Folha de S. Paulo
Abrir um processo de impeachment contra o
atual presidente é um imperativo moral
O escândalo
da Covaxin é
a peça que faltava para deflagrar o impeachment de Bolsonaro? É cedo para
dizer, mas acho seguro afirmar que a situação
do presidente é hoje muito mais precária do que era duas semanas
atrás, e o risco de destituição tornou-se palpável.
Como venho dizendo aqui com certa insistência desde maio do ano passado, abrir um processo de impeachment contra Bolsonaro é um imperativo moral. Mesmo que a deposição não se concretize, é uma satisfação devida aos pósteros, a sinalização de que ao menos parte da sociedade tentou dar uma resposta institucional ao festival de horrores que é o atual governo.
Bolsonaro já correu risco de impeachment
antes e, a fim de evitá-lo, renegou uma de suas principais promessas de
campanha e lançou-se no colo do centrão, do qual se tornou refém. A novidade
que o caso Covaxin introduz é que ele desalinha os interesses desses atores.
O centrão, como se sabe, não se move por
ideologia nem se pauta pelo excesso de lealdade. Pragmáticos, os parlamentares
do grupo emprestam seu apoio a qualquer governante, desde que este lhes
entregue as verbas e os cargos acordados, e não hesitam em abandoná-lo, se
julgarem que o arranjo não irá muito longe ou que trará danos de imagem capazes
de comprometer a renovação de seus mandatos.
A popularidade de Bolsonaro, que já não
vinha bem, tende a sofrer ainda mais com as suspeitas que agora surgem. O
presidente até poderia tentar livrar-se de parte da carga rifando um dos
líderes do centrão, o deputado e ex-ministro da Saúde Ricardo
Barros (Progressistas-PR), e buscando preservar o apoio dos demais,
mas essa é uma operação política arriscada, que, se mal executada, pode
precipitar o rompimento.
E, se Bolsonaro fica quieto e aceita a pecha de protetor de corruptos, arrisca-se a acelerar ainda mais o derretimento de sua popularidade, o que também pode levar o centrão a abandoná-lo.
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