terça-feira, 29 de junho de 2021

Luiz Carlos Azedo - O impeachment à espreita

Correio Braziliense

O depoimento dos Miranda atiçou os articuladores do impeachment de Bolsonaro, que sonham com a adesão do Centrão e dos militares ligados ao vice Mourão

O caso da vacina indiana Covaxin, na CPI do Senado que investiga a atuação no Ministério da Saúde contra a pandemia de covid-19, ameaça romper a blindagem constitucional de Jair Bolsonaro, que só pode ser investigado por crime cometido durante o exercício do mandato, desde que a Câmara dos Deputados autorize. Os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Jorge Kajuru (Podemos-GO) e Fabiano Contarato (Rede- ES), ontem, apresentaram ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime na qual pediram a investigação do presidente da República por suposto crime de prevaricação. A relatora do caso será a ministra Rosa Weber.

Bolsonaro alega que não tem como saber o que passa nos ministérios, mas foi acusado de ter tomado conhecimento do superfaturamento da Covaxin pelos irmãos Luis Miranda (DEM-DF), deputado federal, e Luis Ricardo Miranda, técnico do Ministério da Saúde que se recusou a comprar a vacina, durante depoimento de ambos na CPI da Covid, na sexta-feira passada. Agora, caberá ao Supremo decidir se pede à Procuradoria-Geral da República (PGR) para abrir uma investigação formal sobre o caso. No Código Penal, prevaricar é “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”.

Andrea Jubé – Darandina

Valor Econômico

Estratégia é concentrar esforços nas mobilizações

Parafraseando Guimarães Rosa (1908-1967), que teria completado 113 anos no domingo, podemos afirmar que os portentosos fatos explodiram a semana passada na política nacional de “chinfrim, afã e lufa-lufa”. Ou em português claro, foi uma semana de muita confusão, corre-corre e aflição no governo e na base governista.

Na quinta-feira, em cena de filme de ação, ou de comédia, o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) tentou pular o muro de sua casa para escapar da Polícia Federal, mas recuou ao se deparar com um agente que estava à espreita.

Também na quinta-feira, em uma imagem dantesca, o presidente Jair Bolsonaro arrancou a máscara de uma criança que levou ao colo, em mais um dos diversos atos com aglomeração que vem promovendo.

O gesto causou indignação, com o agravante de que o Brasil aparece em segundo lugar no ranking de crianças vítimas da covid-19, atrás apenas do Peru, segundo um levantamento divulgado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” no começo do mês. Até meados de maio, 948 crianças de zero a nove anos morreram de covid-19 no país, segundo dados do Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (Sivep-Gripe).

Hélio Schwartsman - Bolsonaro nas cordas

Folha de S. Paulo

Abrir um processo de impeachment contra o atual presidente é um imperativo moral

O escândalo da Covaxin é a peça que faltava para deflagrar o impeachment de Bolsonaro? É cedo para dizer, mas acho seguro afirmar que a situação do presidente é hoje muito mais precária do que era duas semanas atrás, e o risco de destituição tornou-se palpável.

Como venho dizendo aqui com certa insistência desde maio do ano passado, abrir um processo de impeachment contra Bolsonaro é um imperativo moral. Mesmo que a deposição não se concretize, é uma satisfação devida aos pósteros, a sinalização de que ao menos parte da sociedade tentou dar uma resposta institucional ao festival de horrores que é o atual governo.

Cristina Serra - Barros e a morte como negócio

Folha de S. Paulo

Em 2017, o líder do governo Bolsonaro defendeu a compra de remédio, sem eficácia, para tratar tipo de câncer muito agressivo que ataca crianças

Era um segredo de Polichinelo a identidade do parlamentar mencionado na conversa entre Bolsonaro e o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) sobre “rolos” na compra da vacina Covaxin. O anonimato se mantinha havia horas na CPI quando o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) furou o tumor: “Está lhe faltando coragem para falar o nome do deputado federal Ricardo Barros”.

A pressão, com técnica de interrogatório, funcionou. Na inquirição seguinte, Miranda, já desestabilizado emocionalmente, capitulou diante da senadora Simone Tebet (MDB-MS). Esta é a revelação mais explosiva obtida pela CPI até agora. Indica uma quadrilha incrustada no Ministério da Saúde e aponta indícios de crimes cometidos por Bolsonaro e Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara e expoente do centrão.

Alvaro Costa e Silva - Todos os homens de Bolsonaro

Folha de S. Paulo

As pegadas da grana até os porões do 'vacinagate'

Uma expressão em inglês, significando o melhor caminho que se deve tomar para chegar à verdade, passou a ser citada em 11 entre 10 comentários políticos. “Follow the money” (siga o dinheiro) ganhou popularidade no filme “Todos os Homens do Presidente”, que reconstitui a investigação jornalística do caso Watergate até a renúncia de Richard Nixon. O conselho sugere que, num esquema de corrupção, a grana deixa pegadas que conduzem aos porões do poder, seja em Washington ou em Brasília.

A frase está na ordem do dia da CPI da Covid —que encontrou um trilho de sujeira levando à compra da Covaxin— e pode explicar as ações do governo e de quem gravita em torno dele só para se dar bem. Quem são os homens de Bolsonaro?

Siga o cascalho e você encontrará um empresário vestido de verde e amarelo cujas lojas têm o custo maior que o faturamento. Um milagre econômico que dispensa sócios e investidores e, segundo a Abin, possui uma “fonte oculta de recursos”. Siga a gaita e você baterá na porta da Precisa, que fez um acordo para faturar R$ 1,6 bilhão com o rolo da vacina.

Antonio Claudio Mariz de Oliveira* - Desordem social e institucional

Folha de S. Paulo

Todos estamos estupefatos, desejando agir, mas sem saber bem o que fazer

Anomia e distopia são dois fenômenos que nos assombram atualmente. Ambos conduzem à desordem social e à desordem institucional.

Elas são os reflexos de uma pauta negativista e predatória, imposta pelo governo e lastreada pela intolerância raivosa; pela apologia do uso de armas; pela insensibilidade em relação ao meio ambiente e à própria vida humana; pelo estímulo às aglomerações, dentre outros fatores.

A agenda e o discurso oficiais não apresentam nenhum viés construtivo. Representam a antítese da utopia e da organização social; portanto, mostram um risco real de distopia e anomia.

A distopia como sinônimo de um mau lugar para se viver. Em nosso país, ela tem como origem o autoritarismo de um governo despótico que tenta impor um modelo de comportamento carente de liberdade de pensar e de agir e de um padrão moral retrógrado e estático.

Já a anomia se caracteriza pela ausência ou pelo descumprimento das normas. Assiste-se hoje a uma rebeldia institucional, com o Executivo em permanente confronto com os outros Poderes, com a legislação ordinária e com a própria Constituição Federal. Tivemos, recentemente, uma violação até então inconcebível do rígido ordenamento militar. Não se puniu quem deveria tê-lo sido. Dupla desobediência. A individual, de um general que participou de ato político, e a da instituição, que não o puniu.

Joel Pinheiro da Fonseca - A ditadura dos outros

Folha de S. Paulo

Não há nada na direita que a esquerda não seja capaz de superar, e vice-versa

A acusação indignada de que um presidente é genocida perde muita força se você, ao mesmo tempo, celebra genocidas notórios. É o que fez a deputada Jandira Feghali, celebrando uma possível (e incerta) queda de Bolsonaro com uma menção laudatória e espirituosa a Stálin. De quem, bem sabemos, o PC do B nunca se libertou.

O stalinismo não é um risco muito presente no Brasil. Sobrevive, é verdade, na forma de fósseis partidários e, surpreendentemente, é um nicho crescente dos influenciadores políticos nas redes; mais um sintoma da polarização e radicalismo bizarros a que estamos sujeitos. Ainda assim, esses delírios comunistas não estão próximos de ditar os rumos do país.

O risco não é que se ressuscite Stálin e o sonho de uma República Soviética Brasileira. E sim que velhas roupagens indiquem ímpetos autoritários renovados. A ruptura democrática, o autoritarismo com desígnios de poder total, se voltar, não será com as mesmas cores e bandeiras do passado. Será com métodos e bandeiras adequados ao nosso tempo, como ocorre em toda tirania.

Bela Megale - Arthur Lira tem compromisso de pautar PEC do voto impresso, mas resiste em angariar votos

O Globo

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), garantiu ao presidente Jair Bolsonaro que colocará em votação a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do voto impresso. A colaboração de Lira com o projeto, porém, não irá muito além disso. Interlocutores do deputado federal afirmam que o compromisso assumiu com Bolsonaro se limita a pautar o tema e que Lira não vai trabalhar para trazer votos que ajudem na aprovação da proposta. Essa parte caberá ao Palácio do Planalto.

O partido de Lira faz parte do grupo de 11 legendas que se posicionou contra o voto impresso. O presidente do PP, o senador Ciro Nogueira, com quem Lira está totalmente alinhado, participou da reunião entre representantes dessas siglas no sábado passado. Nos bastidores, o senador, que é próximo de Bolsonaro, também vem se posicionando pela manutenção do sistema atual.

Segundo aliados de Ciro Nogueira, ele repete que não vê necessidade de implantar o voto impresso e diz que não acredita que haja tempo hábil para aprovar a PEC para 2022. Os 11 partidos que se reuniram sábado somam juntos mais de dois terços dos deputados da Câmara e prometem atuar para que a medida não seja aprovada. Os bolsonaristas, no entanto, vão insistir na medida.

Vera Magalhães - Homem mais poderoso da República, Lira controla Câmara, Orçamento e destino de Bolsonaro

O Globo

Seria Arthur Lira o homem mais poderoso da República hoje? Dada a forma como operou para garantir, além da presidência da Câmara, o controle direto de R$ 11 bilhões em recursos do Orçamento da União e o destino de Jair Bolsonaro, sim.

Entender as motivações e a forma como esse personagem opera hoje é fulcral para calcular a fidelidade que os demais agrupamentos sobre os quais ele tem ascendência --- seu partido, o PP, e o Centrão, que hoje é a base do governo na Câmara -- vão se comportar.

Este texto é uma segunda parte da análise que publiquei mais cedo aqui no blog sobre como o caso Covaxin aumentou exponencialmente o custo Bolsonaro para o Centrão e para o PP, que você pode ler abaixo.

A pergunta ali é chave para entender o personagem Arthur Lira: quando o custo passa a ser maior que o ganho de apoiar o governo e segurar Bolsonaro? No caso do presidente da Câmara, ainda há muita lenha a queimar antes de ele pensar em jogar Bolsonaro ao mar.

Fernando Luiz Abrucio* - Três razões aumentam o risco de impeachment

- O Estado de S. Paulo

Combinação de CPI, protestos e mudança de postura do centro podem colocar projeto bolsonarista em risco

A mistura de um populismo voltado à manutenção de um público fiel de pelo menos 15% do eleitorado com a distribuição de cargos, verbas e poder clientelista ao Centrão foi a fórmula adotada por Bolsonaro para manter seu posto. Até o momento, esse objetivo foi plenamente alcançado. Porém, três fenômenos colocam em risco o projeto político bolsonarista. Em primeiro lugar, a CPI da Covid tornou-se mais perigosa com a denúncia de prevaricação do presidente da República no caso da vacina Covaxin

Qualquer caso de suposta corrupção sempre é grave, mas duas coisas tornam esse fato ainda mais inflamável: o bolsonarismo mantinha sua aura de incorruptível até agora, mesmo com as rachadinhas de Flávio Bolsonaro ou as negociatas do então ministro Ricardo Salles com madeireiros, e isso, provavelmente, não se sustentará mais, pois o que está em jogo agora é que se planejou roubar dinheiro público na compra de algo que faltou aos brasileiros: a vacina. 

José Nêumanne* - Os 20 mil Fiats Elba de Barros & Bolsonaro

O Estado de S. Paulo

Sobrepreço de 1.000% na vacina indiana em que o governo empenhou R$ 1,6 bilhão é só um detalhe em caso de corrupção de proporções mirabolantes do ‘ilibado’ capitão terrorista e seu anspeçada

Desde a última terça-feira 22 de junho, os despertadores do Palácio da Alvorada e do condomínio Vivendas da Barra foram desligados e o estoque de ansiolíticos nas farmácias das proximidades dos esconderijos da famiglia Bolsonaro, reforçado. Em reportagem que deu manchete de primeira página (Governo comprou vacina indiana por preço 1.000% mais cara), Júlia Affonso relatou: “Telegrama sigiloso da embaixada brasileira em Nova Délhi de agosto do ano passado, ao qual o Estadão teve acesso, informava que o imunizante produzido pela Bharat Biotech tinha o preço estimado em 100 rúpias (US$ 1,34 a dose). Em dezembro, outro comunicado diplomático dizia que o produto fabricado na Índia ‘custaria menos do que uma garrafa de água’. Em fevereiro deste ano, o Ministério da Saúde pagou US$ 15 por unidade (R$ 80,70, na cotação da época) – a mais cara das seis vacinas compradas até agora”.

Tudo leva a denúncia espetacular de uma compra escatológica e estapafúrdia. O sobrepreço da vacina indiana, que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) teve enorme dificuldade em aprovar, e com restrições, apesar das pressões sofridas pelo servidor encarregado de importações de insumos e vacinas no Ministério da Saúde, é o fio da meada de um escândalo gravíssimo. O governo Bolsonaro, que tinha levado quase um ano para comprar imunizantes testados no mundo inteiro e oferecidos pela Pfizer, comprou a Covaxin em um quarto desse tempo, graças à interferência pessoal do presidente da República, Jair Bolsonaro, em telefonema ao primeiro-ministro da Índia, Narenda Modri. Para isso empenhou R$ 1,6 bilhão, o equivalente aproximado ao custo de 20 mil Fiats Elba, cuja compra serviu de prova para fundamentar o impeachment de Fernando Collor, em 1992.

O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais

EDITORIAIS

O novelo da Covaxin

Folha de S. Paulo

Dar consistência jurídica às suspeitas em torno do negócio será desafio da CPI

As suspeitas na negociação da compra da Covaxin levaram à CPI da Covid um novelo com uma variedade de pontas soltas. A comissão precisará de técnica investigativa para desatar esse emaranhado.
O vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse haver indícios fortes de corrupção. Não basta. Há que encontrar elementos para sustentar ou refutar a tese de que havia interesse em desviar dinheiro e beneficiar agentes públicos e privados na importação da vacina indiana.

O ponto de partida é a acusação de que integrantes do Ministério da Saúde agiram para facilitar o negócio de R$ 1,6 bilhão. O foco imediato recai sobre Alex Lial Marinho, tenente-coronel acusado pelo servidor Luis Ricardo Miranda de ter feito “pressão atípica” para liberar um pagamento adiantado.

O oficial do Exército era coordenador de Logística de Insumos Estratégicos da pasta, vinculado à secretaria do coronel Elcio Franco —que, por sua vez, era homem de confiança do então ministro Eduardo Pazuello. A CPI deve tentar descobrir se havia interesse específico do trio nessa compra.

Também está no centro da investigação o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara. A comissão quer saber se o parlamentar foi responsável pela indicação política de servidores que tentaram facilitar a importação.

Sabe-se que Barros apresentou emenda que abriu caminho para a compra, mas ele alega que oito congressistas fizeram o mesmo.

Os aspectos financeiros do negócio estão na mira da comissão. Depoimentos e movimentações bancárias da Precisa Medicamentos, empresa que serviu de intermediária para o negócio, darão as primeiras pistas nessa direção.

Poesia | Ascenso Ferreira - Sucessão de São Pedro

— Seu vigário!

     Está aqui esta galinha gorda

     que eu trouxe pro mártir São Sebastião!

     — Está falando com ele!

     — Está falando com ele!

Música | Leila Pinheiro e Thiago Amud - Quem vem pra beira do mar (Dorival Caymmi)

 

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Entrevista | Sergio Fausto: “Em 2022, a gente estará jogando a sorte da democracia”

Para Sergio Fausto, superintendente da Fundação FHC, é improvável êxito de terceira via

Por César Felício / Valor Econômico

SÃO PAULO - Superintendente executivo da Fundação Fernando Henrique Cardoso, o cientista político Sergio Fausto traça um cenário sombrio para o país nos próximos anos. Ele vê poucas chances para o surgimento de um candidato que quebre a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no próximo ano. E neste quadro, ele teme pela institucionalidade do país.

Para Fausto, caso Lula vença, hipótese que ele avalia como bastante possível, há riscos de Bolsonaro tentar desestabilizar o país e forçar uma intervenção militar e a campanha do presidente pelo voto impresso, em sua opinião, é um indicativo nesse sentido. Se Bolsonaro se reeleger com folga, a marcha para um regime autoritário seria acelerada. Caso a reeleição se dê de forma apertada, haveria um quadro de elevada instabilidade. “O risco à democracia no Brasil só tem feito aumentar ao longo dos últimos anos”, afirma. Ele considera ingênuo acreditar que Bolsonaro pode moderar sua linha de ação.

“Em uma vitória do Bolsonaro pessoas importantes podem decidir sair do país. É cenário de plano inclinado”

Segundo Fausto, que conversou com o Valor na tarde da quarta-feira - dois dias antes do depoimento do deputado Luis Miranda (DEM-DF) que afirmou ter o presidente Jair Bolsonaro comentado suspeitar que irregularidades no Ministério da Saúde estivessem relacionadas com o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR) - as denúncias de corrupção em compra de vacinas, uma das linhas investigativas da CPI da Covid no Senado, podem causar dano político grave ao presidente.

Tudo dependerá, na sua visão, de se comprovar algum nexo entre irregularidades no Ministério da Saúde e o Palácio do Planalto. Já há movimentos na CPI para se considerar o presidente culpado ao menos de prevaricação, uma vez que não teria tomado providências concretas ao escutar a denúncia do parlamentar. O Palácio do Planalto nega veementemente que o diálogo relatado por Miranda tenha existido.

“Podemos ter um Congresso que preserve suas prerrogativas convivendo com uma situação de cerceamento da liberdade”

O escândalo não será suficiente, contudo, para desencadear um processo de impeachment, para o qual ele não vê possibilidade, em posição mantida pelo cientista político, mesmo após as declarações de Miranda, sobre as quais foi consultado no sábado. O panorama econômico a curto prazo é de melhora, a base governista no Congresso é sólida e as manifestações populares não mandam um sinal claro.

O cientista político vê o Congresso apático na defesa das instituições brasileiras e teme que o Legislativo abra mão de prerrogativas para manter o poder excepcional que ganhou para gerir o Orçamento, nos próximos anos. Mas acredita que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), não são imunes a pressões que possam surgir da opinião pública.

Eis os principais trechos da conversa com o Valor:

Valor: Como o senhor vê o cenário eleitoral em 2022? A polarização está consolidada?

Sergio Fausto: Aqui não é desejo. Se eu pudesse transformar desejo em realidade eu magicamente criaria uma alternativa entre o Lula e o Bolsonaro. É evidente que a hipótese de terceira via existe, mas nada aponta na direção de uma candidatura que potencialmente possa expressar uma alternativa aos dois. Este cenário é improvável. O cenário mais provável é de polarização entre os dois candidatos que estão aí claramente colocados. Desde logo digo que não há equivalência entre eles. Desta dupla, extremista só tem um e não é o presidente Lula.

Valor: Diante dos riscos existentes, vale a pena apostar em terceira via?

Fausto: Acho que sim. Tem mérito intrínseco. Na vida a gente fica esperando o inevitável e acontece o inesperado. Existe potencialmente uma massa de eleitores que preferia não ter que fazer a opção entre Lula e Bolsonaro. É uma espécie de latência eleitoral que permite imaginar que a terceira via tem alguma chance. A política requer coragem e ousadia. Quando mais não seja, para poder negociar uma frente no segundo turno em outra posição, com mais cacife.

Fernando Gabeira - Por uma democracia vacinada

O Globo

Na Câmara dos Deputados havia um homem chamado Inocêncio de Oliveira. Sempre foi muito gentil comigo. Morreu há algum tempo; Deus o tenha.

Mas era um nome singular e nos inspirou uma antítese para definir pessoas muito suspeitas: Culpâncio de Oliveira.

Lembrei-me disso quando vi Onyx Lorenzoni defender o governo, ameaçando testemunhas, dizendo que é diferente de tudo o que aconteceu nos últimos 40 anos e representa o bem contra o mal.

Há alguma coisa errada nessa compra da Covaxin, do preço às condições do contrato e, sobretudo, a maneira como o governo reage às suspeitas de corrupção.

Considero o negacionismo, que contribui para milhares de mortes, algo muito mais grave que a corrupção. Admito, no entanto, que desvio de dinheiro é mais facilmente reconhecível.

Com bons advogados, uma lei branda e juízes garantistas, não é fácil punir governantes por corrupção. Mas o impacto político é inevitável e, no caso de Bolsonaro, pode significar a gota que faltava para que a proposta da extrema-direita seja reduzida às suas reais dimensões.

Carlos Pereira - O efeito do distritão

O Estado de S. Paulo

Reeleição de parlamentares deve ser incentivada, mas sem perdas de representação

A probabilidade de vitória é maior para parlamentares que tentam a reeleição que para os que concorrem a qualquer outro cargo.

A profissionalização da atividade política é vista por grande parte da população de uma forma muito negativa. Como se a atividade política somente se legitimasse quando exercida por vocação. Entretanto, legisladores, em qualquer sistema político, maximizam a sobrevivência eleitoral; ou seja, buscam a reeleição.

Eles tentam, como em qualquer outra profissão, aumentar a estabilidade de sua carreira profissional, sempre buscando a diminuição de incertezas com relação à continuidade no jogo político.

Tanto nos EUA como no Brasil, a maioria dos deputados federais se reelege. No entanto, o sistema eleitoral majoritário americano, que escolhe apenas um parlamentar por distrito, gera muito mais estabilidade da carreira legislativa que o sistema proporcional de lista aberta brasileiro, com magnitude distrital média de 19 cadeiras por Estado.

Enquanto a taxa de reeleição média nos EUA é de 94%, no Brasil é consideravelmente menor, sendo de apenas 59% no mesmo período analisado. Ou seja, embora em ambos os países exista uma clara vantagem do incumbente em relação aos novos concorrentes ao cargo legislativo, essa vantagem é muito maior para o legislador americano quando comparada ao brasileiro.

Marcus André Melo* - Barreiras à entrada ao extremismo

Folha de S. Paulo

Há remédio institucional contra a ascensão de extremistas?

cidade de Nova York realizou há poucos dias eleições sob nova regra eleitoral: o voto alternativo (conhecido pelas siglas RCV ou STV/IR). A expectativa de que possa ser remédio contra a polarização levou a sua disseminação nos Estados Unidos na última década.

A regra já é adotada em dezenas de cidades; dois estados já o fazem para eleições presidenciais e cinco as adotam em primárias do partido democrata. Irlanda e Austrália utilizam-na há décadas, mas no Reino Unido ela acabou não sendo aprovada no referendo de 2011.

Na nova regra, os eleitores devem ordenar suas preferências em relação aos candidatos. Caso o mais votado, em termos de primeira preferência, não tenha obtido mais de 50% dos votos, são contadas as segundas preferências, e sucessivamente até que se tenha obtido uma maioria. Os candidatos têm assim incentivos para cortejar eleitores para além do núcleo de suas bases e disputar a segunda ou terceira preferência destes grupos. Havendo, portanto, menos animosidade contra adversários.

Celso Rocha de Barros - Teve rachadinha na vacina?

Folha de S. Paulo

Há indícios de que Bolsonaro acobertou roubo de dinheiro de vacina em plena pandemia

Bolsonaro é tão ruim que, quando correu para comprar uma vacina durante a pandemia, todo mundo suspeitou que fosse falcatrua. E era mesmo.

O governo Bolsonaro recusou-se a comprar a vacina da Pfizer, a Coronavac do Butantan e metade da oferta do consórcio Covax Facility, em cada caso apelando para um argumento diferente. Como já dissemos aqui, estudos do epidemiologista Pedro Hallal mostraram que só as decisões sobre Pfizer e Coronavac causaram em torno de 95 mil mortes.

Eis que em 2021 toda a estrutura do governo Bolsonaro se mobiliza para acelerar a compra da vacina Covaxin, da Índia, que tinha todos os problemas apontados por Bolsonaro nas outras vacinas e mais alguns.

Segundo um volume expressivo de evidências e os depoimentos à CPI do deputado Luis Miranda (DEM-DF) e de seu irmão, o funcionário de carreira do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, a pressa tem uma explicação: trata-se de um esquema de corrupção coordenado pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara. O valor do contrato da Covaxin é de um bilhão e seiscentos milhões de reais.

Demétrio Magnoli - Leonid Guedes

O Globo

Na mitologia grega, a Quimera era um dos descendentes dos monstros Tifão e Equidna. A criatura híbrida é geralmente descrita como um leão de cujas costas projetava-se a cabeça de uma cabra, com uma serpente no lugar da cauda. Já temos a nossa Quimera, na forma da MP da privatização da Eletrobras, a filha medonha da união entre os liberais do governo e os patrimonialistas do Congresso.

A MP inaugura um novo fenômeno, que deve ser descrito como privatização soviética.

— Não vamos chorar muito pela Eletrobras —conclamou o sempre feliz Paulo Guedes, que se acostumou a secar suas lágrimas num lenço estampado com a efígie de Bolsonaro.

—Reformas nunca são perfeitas — concluiu, celebrando a primeira privatização de um governo que nasceu prometendo vender “cerca de R$ 1 trilhão em ativos”, incluindo “as ações do Tesouro na Petrobras”, a Telebras, os Correios, o Serpro, a Dataprev, a CBTU e os principais portos do Sudeste.

Perfeição? A MP incrustada com os proverbiais jabutis estabelece uma coleção de investimentos compulsórios dignos de um Plano Quinquenal da antiga URSS. Leonid Brejnev, o gerente da decadência da “pátria do socialismo”, experimenta uma segunda vida no corpo do ministro da Economia.

Bruno Carazza* - Já é um começo

Valor Econômico

Paulo Guedes, quem diria, propôs tributação de dividendos

Num artigo publicado no “The New York Times” em 14 de agosto de 2011, o megainvestidor Warren Buffett criticou os governantes que, a cada crise econômica, pediam à população uma cota de sacrifício, mas acabavam poupando os multimilionários, inclusive ele próprio e seus amigos. “Parem de mimar os super ricos”, era a mensagem-título.

O “Oráculo de Omaha” referia-se às alíquotas de imposto de renda sobre os ganhos de capital e a distribuição de dividendos, que foram substancialmente reduzidas nos Estados Unidos a partir da década de 1980, no governo de Ronald Reagan. A filosofia dominante desde então prescrevia que taxar mais pesadamente o topo da pirâmide de renda desincentivava o investimento, e em última instância prejudicava os mais pobres, pois afetava o potencial de geração de empregos no país.

Um dos homens mais ricos do mundo pedindo para o governo cobrar mais impostos sobre seus rendimentos - a proposta soou como música aos ouvidos do Partido Democrata, à época com a difícil missão de assumir os Estados Unidos durante a ressaca da grave crise financeira de 2008. No tradicional discurso sobre o Estado da Nação, no início de 2012, o presidente Barack Obama aproveitou a deixa para criticar as brechas da legislação americana, que faziam com que o bilionário da Berkshire Hathaway tivesse uma carga tributária menor do que a de sua secretária. Num lance de marketing político, Debbie Bosanek, a secretária de Buffett, estava sentada ao lado da primeira-dama Michelle Obama na plateia do Capitólio.

Ricardo Noblat - Lira quer mais é ver seu colega Ricardo Barros pelas costas

Blog do Noblat / Metrópoles

Conselheiros de Bolsonaro defendem uma ampla reforma ministerial para tirar o governo do sufoco. Quem se habilita?

Se dependesse de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, seu colega de partido, Ricardo Barros (PP-PR), jamais teria sido indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para líder do governo.

Uma vez que foi e que ainda é, já teria sido obrigado a renunciar à função desde que seu nome apareceu na lista de suspeitos de tentar embolsar grana com a compra da vacina Covaxin.

Bolsonaro sabe da posição de Lira a respeito de Barros, e que o deputado Luis Miranda (DEM-DF), antes de revelar sua conversa com o presidente da República, consultou Lira e obteve o seu ok.

Conselheiros de Bolsonaro, se é verdade que ele os tem, defendem uma ampla reforma ministerial para tirar o governo do sufoco em que se encontra. Como fez o presidente Collor antes de cair.

Catarina Rochamonte - Bolsonaro e Barros - 'A política como ela é'

Folha de S. Paulo

Embora governistas tentem repassar o crime de prevaricação para costas de Pazuello, é ao presidente que ele deve ser imputado

“Isso é coisa do (...)”, teria dito Bolsonaro ao deputado Luís Miranda e seu irmão Luís Ricardo Miranda, após ser alertado dos graves indícios de corrupção no processo de aquisição da vacina indiana Covaxin.

No depoimento dos irmãos à CPI da Covid, o suspense em torno desse nome durou até o momento em que o senador Alessandro Vieira o declarou com todas as letras e a senadora Simone Tebet convenceu o depoente a verbalizá-lo. Trata-se de Ricardo Barros, líder do governo na Câmara; aquele mesmo que, ao assumir tal liderança, disse que o fazia justamente na hora em que o presidente Bolsonaro se articulava com “a política como ela é”.

Na política como ela é, Barros tem ficha corrida: foi condenado por fraude quando prefeito de Maringá e teve o mandato de deputado cassado pela Justiça Eleitoral por compra de votos (decisão anulada por recurso). No momento, está denunciado por improbidade administrativa em caso de fraude na aquisição de medicamentos quando ministro da Saúde no governo Temer. Esse último processo faz link com o atual escândalo Covaxin: no primeiro, Barros teria favorecido a empresa Global Gestão em Saúde; agora estaria tentando favorecer a Precisa Medicamentos. Ambas são sócias e têm mesmo dono.

Vagner Gomes de Souza* - Que fazer no Brasil?

As instituições democráticas foram sempre questionadas pelos defensores da livre iniciativa individual e suas identidades articuladas pelo consumo. No mundo do seja uma pessoa que compre, aos poucos, muitos se atomizaram num processo de fragmentação. O campo democrático se faz no terreno do “Nós”, porém a carnavalização de algumas atitude valorizaram o mundo do “eu sozinho”. A individualização enfraqueceu o mundo do fazer a política. Assim, os atores políticos se encontram sobre um grande teste nessa onda de questionamento da globalização.

O Brasil é mais um caso em que as veias abertas do discurso autoritário se faz em muitas teias que mais fragmentam as lutas políticas o que permitiu a emergência de um “self made zé ninguém” ao qual muitos ressentidos com a prática da política se reconheceu. Não há polarização nas fontes do sectarismo, pois convivem num universo de não reconhecimento do papel de mediação das instituições democráticas na sociedade. Por exemplo, forças progressistas atuam no legislativo como se fosse o espelho de seus eleitores exclusivos ao contrário de se imaginar como representante de todas e todos.

A sociedade se deixou contaminar por pela cultura política do espelho, ou seja, eu só busco diálogo como aquele que é meu próprio reflexo. Muitas fakeanálises da conjuntura animadas pelo individualismo político nos quais os partidos políticos são colocados no cenário num “efeito carona” do contexto eleitoral. O liberalismo eleitoral ficou mais forte uma vez que não há uma política de Estado de Bem Estar Social que oriente o universo da política. A Democracia foi perdendo seus defensores enquanto ganhou força as narrativas dos mosaicos das falas.

Mirtes Cordeiro* - O São João que habita em nós

Blog Falou e Disse

Era a festa da alegria (São João)
Tinha tanta poesia (São João)
Tinha mais animação, mais amor, mais emoção
Eu não sei se eu mudei ou mudou o São João

São João Antigo – música de Luis Gonzaga e Zé Dantas

Quem não se emociona ao ouvir essa música de Luís Gonzaga? A música é de Luís Gonzaga e Zé Dantas. Foi gravada em 27 de março de 1957. Não sabiam os autores que que mais de 60 anos depois a música teria tamanha significação face a situação de pandemia que o País atravessa.

Luiz Gonzaga do Nascimento, o maior sanfoneiro, que se tornou conhecido no Brasil inteiro, nascido no Sertão do Araripe, município de Exu, Estado de Pernambuco, era filho de camponeses sem terra, moradores da fazenda Caiçara. Gonzaga praticamente não frequentou escola: “Fiquei no primeiro ano, não pude continuar”, diz ele em uma de suas entrevistas à imprensa. O pai, Januário, além de trabalhar na terra, tocava sanfona e tinha uma espécie de oficina. (Anotado no texto de Sulamita Vieira – Metáforas do Sertão)

Vivendo no Rio de Janeiro, divulgou a cultura do povo nordestino, seu modo de vida, suas crenças, através de suas canções em parceria com Zé Dantas, Humberto Teixeira e outros, nas décadas de 40, 50 e 60, através do rádio que atravessava a chamada Era de Ouro no processo de comunicação no País e no auge do processo de industrialização.

Era também o tempo do baião.

Em seu trabalho sobre o Rei do Baião, Sulamita Vieira, professora da universidade Federal do Ceará, ressalta que “no seu canto, Luiz Gonzaga evoca um sertão de pobreza, de seca, de abandono e, ao mesmo tempo, canta a fartura misturada a uma espécie de grandeza natural; exalta o amor, as festas, o aconchego, a valentia do “cabra macho” e o atendimento das preces dos sertanejos por parte dos seus santos protetores.”

Tornou-se, portanto, seu Lula, como passou a ser chamado carinhosamente, um cantor e sanfoneiro muito popular.  O cantor, compositor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil disse, em recente entrevista, que Luiz Gonzaga foi “a primeira coisa significativa do ponto de vista da cultura de massa no Brasil”. Além de ser seu primeiro ídolo da música popular brasileira. (Agencia Brasil)

Enfrentou o preconceito, contou a nossa história, adotou o vestuário do vaqueiro – um dos símbolos da região – talvez o mais identificado com a visão do colonizador.

Lançamentos em livro destacam atualidade da obra teatral de Vianinha

Textos de 'A mão na luva' e 'Corpo a corpo' estão entre as reedições do autor, que completaria 85 anos em 4 de julho

Dirce Waltrick do Amarante* / O Globo

Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, como era conhecido o dramaturgo, cineasta, ator e ativista paulistano, faria 85 anos no dia 4 julho. Talvez ele não visse muitos motivos para comemorar a data; afinal, sempre lutou contra a ditadura militar, cujo retorno parte da sociedade brasileira vem perigosamente reivindicando.

Mas Vianinha certamente festejaria a reedição de sua obra dramatúrgica, pela editora Temporal. Sob a organização de Maria Sílvia Betti, as peças, todas escritas depois do Golpe de 1964, vêm sempre acompanhadas de estudos críticos relevantes, que destacam a contemporaneidade de sua obra e a importância de mantê-la à disposição dos leitores. Entre os títulos já publicados estão “Papa Highirte” (1968) e “A longa noite de Cristal” (1969). Este ano, a editora reeditou mais duas dramaturgias de Vianinha: “A mão na luva” (1966) e “Corpo a corpo” (1971).

Vianinha morreu em 1974, em meio às truculências do regime militar, que fez questão de registrar em muitos de seus textos teatrais, pois a matéria-prima de sua obra era a vida na sociedade. Suas peças refletem sobre o papel da imprensa, dos artistas e intelectuais nos tempos sombrios da ditadura. Fez parte, entre outros, do Grupo Opinião, fundado em 1964 no Rio de Janeiro e que contava com Ferreira Gullar, Teresa Aragão, Paulo Pontes, entre outros. O grupo surge como uma reação à censura e, como outros da época, via o teatro como “um veículo adequado para exprimir a repulsa diante da querela militar, fazendo pipocar peças de protesto ou que enfocassem os desmandos provocados pelo novo governo”, afirma João Roberto Faria em “História do teatro brasileiro” (2012).

Morre, aos 69 anos, o escritor e jornalista Artur Xexéo

 

Por Ancelmo Gois / O Globo

Morreu nesse domingo, aos 69 anos, o querido escritor e jornalista Artur Xexéo. O grande mestre da palavra sucumbiu após lutar contra um linfoma. A morte foi confirmada hoje.

Segundo o "Memória Globo", Xexéo estreou no jornalismo no Jornal do Brasil, em 1978. Passou, como repórter, pela sucursal do Rio de Janeiro da revista Veja. Conheceu o jornalista Zuenir Ventura, que, em 1982, o convidaria para trabalhar na revista IstoÉ e, em 1985, para ser subeditor da Revista de Domingo, suplemento cultural do JB.

A partir daí, Xexéo começou a se especializar em jornalismo cultural. Ainda segundo o "Memória Globo", no Jornal do Brasil Xexéo também foi editor do Caderno B, editor do caderno de Cidade e subsecretário de redação. Em 1992, foi convidado para ser um dos novos colunistas do jornal.

O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais

EDITORIAIS

O tapetão e a rua

Folha de S. Paulo

Bolsonaro repete expediente de governantes cujo mandato se encontra sob ameaça

Jair Bolsonaro se vale do jargão futebolístico ao equiparar a CPI da Covid a um “tapetão” —os tribunais esportivos que tomam as decisões fora do campo de jogo, de má fama entre os torcedores.

A palavra foi repetida no sábado (26), durante mais um mal disfarçado ato de campanha eleitoral com aglomeração de motociclistas, desta vez em Chapecó (SC). “No tapetão, não vão levar”, bradou.

À sua maneira tosca, Bolsonaro segue o surrado roteiro de governantes cujo mandato se encontra ameaçado por movimentos dos demais Poderes. Invoca apoios reais ou potenciais no eleitorado e diz-se alvo de um conchavo de raposas políticas contra a vontade popular manifestada nas urnas.

O expediente tem lá seu apelo —e é fato que o Congresso e até o Judiciário colocam na balança os danos de agir contra um presidente que disponha de considerável sustentação na opinião pública. Trata-se, no entanto, de uma demonstração de fraqueza, não de força.

A sustentação parlamentar de Bolsonaro, provida pelo centrão, é interesseira e volátil acima do padrão das tradicionalmente fragmentadas coalizões do país. Tampouco são estanques os humores das ruas, como o presidente terá percebido a esta altura.

O desgaste provocado pela trágica gestão da pandemia derrubou a popularidade do mandatário ao menor patamar desde a posse, além de contribuir para levar o arquirrival Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à liderança das pesquisas para a disputa do Planalto.

Poesia | Ascenso Ferreira - História Pátria

Plantando mandioca, plantando feijão,

colhendo café, borracha, cacau,

comendo pamonha, canjica, mingau,

rezando de tarde nossa ave-maria,

           Negramente…

                  Caboclamente…

                         Portuguesamente…

A gente vivia.

Música | Paulinho da Viola - Quem é do mar não enjoa