O Estado de S. Paulo
Toffoli era o típico “bom moço”, cheio de boas intenções e ambições, e o salto estonteante
Numa partida de futebol no Palácio do Jaburu,
residência oficial dos vice-presidentes, o presidente Lula, em seu segundo
mandato, apontou o dedo para o advogado e deputado Luiz Carlos Sigmaringa
Seixas e comunicou: “Você vai ser o próximo ministro do Supremo”. Sig, como era
conhecido, não titubeou: “Tá louco, Lula? Eu não estou preparado para isso”.
Houve outras investidas, ele nunca aceitou.
José Antônio Dias Toffoli não teve mesma prudência. Vestiu a toga do STF em 2009, aos 41 anos, e aos 50 foi o mais novo presidente da Corte desde o Império. Formado em Direito pela USP, foi advogado, assessor parlamentar e advogado-geral da União (AGU), mas não tinha mestrado nem doutorado, e carregava o fardo de ter levado duas bombas em concursos para a magistratura. Quem não conseguiu ser juiz virou ministro do Supremo.
Hoje, o também AGU Jorge Messias é virtualmente o novo ministro do STF e sempre comparado com Cristiano Zanin, advogado que brilhou na defesa de Lula na Lava Jato e foi premiado pela “lealdade”. A escolha de Messias, porém, tem muito mais a ver com a de Dias Toffoli, 16 anos atrás, pelo mesmo Lula. Amigo do peito, “confiável”, muito jovem, petista e pau para toda obra.
Quem veste a toga: homem, branco, jovem, petista e amigo do rei, além de evangélico pode ter lhe custado muito caro, inclusive pessoal e emocionalmente. Imaginem as crises de consciência nos julgamentos de mensalão e petrolão? Na dúvida, mergulhou na onda da Lava Jato e até hoje paga um alto preço.
Messias conquistou a fama como “Bessias”,
depois de a então presidente Dilma Rousseff avisar a Lula que ele seria o
mensageiro de sua nomeação para a Casa Civil e da blindagem nos seus processos,
o que foi vetado pelo próprio STF. Pernambucano, 45, ele é mestre e doutor em
Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional pela UnB e fez carreira
como procurador, inclusive do BC e do BNDES. Hoje é AGU, com boas relações no
STF.
É um bom currículo, mas não consta que
Messias, que também é evangélico, seja um jurista brilhante, reconhecido, com
estatura para ficar 30 anos no STF, até os 75. Lula declarou que não escolheria
um amigo nem levaria em conta se o candidato era mulher ou homem, preto ou
branco. Ele, porém, está indicando, sim, um amigo confiável, homem, branco e
jovem, na linha do “eu quero, eu faço”.
Como dizem os evangélicos, “oremos” para que
Messias, o novo Toffoli, seja nas próximas três décadas o que um ministro do
STF deve ser, preparado, técnico, sério, independente e, acima de tudo,
reverente à Constituição.
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