segunda-feira, 28 de junho de 2021

Vagner Gomes de Souza* - Que fazer no Brasil?

As instituições democráticas foram sempre questionadas pelos defensores da livre iniciativa individual e suas identidades articuladas pelo consumo. No mundo do seja uma pessoa que compre, aos poucos, muitos se atomizaram num processo de fragmentação. O campo democrático se faz no terreno do “Nós”, porém a carnavalização de algumas atitude valorizaram o mundo do “eu sozinho”. A individualização enfraqueceu o mundo do fazer a política. Assim, os atores políticos se encontram sobre um grande teste nessa onda de questionamento da globalização.

O Brasil é mais um caso em que as veias abertas do discurso autoritário se faz em muitas teias que mais fragmentam as lutas políticas o que permitiu a emergência de um “self made zé ninguém” ao qual muitos ressentidos com a prática da política se reconheceu. Não há polarização nas fontes do sectarismo, pois convivem num universo de não reconhecimento do papel de mediação das instituições democráticas na sociedade. Por exemplo, forças progressistas atuam no legislativo como se fosse o espelho de seus eleitores exclusivos ao contrário de se imaginar como representante de todas e todos.

A sociedade se deixou contaminar por pela cultura política do espelho, ou seja, eu só busco diálogo como aquele que é meu próprio reflexo. Muitas fakeanálises da conjuntura animadas pelo individualismo político nos quais os partidos políticos são colocados no cenário num “efeito carona” do contexto eleitoral. O liberalismo eleitoral ficou mais forte uma vez que não há uma política de Estado de Bem Estar Social que oriente o universo da política. A Democracia foi perdendo seus defensores enquanto ganhou força as narrativas dos mosaicos das falas.

As manifestações de 2013 fez emergir a pluralidade de cartazes e reivindicações. As multidões traziam menos corpo político ao debate. Todos se permitiam a ter seu lugar de fala e ninguém centralizava essas falas. Portanto, a grande política não se fez presente de forma clara. Foram manifestações que não formaram novos quadros para a política nacional. Não se exercitou sua intenção de renovação política no Congresso Nacional como se observou no perfil dos congressistas eleitos em 2014. Havia um “mal estar” com a Democracia, pois ela impõe a necessidade da universalidade republicana a cada identidade individual.

Diante desse processo mais apropriado ao mundo do empreendedorismo, a política foi ao fundo do posso com os movimentos liberais e conservadores daquilo que chamam de “lavajatismo”. Os Saquaremas “moral” eram os luzias do “liberalismo econômico”. Havia um consenso contra a prática e a análise da política. Muitos não fazem uma análise política sem fazer referência a cálculos eleitorais. As pesquisas eleitorais como “cocaína” da análise de conjuntura no universo dos atores políticos. Uma vez que nem tudo é disputa eleitoral, a formação de quadros políticos para atuar na sociedade ou na vida publica se fez no ativismo dos “influencers”. Não há mais o voto de opinião. Também não há mais o debate do programa político. E um militante político é um constante ativista eleitoral ao redor de seus parlamentares eleitos sob a guarda moral de uma “bandeira qualquer”.

Afinal, o programa político de natureza democrática e republicana exige a articulação de interesses num movimento político maior que impõe muita reflexão sobre o Brasil. Então, 2018 foi o derretimento da prática de fazer política num universo no qual explodiu o ressentimento de muitos que não se sentiam acolhidos por esse mundo individualista. O individualismo na política gerou uma reação que aprofundo esse individualismo com um recorte autoritário, pois a Democracia presente na Carta de 1988 não estava presente nos debates dos ativistas políticos. Foi a ameaça do “atalho golpista” do Presidente da República que inseriu a defesa da democracia no discurso de muitos sem que observemos ainda as suas consequências no reagrupamento do ator político e da necessidade de lideranças políticas como referência para a negociação.

Um trabalhador não entra em greve para a eternidade. Por isso, os dirigentes sindicais desde o primeiro dia articulam os canais de negociação. A sociedade brasileira não pode ficar considerando que o Impeachment seja o tratamento precoce para a natureza retrógrada presente no Brasil. Então, que fazer? Os partidos políticos precisam construir um programa mínimo de enfrentamento da pandemia e de suas consequências econômicas nas classes subalternas. A imunidade contra o autoritarismo se fará numa longa duração a partir de uma vitória do campo democrático em 2022 (que não está assegurada, pois há cálculos das “feiras partidárias”). A moderação não significa renúncia da política de enfrentamento. Na verdade é outra forma de assegurar não só um palanque para vitórias sucessivas, mas também a garantia de uma melhor transparência na gestão pública. Não nos deixemos cair na tentação do negacionismo de fazer a Grande Política. A vitórias das Diretas Já (1984) só ocorreu por causa da participação no Colégio Eleitoral (1985).

*Mestre em Sociologia.

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