Faltam
mais de 70 dias para o fim da CPI, mas o prazo deverá ser prorrogado por mais
90 dias. Pazuello irá depor nesta quarta-feira.
Duas
semanas, não mais do que duas semanas bastaram para que a CPI da Covid-19 no
Senado ouvisse de meia dúzia de depoentes a revelação de fatos que confirmam a
incúria do governo do presidente Jair Bolsonaro no combate à doença.
Os
mais graves deles:
1)
Houve uma tentativa de mudar a bula da cloroquina, medicamento sem eficácia
contra o vírus, mas defendido com obsessão pelo presidente da República e seus
áulicos;
2)
O vereador Carlos Bolsonaro, o Zero Dois, participou de reuniões para a compra
de vacinas, embora não tenha cargo formal dentro do governo do pai;
3)
O governo recusou sete propostas de compra da vacina Pfizer, só aceitando a
sétima. Com isso, o país deixou de receber 1,5 milhões de doses em dezembro
passado e 3 milhões até o final de março.
À
CPI, o Ministério da Economia admitiu que não reservou dinheiro no Orçamento da
União para o combate, este ano, da Covid. Acreditou que a pandemia estava no
finalzinho.
O
senador Omar Aziz (PDS-AM), presidente da CPI, não tem mais dúvidas:
–
Pelo que já apuramos, pelo que eu estou vendo nos depoimentos, nunca houve o
compromisso da compra da vacina. Sempre se tratou das questões da cloroquina,
da ivermectina e de protocolos.
Novas descobertas poderão ser feitas com o depoimento marcado para a próxima quarta-feira do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde. Ele só poderá ficar calado até certo ponto.
A
CPI tem mais de 70 dias pela frente para concluir seus trabalhos. O prazo
deverá ser prorrogado por mais de 90. Daí o desespero de Bolsonaro que
radicaliza seu discurso justamente por causa disso.
General,
ministro da Defesa, discursa em manifestação bolsonarista
Braga
Neto sobe em carro de som em Brasília e diz que as Forças Armadas estão prontas
para garantir a volta ao trabalho dos brasileiros
Quando
o presidente da República diz, referindo-se a Lula, que “eles tiraram da cadeia
o maior canalha da história do país”, sabendo, como sabe Jair Bolsonaro, que
quem tirou foi a mais alta Corte de Justiça, o que ele pretende com isso?
Elementar,
meus caros: jogar o povo, particularmente seus devotos, contra a mais alta
Corte de Justiça do país, no caso o Supremo Tribunal Federal. Indiretamente,
assina embaixo dos cartazes exibidos por eles que pregam o fechamento do
tribunal.
Isso
é ou não é estímulo ao golpe que está na dele e na cabeça dos seus seguidores
mais radicais? Relaxem, não haverá golpe. Não há disposição dos militares para
instalar por aqui uma nova ditadura. General não dá golpe para beneficiar
ex-capitão.
O
general Braga Neto, ministro da Defesa, participou da manifestação de apoio a
Bolsonaro promovida ontem, em Brasília, por evangélicos e ruralistas. Passeou
entre eles, posou para fotos e discursou em cima do caminhão de som. A certa
altura, avisou:
–
As Forças Armadas estão prontas para garantir que todos tenham direito de
trabalhar.
No
início da semana, Bolsonaro havia dito que está pronto um decreto que assinará
em breve acabando com as medidas de isolamento baixadas por governadores e
prefeitos. Um blefe, ao que tudo indica, porque o Supremo conferiu a eles tal
poder.
Braga
Neto endossou o blefe. Ora, ninguém está impedido de sair de casa para
trabalhar. Então as Forças Armadas abandonariam os quartéis para não prender
ninguém. Para quê? Para assegurar o direito a aglomerações e o acesso de
banhistas às praias?
O
general, apesar do seu cargo, não fala pela boca dos comandantes do Exército,
Marinha e Aeronáutica, a não ser sobre questões administrativas. E os
comandantes estão calados, a uma distância segura do governo para não serem
contaminados.
Candidato
que aparece na rabeira das pesquisas de intenção de voto, confrontado com seus
números, não passa recibo. Ou tenta desacreditar as pesquisas ou afirma que
ainda falta muito tempo para o dia da eleição e que até lá ultrapassará seus
concorrentes.
No
momento, em segundo lugar, faltando ainda 20 semanas para o primeiro turno da
eleição do ano que vem, Bolsonaro passa recibo do seu incômodo e parte para
atacar Lula com insultos do mais baixo nível. É coisa de político amador e
assustado!
Pela
primeira vez, a parcela dos brasileiros que apoia o impeachment de Bolsonaro é
numericamente superior à parcela dos que são contra, segundo a mais recente
pesquisa Datafolha (49% a 46%). Em abril de 2020, 53% rejeitavam o impeachment.
Assim
como o golpe, não haverá impeachment. À oposição não interessa e ela não tem
votos para aprová-lo no Congresso. Lula torce para enfrentar Bolsonaro porque
acredita que poderá derrotá-lo. Bolsonaro já torceu para enfrentar Lula, agora
não.
Lula
calcula que Bolsonaro chegará mais fraco do que está em outubro do próximo ano.
Hoje, 58% dos eleitores dizem que Bolsonaro não tem capacidade de liderar o
Brasil; e 50% dizem que nunca confiam nas declarações que ele faz.
A
taxa de confiança plena é a menor desde o início da série histórica de
pesquisas do Datafolha em agosto de 2019, ao passo que a desconfiança total é a
maior do período. Bolsonaro parece admitir uma eventual derrota ao falar em
“votos auditáveis”.
Voto auditável para ele é voto impresso, abolido porque facilita a ocorrência de fraudes. Voto eletrônico é também auditável e mais seguro. Desde já, Bolsonaro empenha-se em construir uma narrativa para não aceitar o resultado da eleição se perdê-la.
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