Folha de S. Paulo
Em 2017, o líder do governo Bolsonaro
defendeu a compra de remédio, sem eficácia, para tratar tipo de câncer muito
agressivo que ataca crianças
Era um segredo de Polichinelo a identidade
do parlamentar mencionado na conversa entre Bolsonaro e o deputado federal Luís
Miranda (DEM-DF) sobre “rolos” na compra da vacina Covaxin.
O anonimato se mantinha havia horas na CPI quando o senador Alessandro Vieira
(Cidadania-SE) furou o tumor: “Está lhe faltando coragem para falar o nome do
deputado federal Ricardo
Barros”.
A pressão, com técnica de interrogatório, funcionou. Na inquirição seguinte, Miranda, já desestabilizado emocionalmente, capitulou diante da senadora Simone Tebet (MDB-MS). Esta é a revelação mais explosiva obtida pela CPI até agora. Indica uma quadrilha incrustada no Ministério da Saúde e aponta indícios de crimes cometidos por Bolsonaro e Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara e expoente do centrão.
Não é surpresa que Barros apareça no
"vacinagate". Trago à memória caso revelado em 2017, quando ele era
ministro da Saúde do governo Michel Temer. Naquele ano, fiz uma série de
reportagens para o Fantástico, mostrando que o ministério comprou um remédio
produzido na China, sem comprovação de eficácia, para tratar um tipo de câncer
muito agressivo que ataca principalmente crianças.
A alegação do ministério era o preço mais
barato do medicamento chinês. O contrato estava repleto de irregularidades. Foi
feito por meio de triangulação com uma empresa que tinha escritórios de fachada
no Uruguai e no Brasil. Soa familiar? Barros defendeu o contrato e tentou
desqualificar as reportagens.
Na época, 4.000 crianças estavam em
tratamento. Médicos se mobilizaram para manter a importação de outro remédio,
usado até então no Brasil e validado por estudos internacionais. A Justiça
chegou a proibir o uso do produto chinês, mas o ministério manteve sua
distribuição. Botar em risco a vida de crianças deveria ser crime hediondo. Não
surpreende que o mesmo personagem apareça agora no morticínio
comandado por Bolsonaro.
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