm interesses e organizações "estruturais", vão durar. Quem conseguir mais votos da "frente ampla" leva vantagem. Tarcísio queima pontes. Por ora, arruma-se uma pinguela para Ratinho, que porém não tem articulação e apoio real dos centrões e direitões.

 

 

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