A conjugação de vários fatores cria uma trégua rara nos preços, sem artifícios, o que dá uma chance para governantes retomarem a imprescindível agenda de reformas
País sinônimo de inflação elevada, o Brasil passa por uma experiência pouco vivenciada por gerações que ainda estão em atividade. Inflação anual de 2,68%, medida pelo IPCA, é absoluta novidade em muito tempo, se não considerarmos índices atingidos em planos que não se sustentaram, como o Cruzado. No Real, plano de estabilização com base mais sólida — faltou um ajuste fiscal bem calibrado —, houve inflação comparável. A do mês passado, de insignificante 0,09%, foi a mais baixa para o mês desde 1994, ano do Real. Mas hoje há a enorme diferença de que inexiste choque, como também em 1994, nem congelamento de preços e outras heterodoxias de fôlego curto. O Brasil foi laboratório de vários desses truques que só funcionam por um tempo. No máximo, o governante pode alongá-los para ganhar uma eleição, como o PMDB de Sarney e Ulysses fez no Cruzado, em 1986.
A inflação, que há dois anos estava na faixa perigosa dos dois dígitos, veio caindo sem atos de “vontade política”, nenhuma ação dirigista sobre a Petrobras, para forçá-la a congelar os preços dos combustíveis — como fez a “desenvolvimentista” Dilma Rousseff e abriu um rombo bilionário na estatal, que se somou ao provocado pela corrupção lulopetista na empresa.
A inflação caiu pelo manejo competente da política monetária do BC de Ilan Goldfajn, ajudado por ótimas safras agrícolas consecutivas e pela recessão profunda, a maior da história, de mais de 7%, com 14 milhões de desempregados, do biênio 2015/16. Assim, foram paralisados mecanismos de indexação da economia. Mas eles estão apenas desativados. Se velhos erros forem cometidos, voltarão a funcionar, jogando para o futuro a inflação do passado. Uma desgraça bem brasileira.
O Brasil já viveu “tempestades perfeitas” na economia — quando se conjugam os piores momentos em inflação, crescimento, setor externo etc. Agora, ocorre a “bonança ideal”. Ou quase. Mas como nada acontece por acaso, governantes, classe política e elites em geral — empresariais e trabalhadoras — precisam aproveitar a trégua da inflação, enquanto a economia volta a crescer, e fazer o que tem de ser feito.
Não se discute que tudo vai depender das eleições. Mas ganhe quem for, os problemas e as soluções se mantêm. Se os eleitores escolherem o populismo, todos pagaremos o preço em termos de inflação e desemprego. Isso acaba de acontecer com Lula e Dilma no comando.
A inflação abaixo da meta de 4,5% e os juros também em queda propagam muitos efeitos positivos na renda da população, no caixa das empresas, nas contas públicas. É provável que projetem para 2019 ainda algum conforto, mas, se o próximo presidente não aproveitar o primeiro ano de governo para executar, com o novo Congresso, as reformas da Previdência e outras, destinadas a elevar a baixa produtividade do país, o pesadelo voltará.
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