domingo, 15 de abril de 2018

Luiz Sérgio Henriques*: Populismos e democracia bloqueada

- O Estado de S.Paulo

Nos anos 70 do século passado Enrico Berlinguer, talvez o último grande dirigente do comunismo histórico, extraía para seu país, a conturbada Itália, uma lição advinda da tragédia de Salvador Allende na então distante América Latina. Impossível traçar, dizia Berlinguer, uma estratégia de superação das contradições mais agudas de uma sociedade – qualquer que fosse ela, mas especialmente as sociedades mais desenvolvidas – se a nação estivesse partida, digladiando-se ferozmente em metades inconciliáveis. Não bastaria à esquerda ter 50% mais um dos votos do eleitorado para levar adiante suas propostas: o apoio teria de ser mais amplo, as motivações, mais argumentadas e, particularmente, nenhuma dúvida poderia pairar sobre a obediência estrita das principais forças mudancistas às exigências da democracia política.

Não importa que a História se tenha mostrado bem mais imprevisível do que um político sofisticado como Berlinguer podia admitir com sua generosa estratégia de compromisso entre todos os democratas, muito além dos muros da cidadela da própria esquerda. O dado essencial a ser aqui considerado é que a partir de então, se dúvida havia, nenhuma esquerda podia mais pôr em questão o fato de que, para se credenciar a um papel dirigente, de nada lhe valeria colocar-se fora da dialética democrática em seu sentido mais estrito – a validação dos resultados eleitorais, a legitimação conferida aos adversários, a admissão da alternância no poder. Estratégias ou palavras de ordem inutilmente divisivas seriam pagas com o fracasso dos reformistas ou, pior ainda, com a perda da noção de um terreno comum a todos os cidadãos e definidor dos patamares mínimos de convivência.

O PCI de Berlinguer, a propósito, pisava em campo minado, que não podia ser transposto segundo a perspectiva da época. O sistema estava bloqueado nos termos da guerra fria. Havia o que se convencionou chamar de “sistema de poder” em torno dos democratas-cristãos e tal sistema se reproduziria aparentemente de modo indefinido, produzindo, entre outras coisas, o que os comunistas italianos não hesitavam em chamar de autêntica “questão moral” – e seus críticos viam como moralismo sem alcance estratégico. A ocupação do Estado pelos mesmos partidos, ainda que longe da patologia dos partidos-Estado do Leste Europeu, era causa de degradação dos costumes políticos e administrativos. E não podia prenunciar boa coisa. O bloqueio seria rompido menos pela política partidária do que pela irrupção clamorosa de uma operação judicial inédita até então, a qual, surpreendentemente, reverberaria no Brasil de nossos dias.

A ideia de que nos anos dourados do petismo se estava a gerar algo como um extraordinariamente resistente “sistema de poder” é uma boa pista a explorar. Episódios como o mensalão e o petrolão, entre outros, pareceram obedecer a uma lógica de ocupação numa escala desconhecida em nosso sistema político-partidário, que, diga-se de passagem, nunca se notabilizara pela transparência nos custos de campanha e no financiamento de suas atividades em geral. Havia aqui, como os autos indicam, “tenebrosas transações” entre empresas públicas, dirigentes partidários e grandes companhias privadas, capazes de gerar recursos para campanhas eleitorais com custos fora de qualquer controle – e os inevitáveis desvios colaterais para bolsos privados.

Murillo de Aragão*: Democracia e instituições no Brasil

- O Estado de S.Paulo

Pari passu com o processo de democratização no Brasil temos um processo de institucionalização que corre lentamente, com idas e vindas. A democratização sempre conta com o apoio da mídia e da academia, o que não acontece com a institucionalização. E esse descompasso no tratamento dessas duas questões não tem sido percebido de forma adequada.

A democratização sempre foi vista como um objetivo inexorável e erga omnes a ser atingido pelo País. Já a institucionalização, nem tanto. Qual a razão? Devemos olhar para o nosso passado, tempo em que as relações pessoais eram sempre mais importantes que as relações institucionais.

Mas, ao largo do interesse pontual de se relacionar com os Poderes por meio de conexões pessoais, a fragilidade das instituições no País decorre também da visão esquerdista, uma espécie de software residente da academia e de setores da imprensa para interpretar o Brasil.

O processo de “desinstitucionalizar” o Brasil se dá pelo enfraquecimento das instituições, por sua desmoralização e, também, pelo aplauso ao conflito institucional. Por exemplo, a criação de matérias acadêmicas sobre o “golpe” contra Dilma mostra o viés “desinstitucionalizante” de setores da academia.

Poderiam estudar, por exemplo, a desistitucionalização no governo Dilma, em que ministros eram bypassados por secretários e a hierarquia e o federalismo, repetidamente desvalorizados.

Para os esquerdistas mais obtusos, as instituições estão a serviço das classes dominantes. E quando não estão a serviço do seu projeto de poder (das esquerdas), devem ser fragilizadas. Pois, fortalecidas, favorecem o establishment.

Merval Pereira: Mudança de paradigma

- O Globo

O fortalecimento do Ministério Público nos últimos anos, gerado pela Constituição de 1988, que já provocara controvérsias em situações pontuais como a atuação dos procuradores Luiz Francisco Fernandes de Souza durante o governo Fernando Henrique, considerado um petista disposto a encontrar crimes no governo tucano, e José Roberto Figueiredo Santoro, ligado ao senador José Serra e tido como um tucano de carteirinha, vem ganhando destaque a partir de uma ação mais estruturada do órgão, explicitada de maneira vigorosa a partir do processo do mensalão.

Há um grupo de ministros no Supremo Tribunal Federal (STF), capitaneado por Gilmar Mendes, que se incomoda com esse empoderamento e vê nele o germe de um estado policial. O choque prossegue com a visão do Direito que vem sendo adotada por outros colegas seus, que se permitem interpretar a Constituição, às vezes para alargar seu alcance. O ex-presidente do STF Ayres Britto acha que o ponto de inflexão foi o julgamento do mensalão, que ele presidiu. A partir dali teria sido aberto um caminho para concretizar a máxima de que todos são iguais perante a lei.

Ayres Britto tem uma visão otimista do futuro do país, garantindo que é possível encontrar-se no texto constitucional a solução para todos os problemas que afligem nossa democracia. Um exemplo de como a interpretação da Constituição pode levar a soluções criativas foi a proibição do nepotismo.

O ideal é que houvesse uma lei que proibisse a nomeação de parentes até o terceiro grau para cargo em comissão nos três Poderes. Na falta da lei, Ayres Britto interpretou a Constituição para dizer que os princípios da moralidade administrativa e da impessoalidade impedem o nepotismo. É uma visão que utiliza um pouco mais os princípios constitucionais para produzir os resultados que a sociedade demanda.

Míriam Leitão: O inferno são os outros

- O Globo

O senador Aécio Neves pediu dinheiro a um empresário que confessou comprar parlamentares e avisou que a encomenda teria que ser carregada por alguém “que a gente mata antes de fazer delação". É difícil imaginar prova mais clara, e mortal, de obstrução de Justiça. O ex-governador Geraldo Alckmin recebeu em espécie, e não declarou, R$ 10 milhões da Odebrecht, mas responderá apenas na Justiça Eleitoral.

O ex-presidente do PSDB, ex-governador de Minas e ex-senador Eduardo Azeredo está nas raízes do primeiro escândalo de corrupção da nova safra. Ele fez em Minas o rascunho do que viria depois a ser o mensalão. A mesma engenharia financeira, o mesmo Marcos Valério, a mesma SMP&B, o mesmo Banco Rural. Foi condenado a 20 anos e o tempo corre contra a execução da pena. Ele tem abusado da patologia recursal brasileira, e com sucesso.

Aécio Neves está solto e exercendo seu mandato. O Supremo decidiu que o Senado poderia anular a ordem do próprio Supremo de suspensão do mandato. No caso de Alckmin, a decisão da Procuradoria-Geral da República de enviar o caso à Justiça Eleitoral porque há “só” caixa dois, e é “prática comum em caixa dois a entrega do numerário em espécie”, nas palavras do subprocurador-geral, revoga tudo que o país aprendeu com a Lava-Jato. Quase todos os acusados disseram que seus casos eram “só” de caixa dois, mas normalmente isso está conectado a outros delitos. Dinheiro em espécie entregue pela notória Odebrecht é indício de lavagem.

Bruno Boghossian: Congestionamento

- Folha de S. Paulo

Ex-presidente do Supremo larga com bom desempenho em bases eleitorais tucanas

A chegada de Joaquim Barbosa (PSB) à corrida presidencial congestiona ainda mais o caminho que Geraldo Alckmin (PSDB) esperava percorrer na disputa deste ano. O último levantamento do Datafolha revela que, na largada, o ex-presidente do STF ocupa parte do eleitorado que foi a base política dos tucanos por duas décadas.

Estagnado nas pesquisas, Alckmin já observava os avanços de outros rivais sobre votos que considerava cativos. Jair Bolsonaro (PSL) agarrou os grupos antipetistas e eleitores mais ricos. Alvaro Dias (Podemos) abriu vantagem na região Sul.

Agora, Joaquim Barbosa firma suas bases em territórios que o PSDB esperava atacar para impulsionar seu candidato. O ex-ministro do Supremo apareceu com 17% das intenções de voto entre eleitores com curso superior, logo atrás de Bolsonaro. Enquanto isso, Alckmin patina nesse segmento, com apenas 6%.

O juiz do mensalão também rouba votos em tradicionais redutos geográficos e urbanos do tucanato. Nas grandes cidades, tem 12% contra 6% do pré-candidato do PSDB. No Sudeste, Barbosa marca 11%, empatado com o ex-governador de São Paulo.

Eliane Cantanhêde: Sempre pode piorar

- O Estado de S.Paulo

Seja quem for o futuro presidente, vai ficar nas mãos do balcão e do Centrão

O que está ruim sempre pode piorar, e essa máxima se adapta à perfeição às eleições para o Congresso em outubro. Enquanto o número de presidenciáveis cresce vertiginosamente, o maior perigo ganha corpo em outra frente, a eleição de deputados e senadores, com o risco real de os Estados despejarem em Brasília os tipos mais estranhos – e mais gulosos das verbas e benesses públicas.

Sem financiamento privado oficial e com financiamento público restrito, os partidos maiores, PT, MDB e PSDB, tendem a investir o máximo nos seus candidatos ao Planalto, mas os do Centrão, como PP, PSD e PR, se concentram em fazer bancada no Congresso e ganham o reforço do DEM, o partido que mais cresce.

O que significa? Qualquer que seja o futuro presidente da República a partir de janeiro de 2019 vai ficar ainda mais nas mãos do Centrão, que já pinta, borda e cobra caro faz tempo e se tornou praticamente dono do Congresso após as duas denúncias da PGR de Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer.

Vera Magalhães: O fim de uma era

- O Estado de S.Paulo

Prisão de Lula e desgaste do PSDB encerram polarização de duas décadas na política

Durante duas décadas, de 1994 a 2014, a política brasileira viveu uma polarização entre PT e PSDB. Nas seis eleições presidenciais que ocorreram neste intervalo, não havia nem discussão: partidos de esquerda se aglutinavam em torno do PT, sob os auspícios de Lula, e a centro-direita se agrupava em torno do PSDB. E houve, sempre, um bloco que oscilava entre um e outro, de acordo com o soprar do vento eleitoral. Esta era acabou.

Com a prisão de Lula e o desgaste que se abateu também sobre o PSDB na segunda fase da Lava Jato, ainda que os dois partidos consigam repetir em outubro o segundo turno que disputaram desde 2002, a polarização não é mais evidente nem as formações de blocos serão tão simples.

Nenhuma das duas siglas parece se dar conta com clareza de que a hegemonia que exerceram não existe mais. Lula está preso, o PT não tem quem o substitua, mas ainda assim hesita em buscar de forma mais sistemática (e humilde) uma aliança de centro-esquerda que permita ao partido tentar virar o disco riscado do “golpe” e almejar algum futuro.

Da mesma forma, o PSDB parece aquele rico quatrocentão que já perdeu tudo, hipotecou a mansão, penhorou as joias, não é convidado para os jantares do jet set, mas não perde a pompa.

Geraldo Alckmin patina nas pesquisas. Pior: não consegue encaixar um discurso que empolgue eleitores, potenciais aliados e nem mesmo seus correligionários. Insiste em “jogar parado”, com uma certeza fundada no passado de que DEM, PSD e outros satélites acabarão se juntando à sua coalizão por alguma força divina ou da natureza.

Acontece que tudo conspira para que os partidos deixem seus balões de ensaio de candidatura própria no ar por mais tempo em 2018: o raquitismo de Alckmin nas pesquisas, a falta de grana dos grandes partidos para atrair os menores com promessas de rachar as campanhas e o calendário que empurrou as convenções para depois da Copa da Rússia.

Ricardo Noblat: Joaquim é o novo

- Blog do Noblat

Te cuida, Bolsonaro!

Espreme daqui, espreme dali, e são poucas as surpresas colhidas pela mais recente pesquisa de intenção de votos do Instituto Datafolha revelada nesta madrugada. A saber:

# O novo é Joaquim Barbosa;

# Marina Silva está bem à beça;

# Sem Lula no páreo, Bolsonaro não irá a lugar algum.

O juiz do mensalão filiou-se ao PSB há menos de 15 dias. Sem a garantia sequer de que será o candidato do partido à sucessão do presidente Michel Temer.

Mas bastou para mostrar que poderá ir longe. Nas grandes cidades, tem 12% das intenções de voto contra 6% de Geraldo Alckmin, candidato do PSDB. Empata com Alckmin no Sudeste.

Alckmin, Marina e Ciro Gomes já foram candidatos a presidente. Barbosa jamais disputou eleição, nem mesmo para síndico de prédio. Por ser negro, Lula o indicou para ministro do Supremo.

Com Lula preso e impedido de concorrer, Marina empata com Bolsonaro nas simulações de primeiro turno. E no segundo turno, vence Alckmin (por 27 pontos) e Bolsonaro (por 13 pontos).

Acendeu a luz vermelha no bunker de Bolsonaro, agora denunciado por crime racial. Ele corre o risco de até agosto, antes do início oficial da campanha, ser ultrapassado por Marina, Ciro e Barbosa.

Como o PT, Bolsonaro é também luladependente. Carece de apoio entre os maiores partidos. E seu tempo de propaganda no rádio e na televisão será ínfimo.

Alckmin vai como sempre, se arrastando e represado onde poderia ir bem pela candidatura de Álvaro Dias, do PODEMOS, que lhe subtrai algo como uns cinco milhões de votos no Sul.

Os dois aspirantes a substituir Lula como candidato, Fernando Haddad e Jaques Wagner, por ora patinam no fim da fila. Torcem para que Lula não seja esquecido e possa abençoar um deles.

Sim, em tempo: no país da jabuticaba, mais uma foi inventada – a de se testar em pesquisa as chances de quem está preso e não será candidato.

Lula perdeu parte dos votos que tinha na pesquisa anterior, de janeiro. Passou para 62% o percentual dos que não acreditam que ele será candidato. Sua prisão é considerada justa por 54%. Já era.

Luiz Carlos Azedo: Como um vídeo game

- Correio Braziliense

O clima de “guerra fria” é ainda mais perigoso porque as guerras, cada vez mais, precisam de menos soldados e mais tecnologia, apesar das crises humanitárias que provocam

O ataque combinado dos Estados Unidos, Inglaterra e França, principais potências do Tratado do Atlântico Norte, a supostos depósitos e uma fábrica de armas químicas da Síria, nos subúrbios de Damasco e na cidade de Horms, sexta-feira à noite, foi anunciado pelo presidente Donald Trump na semana passada pelo Twitter, como quem desafiava o presidente russo Vladimir Putin para uma partida de vídeo game. O motivo foi um suposto ataque do governo Sírio com armas químicas na cidade de Duma, em 7 de abril. O regime sírio nega o uso dessas armas, que são proibidas por convenções da ONU.

Os mísseis foram lançados por volta das 22h, durante o pronunciamento de Trump na Casa Branca. A ação foi apoiada pela premiê britânica Theresa May e pelo presidente francês Emmanuel Macron, que ligou para o presidente russo Vladimir Putin para explicar que o ataque foi “restrito a capacidades do regime sírio de armas químicas”. Os sistemas de defesa da Síria atingiram 13 mísseis em Al Kiswah, nos subúrbios de Damasco, mas não conseguiram evitar a destruição de suas instalações militares. A Rússia afirmou que a defesa antiaérea síria interceptou 71 mísseis, mas o Departamento de Defesa dos EUA garante que nenhum dos 105 mísseis disparados sofreu interferência.

Como em toda guerra, há choque de versões. As primeiras avaliações são no sentido de que a ação foi calculada para evitar uma reação militar da Rússia, aliada do governo do presidente sírio Bashar al-Assad. O presidente russo solicitou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU e aparentemente assimilou o golpe. Mas suas boas relações com o Trump foram para o espaço: “A Rússia precisa decidir se continuará nesse caminho sombrio ou se se unirá aos países civilizados como uma força de estabilidade e paz. Com esperança um dia nos daremos bem com a Rússia e talvez até com o Irã, mas talvez não”, disse o presidente norte-americano, que é investigado por suposto envolvimento com a Rússia na campanha eleitoral em que derrotou a democrata Hilary Clinton.

Putin acusa as três potências ocidentais de armarem uma grande farsa e sustenta que o suposto ataque químico é uma encenação patrocinada pelos serviços secretos britânicos. O contencioso vem numa escalada, desde a tentativa de envenenamento de um ex-espião russo na Inglaterra. A diplomacia russa compara a acusação àquela que motivou a invasão do Iraque, no regime de Saddam Hussein. Nunca se comprovou a existência de armas químicas, denúncia dos serviços secretos britânicos. Entretanto, o mais provável é que a reação russa seja semelhante às de outras crises: aproveitará a situação para reforçar sua presença militar, como aconteceu na Crimeia e na região ucraniana de Donets, que foram anexadas à federação Russa.

A eleição sem Lula: Editorial | Folha de S. Paulo

Após prisão do ex-presidente, cenário da corrida ao Planalto segue fragmentado

A maioria dos eleitores não acredita que Luiz Inácio Lula da Silva (PT)vá disputar a corrida presidencial. Não era assim em janeiro, antes da prisão do ex-mandatário.

Tal evolução, contudo, não contribuiu para clarear ou alterar sobremaneira a disputa entre os demais pré-candidatos.

Na nova pesquisa do Datafolha, 62% entendem que Lula está fora do pleito, crença de 43% dos entrevistados há pouco mais de dois meses. Expressivos 40% consideram seu encarceramento injusto, mas uma maioria de 54% o aprova.

Essa ambivalência se reflete nas intenções de voto no petista, que ainda lidera a pesquisa, com 30% ou 31% das preferências.

Na sua ausência, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) aparece à frente em qualquer cenário, sempre com 17%, tecnicamente empatado com Marina Silva (Rede), que tem 15% ou 16%.

A ex-senadora e Ciro Gomes (PDT) são os que mais crescem quando Lula não está na cédula. O pedetista divide o terceiro lugar com Joaquim Barbosa (PSB) e Geraldo Alckmin (PSDB).

Competência e honestidade: Editorial | O Estado de S. Paulo

Ainda que por vias às vezes dramáticas, tem crescido no País a percepção a respeito do papel decisivo do voto para o encaminhamento do futuro da Nação. Não será a Lava Jato, ou qualquer outra operação policial, por mais que contribua para o saneamento moral das instituições, que colocará o País nos trilhos do desenvolvimento econômico e social. Fica cada vez mais claro que essa responsabilidade cabe ao eleitor, na sua tarefa de escolher bem seus representantes.

Seria equivocado, no entanto, entender que a responsabilidade do eleitor atenua, de algum modo, a responsabilidade que os candidatos e os partidos políticos têm em relação ao bom funcionamento do sistema político. Justamente porque o destino do País é decidido nas urnas, os políticos - todos aqueles que almejam conquistar um cargo eletivo no Executivo ou no Legislativo ou pretendem se dedicar à vida pública - e suas legendas têm responsabilidade fundamental no processo de construção e desenvolvimento da Nação.

E como se manifesta essa responsabilidade? O que os brasileiros podem e devem esperar dos políticos? Uma primeira condição é que sejam pessoas que cumpram exemplarmente a lei. Gente que anda na calçada do crime não serve para cuidar dos assuntos públicos. Sendo um requisito fundamental, só a honestidade não basta. É preciso um firme compromisso com as reformas de que o País tanto necessita. Por exemplo, não cabe político insinuando que a reforma da Previdência pode esperar. Menos ainda cabem aqueles que debandam acintosamente para o embuste, dizendo que não existe déficit nas contas da Previdência. É de esperar que quem deseja assumir postos públicos tenha a honradez de não fugir das questões públicas espinhosas. Sua função é exatamente enfrentar com destemor tais desafios. Há uma pauta de reformas urgentes à espera de braços que as promovam de forma corajosa, transparente e madura.

Inflação abre uma janela de oportunidade: Editorial | O Globo

A conjugação de vários fatores cria uma trégua rara nos preços, sem artifícios, o que dá uma chance para governantes retomarem a imprescindível agenda de reformas

País sinônimo de inflação elevada, o Brasil passa por uma experiência pouco vivenciada por gerações que ainda estão em atividade. Inflação anual de 2,68%, medida pelo IPCA, é absoluta novidade em muito tempo, se não considerarmos índices atingidos em planos que não se sustentaram, como o Cruzado. No Real, plano de estabilização com base mais sólida — faltou um ajuste fiscal bem calibrado —, houve inflação comparável. A do mês passado, de insignificante 0,09%, foi a mais baixa para o mês desde 1994, ano do Real. Mas hoje há a enorme diferença de que inexiste choque, como também em 1994, nem congelamento de preços e outras heterodoxias de fôlego curto. O Brasil foi laboratório de vários desses truques que só funcionam por um tempo. No máximo, o governante pode alongá-los para ganhar uma eleição, como o PMDB de Sarney e Ulysses fez no Cruzado, em 1986.

A inflação, que há dois anos estava na faixa perigosa dos dois dígitos, veio caindo sem atos de “vontade política”, nenhuma ação dirigista sobre a Petrobras, para forçá-la a congelar os preços dos combustíveis — como fez a “desenvolvimentista” Dilma Rousseff e abriu um rombo bilionário na estatal, que se somou ao provocado pela corrupção lulopetista na empresa.

A inflação caiu pelo manejo competente da política monetária do BC de Ilan Goldfajn, ajudado por ótimas safras agrícolas consecutivas e pela recessão profunda, a maior da história, de mais de 7%, com 14 milhões de desempregados, do biênio 2015/16. Assim, foram paralisados mecanismos de indexação da economia. Mas eles estão apenas desativados. Se velhos erros forem cometidos, voltarão a funcionar, jogando para o futuro a inflação do passado. Uma desgraça bem brasileira.

Preso, Lula perde votos; sem ele, Marina sobe e alcança Bolsonaro

Prisão enfraquece Lula e põe Marina perto de Bolsonaro, diz Datafolha

O pedetista Ciro Gomes aparece empatado com Geraldo Alckmin(PSDB) e o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa

Ricardo Balthazar| Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A prisão diminuiu o apoio do eleitorado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), aumentou a desconfiança sobre a viabilidade de sua candidatura presidencial e manteve indefinida a disputa pelo seu espólio eleitoral, de acordo com o Datafolha.

Pesquisa nacional realizada pelo instituto na semana passada aponta o líder petista com 31% das intenções de voto no cenário mais favorável entre nove pesquisados. No fim de janeiro, quando o levantamento anterior do Datafolha foi concluído, Lula tinha até 37% das preferências.

A nova pesquisa foi feita entre quarta (11) e sexta-feira (13). Foram realizadas 4.194 entrevistas em 227 municípios. Como os cenários pesquisados são diferentes dos analisados em janeiro, a comparação direta entre os dois levantamentos não é possível.

O PT diz manter a intenção de registrar a candidatura de Lula, preso no sábado (7) para cumprir pena por corrupção e lavagem de dinheiro. Apesar do veto imposto pela Lei da Ficha Limpa à candidatura, a legislação permite que ele peça registro mesmo preso. Cabe à Justiça Eleitoral analisar o pedido.

Nos cenários com Lula fora do páreo, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) e a ex-senadora Marina Silva (Rede) aparecem empatados na liderança. Ele tem 17% das intenções de voto, e ela oscila entre 15% e 16%. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) alcança 9% em todos os cenários sem Lula, empatado com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que varia de 7% a 8%, e o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, que entrou no PSB, mas ainda não se lançou candidato. Barbosa oscila entre 9 e 10%.

Marina, Ciro e Alckmin concorreram em eleições presidenciais anteriores e são bem conhecidos pelos eleitores. Barbosa nunca disputou uma eleição, mas ganhou notoriedade pela forma como conduziu o julgamento do mensalão no STF, em 2012.

Menos conhecidos do eleitorado, os dois nomes cotados no PT para substituir Lula se ele desistir da candidatura têm desempenho fraco. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad aparece com 2% e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner tem 1%.

Os dois candidatos de esquerda que ficaram ao lado de Lula nas horas que antecederam sua prisão têm resultados parecidos. Manuela D’Ávila (PC do B) atinge no máximo 2% e Guilherme Boulos (PSOL) chega a 1%.

O presidente Michel Temer (MDB), que acena com a possibilidade de concorrer à reeleição, alcança 2% das intenções de voto. O ex-ministro Henrique Meirelles, que entrou no MDB e também tem aspirações presidenciais, não passa de 1%. .

Ciro e Marina herdam votos de Lula, mas perdem para indecisos

Ex-ministros se beneficiam, mas 1/3 de lulistas diz não ter candidato sem petista

Ricardo Balthazar | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Dois de cada três apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizem que certamente votariam num candidato indicado por ele se o líder petista ficar fora da corrida presidencial, segundo a pesquisa do Datafolha.

Mas um terço dos eleitores lulistas se declararam sem candidato quando se viram diante das opções oferecidas nos cenários em que o ex-presidente não participa da eleição. Eles preferem votar em branco, ou anular o voto, em vez de escolher outro nome.

O levantamento do Datafolha mostra que a influência de Lula sobre o eleitorado continua grande, mesmo após sua prisão, que tornou mais remota a possibilidade de sua candidatura vingar.

Quase metade dos eleitores se declara disposta a votar em alguém apoiado por Lula: 30% dizem que o fariam certamente e 16% talvez. Entre lulistas, 66% votariam no indicado pelo ex-presidente com certeza e 21% talvez.

Entre os nomes lançados na disputa eleitoral, os que mais se beneficiam com a ausência do líder petista são a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que foram ministros de Lula, mas se distanciaram muito do PT nos últimos anos.

Marina alcança no máximo 20% dos votos lulistas nos cenários em que o ex-presidente é substituído por um dos dois nomes cotados no PT para assumir a vaga, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner.

Maioria vê como justa prisão de ex-presidente

Opinião é de 54% dos eleitores ouvidos pelo Datafolha; 40% discordam

José Marques | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A prisão do último dia 7 foi justa e o ex-presidente Lula não irá disputar a eleição ao Planalto este ano, avalia a maioria das pessoas ouvidas na última pesquisa Datafolha.

Os entrevistados, no entanto, se dividem quando questionados se Lula deveria concorrer à eleição ou ser impedido de fazer campanha à Presidência.

Esta é a primeira pesquisa feita após o petista ter iniciado o cumprimento de sua pena na sede da Polícia Federal em Curitiba.

Segundo o levantamento, 54% das pessoas veem a prisão de Lula como justa, contra 40% que consideram o contrário. Seis por cento não opinaram.

Houve uma reversão, entre janeiro e abril, da quantidade de pessoas que acreditam que Lula poderá concorrer. Hoje, para 62% dos brasileiros, o ex-presidente não estará nas urnas na eleição de outubro.

Em menor quantidade, se dividem os que consideram que “com certeza” ele participará das eleições (18%) e os que pensam que “talvez” (16%).

Alckmin deixa governo paulista com aprovação de 36%

Presidenciável tucano se recuperou de má avaliação de 2015, mas índice é tímido se comparado com 66% de popularidade de 2006

Bruno Boghossian | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Geraldo Alckmin (PSDB) deixou o governo de São Paulo com índice de aprovação de 36%, segundo pesquisa do Datafolha realizada após sua renúncia para disputar a Presidência. Entre os eleitores paulistas, 40% classificam sua gestão como regular e 22%, como ruim ou péssima.

O tucano encerra seu mandato e entra em uma campanha nacional em condições mais desfavoráveis do que aquelas que apresentava em 2006, quando renunciou para se candidatar ao Palácio do Planalto pela primeira vez.

Ao deixar o governo de São Paulo naquele ano, Alckmin tinha aprovação de 66% dos eleitores do estado. Só 6% classificavam sua gestão como ruim ou péssima. Na disputa presidencial, ele foi derrotado pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva.

Os índices atuais do tucano variaram pouco em relação ao levantamento anterior, de dezembro, quando 34% dos eleitores consideravam seu governo ótimo ou bom e 25% classificavam a gestão como ruim ou péssima.

Os números, porém, consolidam uma curva de leve recuperação da popularidade de Alckmin desde que sua popularidade despencou em 2015, primeiro ano de seu último mandato. Na ocasião, o tucano enfrentava os reflexos da crise hídrica paulista e protestos contra um plano de remodelação do sistema público de educação. Em pouco mais de um ano, a avaliação positiva de seu governo caiu de 48% para 28% e a reprovação subiu de 17% para 30%.

Eleitor-pêndulo aumenta após prisão de Lula

Grupos extremos, tanto contrários como favoráveis ao ex-presidente, caem em pesquisa e voto menos radical cresce

Mauro Paulino e Alessandro Janoni | Folha de S. Paulo

Um resultado que bem representa o impacto da prisão de Lula (PT) sobre o cenário eleitoral deste ano está nos dados da primeira pergunta aplicada pelos pesquisadores do Datafolha junto aos eleitores brasileiros na última semana. Nas respostas espontâneas, sem o estímulo do cartão que contém os nomes dos candidatos, menções ao ex-presidente caem quatro pontos percentuais em relação ao levantamento de janeiro.

No entanto, os demais candidatos não crescem —oscilações são observadas dentro da margem de erro e a grande maioria dos entrevistados não cita nomes. Dentre eles, 21% dizem que votarão em branco ou nulo, um patamar inédito em pesquisas eleitorais a seis meses do pleito.

A tendência se repete nas intenções de voto estimuladas, com a apresentação dos candidatos. Os brancos e nulos, sem Lula na disputa, são mais citados do que os líderes Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede). Onipresentes nas manifestações contra a prisão do petista, apresentados pelo ex-presidente como seus herdeiros, Manuela D´Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL) não ultrapassam, por enquanto, 3% das menções cada. Também as alternativas “caseiras”, Fernando Haddad e Jaques Wagner não se saem melhor.

Os resultados das perguntas sobre o primeiro turno não permitem comparações com os da pesquisa de janeiro porque os cenários testados são diferentes, com inclusão de novas candidaturas e exclusão de outras. O patamar mais baixo de Lula nas intenções de voto sugere, mais do que arranhões à sua imagem, a percepção da maioria do eleitorado sobre sua provável inelegibilidade e consequente impugnação de sua candidatura.

Eleitores de Bolsonaro dizem o que pensam

A verborragia de Jair Bolsonaro sobre temas polêmicos ganha eleitores e também os afasta. Com pautas que até mesmo violam princípios básicos da Constituição, os que declaram voto no deputado e os que o rejeitam explicam suas crenças.

Crença no extremo

Quais são as principais ideias que fazem eleitores apoiarem, e também rejeitarem, Bolsonaro

Igor Mello | O Globo

Líder nas pesquisas nos cenários em que o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva fica fora da disputa presidencial, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) tem nas declarações polêmicas e extremadas a principal arma para conquistar seus eleitores. Sua verborragia sobre temas como Segurança Pública, combate à corrupção, defesa dos valores conservadores e combate à esquerda tem conseguido manter uma base eleitoral: homens, jovens, de classe média.

Por outro lado, as declarações que, em muitos casos, confrontam a Constituição, resultam em forte rejeição de um terço do eleitorado e problemas na Justiça, como a denúncia feita anteontem pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, por racismo.

Esses temas aglutinam eleitores com perfis ideológicos e prioridades diferentes. Entram aí os que defendem medidas de força no enfrentamento à violência, resumida pelo bordão “bandido bom é bandido morto”, repetido com frequência por Bolsonaro. Outro grupo é formado por jovens com nível universitário que defendem ideias liberais e valores conservadores. Há os de classe média antipetistas. Religiosos também têm aderido à candidatura de Bolsonaro por sua postura contrária ao casamento homoafetivo, ao aborto e à inclusão de temas relacionados à educação sexual e ao respeito à diversidade nas escolas, rotulado por eles como “ideologia de gênero”.

Diretor do Datafolha, Mauro Paulino afirma que o discurso ligado à Segurança Pública é o principal trunfo de Bolsonaro. O tema, segundo ele, virou a marca do candidato do PSL.

Para tentar decolar, Alckmin mira Bolsonaro e Ciro Gomes

Em Goiás, tucano busca reconquistar ruralistas na pré-campanha

Maria Lima | O Globo

VERDE (GO)- Logo na entrada de Rio Verde, polo do agronegócio no sudoeste de Goiás, um enorme outdoor exibe foto do deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) com os dizeres “Eu apoio político honesto”. O cenário revela que o pré-candidato presidencial virou o queridinho dos empresários rurais que “não aguentam mais” ter as terras invadidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), como diz Ênio Fernandes, presidente do Conselho de Desenvolvimento da região.

Foi nesse terreno minado pelo bolsonarismo que o précandidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, escolheu para dar a largada, na última sexta-feira, na corrida para tentar deslanchar sua campanha. Até junho, precisará mostrar densidade e fazer alianças com partidos de peso. Na última semana, começou a montar sua equipe de campatucanos, nha. Para conseguir chegar ao segundo turno, a estratégia é partir, desde já, para o confronto com dois grandes concorrentes: Jair Bolsonaro e Ciro Gomes (PDT).

Na Feira do Agronegócio Tecnoshow, em Rio Verde, Alckmin tentou convencer ruralistas de que, em vez de promessas e discurso, ele tem o que mostrar. Segundo Ênio Fernandes, um dos cicerones do encontro, Bolsonaro foi quem primeiro prometeu que as invasões do MST serão enfrentadas com energia. Na sua exposição, Alckmin disse que o Brasil precisa de segurança jurídica e de Segurança Pública. Provocou Bolsonaro e disse que, entre falar e fazer, há um abismo. Ao responder à cobrança dos ruralistas, explicou como trata o problema das invasões em São Paulo:

Preso, Lula continua a travar união da esquerda

Discurso contra prisão atrai Boulos e Manuela, mas afasta Ciro Gomes

Catarina Alencastro | O Globo

BRASÍLIA - Ao iniciar o cumprimento da sua sentença de prisão, o ex-presidente Lula não foi sozinho para a cadeia. Levou consigo para dentro da cela também, metaforicamente, o comando do PT, que até se transferiu de São Paulo para Curitiba. Com isso, continua a embaralhar os rumos do petismo e dos partidos de esquerda, assim como as discussões para a formação de uma frente com um candidato único — mesmo que a ideia tenha sido defendida pelo ex-ministro Jaques Wagner.

No último discurso antes de se entregar, Lula foi claro em dizer que quem manda no PT é ele, e assim continuará a ser. Lula idealizou uma estratégia que confunde o destino eleitoral do PT e das esquerdas com a própria sorte. Em seguida à prisão do ex-presidente, o PT, sob o comando da senadora Gleisi Hoffmann (PR), uma aliada incondicional de Lula, passou a empunhar a bandeira do “Lula Livre”, com o discurso de que a democracia está em risco.

Ao mesmo tempo em que continua a travar o debate interno no partido, esse discurso atrai o apoio dos candidatos minoritários da esquerda, como Guilherme Boulos, do PSOL, e Manuela D‘Ávila, do PCdoB, mas afasta o PDT de Ciro Gomes e o PSB de Joaquim Barbosa. Boulos e Manuela estiveram ao lado de Lula no palanque em São Bernardo, protestaram em Curitiba e partiram em viagens com o slogan de “Lula Livre”, com o qual esperam colher apoio popular. Ambos dizem concordar com o PT quanto aos riscos que a prisão de Lula representaria para o pleno funcionamento das instituições brasileiras.

Sem regras, pré-campanha se transforma em vale tudo

Presidenciáveis ignoram prazo da legislação eleitoral e, sem fiscalização, viajam e participam de atos pelo País

A maioria dos pré-candidatos à Presidência da República tem ignorado os prazos legais determinados pela Justiça Eleitoral e colocado suas campanhas na rua sem qualquer fiscalização. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estipula a data de 16 de agosto para o início oficial do período no qual é permitido fazer propaganda eleitoral. Esse mesmo calendário, no entanto, não prevê regras para a fase de pré-campanha, o que abre brecha para os concorrentes montarem estruturas profissionais de marketing, usarem jatinhos (ou cota parlamentar para pagar passagens) e participarem de atos pelo País sem ter de prestar contas. A seis meses da eleição – que neste ano terá 35 dias de propaganda eleitoral na TV –, o ex-presidente condenado Lula, preso na Lava Jato e inelegível pela Lei da Ficha Limpa, e o deputado Jair Bolsonaro (PSL) foram os que mais tiveram contato com eleitores.

Sem regras, pré-campanha vira ‘vale tudo’ eleitoral

Adriana Ferraz, Pedro Venceslau | O Estado de S. Paulo.

Na primeira eleição presidencial com 35 dias de propaganda eleitoral na TV e no rádio, a maioria dos pré-candidatos ao Palácio do Planalto tem ignorado os prazos legais e colocado suas campanhas na rua sem qualquer fiscalização ou prestação de contas. Nesse vale tudo eleitoral, os concorrentes só não têm pedido voto, o que, na prática, não impede a exposição de seus projetos e até mesmo a realização de comícios, caravanas e anúncios em outdoors. E sem levar em conta o teto de gastos, de R$ 70 milhões.

A antecipação informal da campanha vai contra a determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que estipula a data de 16 de agosto para o início oficial do período no qual os concorrentes podem fazer propaganda eleitoral nas ruas e na internet. O mesmo calendário, no entanto, não estipula regras para a fase de pré-campanha, o que abre brecha para os postulantes montarem estruturas profissionais de assessoria e marketing, usarem jatinhos (ou cota parlamentar para pagar passagens) e participarem de atos eleitorais.

A menos de seis meses da eleição, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSLRJ) foram os pré-candidatos que até aqui mais tiveram contato com os eleitores em eventos públicos que nada diferem dos realizados na campanha oficial.

O PT ainda afirma manter a candidatura de Lula, mas ele, além de preso, está inelegível conforme a Lei da Ficha Limpa. Nas caravanas que fez pelo País, a equipe de Lula, por exemplo, contou com um aparato profissional, formado por seguranças, assessores, fotógrafos, políticos, técnicos para montagem de palco e som e transporte assegurado por ônibus e aviões fretados. No dia em que foi preso, 7 de abril, o petista ainda discursou por 55 minutos do alto de um carro de som.

Vinicius Torres Freire: 2018, uma eleição de nanicos

- Folha de S. Paulo

Líderes tem poucos votos e alianças ainda estão indefinidas para o pleito

O que nos diz o Datafolha deste domingo (15) quando se lê a pesquisa eleitoral de baixo para cima? Sim, há interesse em saber a quantidade de votos que leva o conjunto dos nanicos e de votos que não vão para candidato nenhum.

Com a defenestração de Lula da Silva, esta é a corrida presidencial em que o líder da pesquisa tem a quantidade mais nanica de votos, menos do que na pulverizada disputa de 1989, com a qual esta eleição se parece. Como de resto a campanha não começou, na verdade nem se organizou, se pode dizer que a refrega ainda está muito aberta.

Considere-se a votação dos ora nanicos, aqueles que têm 2% ou menos na pesquisa, entre os quais candidatos que devem cair pelas tabelas até a metade do ano. Somados, os seus votos dão cerca de 11% (nos cenários em que Lula não aparece). Esse Leviatã feito de nanicos estaria em terceiro lugar, atrás de Jair Bolsonaro (PSL), que tem 17%, e de Marina Silva (Rede), 15%.

Os votos em branco ou em ninguém somam 23% do total. Quando não se apresenta uma lista de candidatos aos entrevistados, 46% dos eleitores dizem que não sabem em quem votar.

Os nanicos, votos brancos e nulos somam por ora 34% do total, portanto. Mudanças de humor nessa massa de eleitores podem provocar revertérios em uma corrida em que as diferenças de votação são mínimas.

Samuel Pessôa: Nova lei de introdução às normas do direito

- Folha de S. Paulo

Novos artigos requerem que decisões de órgãos de controle sejam embasadas

Encontra-se para sanção presidencial o PL (projeto de lei) nº 7.448. O PL adiciona 11 artigos à lei que regulamenta a aplicação das leis, a chamada Lei de Introdução às Normas do Direito.

Os 11 artigos foram discutidos no Senado de junho de 2015 até março de 2017, tendo sido aprovados com diversas emendas após audiências públicas. O PL tramitou na Câmara de março de 2017 até abril de 2018.

Uma das características importantes da construção democrática brasileira foi o fortalecimento, com grande independência, dos órgãos de controle do Estado. Instituições como TCU (Tribunal de Contas da União) e Ministério Público Federal adquiriram forte protagonismo. Certamente a Operação Lava Jato não ocorreria sem essas instituições.

O Brasil tem muito a avançar na gestão e na avaliação das políticas públicas. A aplicação do mesmo rigor sobre os próprios órgãos de controle deve ser esperada.

Os novos artigos sobre nossa norma das normas requerem que as decisões dos órgãos de controle sejam adequadamente embasadas e justificadas. Alguns têm se manifestado contra a lei, argumentando que isso restringe a sua atuação. Em parte, é verdade. Ela restringe as ações sem fundamentação adequada.

Isso não afeta os bons controladores, mas realmente restringe as análises mal fundamentadas, para o bem do país.

Cacá Diegues: A pedra perdida

- O Globo

A sociedade brasileira de brancos segue atirando pedras nas cabeças de desempregados e necessitados que, não tendo como reagir, apostam naqueles que têm pior pontaria

O Estado Novo de Getúlio Vargas, de 1937 a 1945, assim como a ditadura militar de 1964 a 1985, foram duas formas de vandalismo político. E, no entanto, Vargas sempre foi (e continua sendo) um herói popular, consagrado e seguido mesmo depois de sua morte, em 1954. Por outro lado, muita gente hoje pede a volta dos militares, mesmo que não tenham coragem de pedir expressamente a volta da ditadura. E o Bolsonaro não é o único a professar esse projeto.

Nós, brasileiros, nunca tivemos mesmo um padrão de reconhecimento em relação ao que nos acontece politicamente, agimos sempre no espaço entre um certo sentimentalismo mágico e aquilo que nos dizem com mais convicção dramática.

Converso com as pessoas nos botequins e na rua, ouço os taxistas com sincera atenção, leio as pesquisas de opinião que procuro entender. E não vejo nenhuma vontade de novidade política no que me dizem ou me mostram. Nenhuma vontade real de mudança. Os mais citados são sempre os mesmos ex-presidentes ou ex-governadores, os políticos ou ex-políticos que não almejam mais nada de diferente em suas vidas. Se continuarmos assim até outubro, vamos novamente viver de tosca esperança por mais quatro anos. Vãs esperanças.

Entre intelectuais e ideólogos, todos querem o centro que nos conforta e bloqueia o sobressalto. O centro da esquerda vai de um populismo de cordel para esquecer os anos desastrosos de Dilma, até as análises sofisticadas de impotência que justificam um certo muro. O centro da direita passou a agir, em vez de apenas observar por trás das cortinas, como era seu hábito. Mas, ainda assim, se divide entre o militar sem uniforme e volta dos uniformes militares ao poder.

Marisa Monte - Para ver as meninas

Vinicius de Moraes: Pátria Minha

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos…
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu…

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda…
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha… A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
“Liberta que serás também”
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão…
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
“Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes.”