- O Globo
Há dez anos, o estamento militar se uniu
para combater a Comissão Nacional da Verdade. Os generais temiam que a
revelação de crimes da ditadura causasse dano à imagem das Forças Armadas.
Faltou visão estratégica: o pior estava por vir com Eduardo Pazuello.
A passagem do general pelo Ministério da
Saúde implodiu o mito da eficiência dos militares. O oficial afastou técnicos e
aparelhou a pasta com coronéis, majores e capitães. O resultado foi uma gestão
caótica, que abraçou o negacionismo, atrasou a compra de vacinas e deixou
faltar oxigênio em hospitais.
Pazuello também desmontou o marketing da bravura dos homens de farda. Para não perder o cargo, o general se humilhou publicamente diante do capitão. “É simples assim: um manda, e o outro obedece”, explicou, ao ser desautorizado na negociação com o Instituto Butantan.
A CPI da Covid já causou novos desgastes a
Pazuello e ao Exército. Depois de usar uma desculpa esfarrapada para adiar seu
depoimento, o ex-ministro apelou ao Supremo pelo direito de permanecer calado.
O habeas corpus concedido pelo ministro
Ricardo Lewandowski segue a jurisprudência do tribunal. A Constituição também é
clara: ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. No entanto, a
blindagem jurídica terá efeitos adversos. O silêncio do general deve agravar
sua desmoralização diante dos senadores e da opinião pública.
Ainda que compareça em trajes civis,
Pazuello representará o Exército na CPI. Ele é general da ativa, loteou o
ministério entre colegas da caserna e agora é defendido pela Advocacia-Geral da
União. É impossível separar o personagem da instituição que o abriga e
acoberta.
Há outros riscos à vista para o general
fujão. Apesar de ter garantido seu direito ao silêncio, Lewandowski ressaltou
que ele precisará responder a perguntas que envolvam “fatos e condutas
relativas a terceiros”. Nesses casos, valerá o compromisso de dizer a verdade.
Se mentir aos senadores, o ex-ministro poderá ser responsabilizado por falso
testemunho.
O relator Renan Calheiros deixou claro que
o habeas corpus não resolve todos os problemas de Pazuello. “Interrogatório bom
não busca confissões, quer acusações sobre terceiros. Com relação a ele, outros
falarão”, avisou.
+ + +
O drama dos Covas
Duas décadas depois, Bruno Covas repete o
drama do avô. Mario Covas descobriu um câncer no auge da carreira política.
Havia acabado de se reeleger governador de São Paulo. Ele rompeu uma tradição
da política brasileira e manteve os cidadãos informados sobre a doença. Morreu
em 2001, aos 70 anos.
O prefeito Bruno também escolheu enfrentar
a tragédia pessoal com transparência. Além de explicar cada etapa do
tratamento, usou as redes sociais para divulgar mensagens de fé e otimismo. Na
quinta-feira, ele publicou a última foto no hospital. Na sexta, os médicos
informaram que seu estado de saúde era irreversível.
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