Valor Econômico
Pequim diz que Lula falou do estado da relação com os EUA e mais coordenação com a China no Brics
Depois da conversa entre presidentes Luiz
Inácio Lula da Silva e Xi Jinping, ontem à noite, os dois governos divulgaram
comunicados que trazem focos diferentes sobre os quase 60 minutos do
telefonema.
A nota brasileira sobre a conversa é ultra contida, inclusive sem mencionar explicitamente os EUA, com o qual Brasília tem hoje a maior crise dos últimos tempos. A China, que tinha acabado de obter a renovação da trégua dos EUA na guerra comercial, é que menciona que Lula e Xi falaram sobre as relações com Washington.
Os comunicados após conversa entre líderes
são importantes, sinalizando onde querem influenciar a opinião pública
doméstica e internacional e eventualmente futuras ações diplomáticas, por exemplo.
Em seu relato sobre a conversa, o governo
brasileiro limita-se a mencionar que os dois líderes ‘trocaram impressões sobre
a atual conjuntura internacional e os recentes esforços pela paz entre Rússia e
Ucrânia’’..
De seu lado, o comunicado da China destaca
que Lula reiterou que o Brasil atribui grande importância às relações com a
China e espera aprofundar sinergias estratégicas e promover maior
desenvolvimento das relações entre os dois países.
Em seguida, a nota chinesa relata que Lula
apresentou a Xi Jinping ‘a situação atual das relações do Brasil com os Estados
Unidos e a posição brasileira firme em defesa de sua soberania, elogiando a
China por defender o multilateralismo, manter as regras do livre comércio e
desempenhar um papel responsável nas questões internacionais’’.
O relato chinês da conversa diz que ‘o Brasil
está disposto a fortalecer a comunicação e a coordenação com a China em
mecanismos multilaterais como o Brics, opor-se a atos de intimidação unilateral
e defender os interesses comuns de todos os países’’.
Xi Jinping afirmou que ‘a China apoia o povo
brasileiro na defesa da soberania nacional e o Brasil na defesa de seus
legítimos direitos e interesses. Todos os países devem se unir e se opor
claramente ao unilateralismo e ao protecionismo’’.
Em seguida, o comunicado chinês diz que ‘’o
mecanismo do Brics é uma importante plataforma para a construção do consenso do
Sul Global’.
Já o comunicado do Brasil é econômico também
nessa parte da conversa, limitando-se a mencionar que os dois líderes
concordaram sobre o papel do G20 e do Brics na defesa do multilateralismo.
O lado brasileiro dá mais ênfase ao bilateral
no seu comunicado. Cita que Lula e Xi Jinping também conversaram sobre a
parceria estratégica bilateral. E nesse contexto ‘saudaram os avanços já
alcançados no âmbito da sinergia entre os programas nacionais de
desenvolvimento dos dois países e comprometeram-se a ampliar o escopo de
cooperação para setores como saúde, petróleo e gás, economia digital e
satélites’’.
Diz a nota brasileira que Lula e Xi Jinping
também destacaram a disposição em continuar identificando novas oportunidades
de negócios entre as duas economias.
Por sua vez, Xi Jinping disse que o
relacionamento sino-brasileiro 'está no melhor momento da história''. E diz que
‘a China está disposta a trabalhar com o Brasil para aproveitar as
oportunidades, fortalecer a coordenação, criar mais resultados de cooperação
mutuamente benéficos, dar exemplo de unidade e autossuficiência entre os
principais países do Sul Global, e construir conjuntamente um mundo mais justo
e planeta mais sustentável’’.
Os chineses enfatizaram que o Brasil e a
China devem continuar a enfrentar juntos os desafios globais, garantir o
sucesso da Conferência da ONU sobre Mudanças CLimáticas em Belém e promover o
papel do Grupo de Amigos da Paz na resolução da crise na Ucrânia.
O lado brasileiro destaca algo mais, dizendo
que Xi Jinping indicou que a China estará representada em Belém por delegação
de alto nível e que vai trabalhar com o Brasil para o êxito da conferência.
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