Discurso contra prisão atrai Boulos e Manuela, mas afasta Ciro Gomes
Catarina Alencastro | O Globo
BRASÍLIA - Ao iniciar o cumprimento da sua sentença de prisão, o ex-presidente Lula não foi sozinho para a cadeia. Levou consigo para dentro da cela também, metaforicamente, o comando do PT, que até se transferiu de São Paulo para Curitiba. Com isso, continua a embaralhar os rumos do petismo e dos partidos de esquerda, assim como as discussões para a formação de uma frente com um candidato único — mesmo que a ideia tenha sido defendida pelo ex-ministro Jaques Wagner.
No último discurso antes de se entregar, Lula foi claro em dizer que quem manda no PT é ele, e assim continuará a ser. Lula idealizou uma estratégia que confunde o destino eleitoral do PT e das esquerdas com a própria sorte. Em seguida à prisão do ex-presidente, o PT, sob o comando da senadora Gleisi Hoffmann (PR), uma aliada incondicional de Lula, passou a empunhar a bandeira do “Lula Livre”, com o discurso de que a democracia está em risco.
Ao mesmo tempo em que continua a travar o debate interno no partido, esse discurso atrai o apoio dos candidatos minoritários da esquerda, como Guilherme Boulos, do PSOL, e Manuela D‘Ávila, do PCdoB, mas afasta o PDT de Ciro Gomes e o PSB de Joaquim Barbosa. Boulos e Manuela estiveram ao lado de Lula no palanque em São Bernardo, protestaram em Curitiba e partiram em viagens com o slogan de “Lula Livre”, com o qual esperam colher apoio popular. Ambos dizem concordar com o PT quanto aos riscos que a prisão de Lula representaria para o pleno funcionamento das instituições brasileiras.
— A luta pela liberdade de Lula é uma questão democrática. Se há setores que querem reduzi-la a um debate eleitoral de candidaturas, não entenderam ainda a gravidade do que está ocorrendo no Brasil — disse Boulos ao GLOBO.
— Lula livre é um posicionamento político — reforça a pré-candidata Manuela D‘Ávila.
PDT e PSB, no entanto, evitam encampar a tese de que Lula seja um preso político. O PDT tem em Ciro Gomes um candidato presidencial com grandes chances de recolher a maior parte do espólio eleitoral de Lula. O PSB também vê grande potencial no ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. Ambos não querem se confundir com as máculas do PT e de Lula no campo ético.
Apesar de Wagner ter defendido que o PT deve considerar abrir mão de ter candidato próprio, é difícil encontrar no partido quem defenda que a agremiação não tenha a cabeça de chapa.
— O PT não vai deixar de ter um candidato porque isso faz parte de seu processo de recuperação — sustenta um dos fundadores da sigla.
Diante das incertezas do cenário eleitoral, lideranças esquerdistas acreditam que cada um dos cinco partidos (PT, PSOL, PCdoB, PDT e PSB) seguirá com suas candidaturas no primeiro turno, confluindo só no segundo turno para aquela que conseguir chegar lá.
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