- Zero Hora (RS)
Tantas coisas estranhas têm ocorrido no ar e em terra que me lembrei de sentença de Aporelly, se não estou enganado, segundo a qual, além dos aviões de carreira havia mais coisas no ar, e com os extraordinários progressos da aviação, não há dia em que não suceda alguma novidade a despeito da minuciosa disciplina existente.
Como tenho reiterado, não me parece louvável a reeleição para cargos do Executivo. Singelo exemplo é a disparidade de meios, enquanto uns precisam de transporte de contribuições privadas, a senhora presidente usa e abusa do avião presidencial com fartas comitivas, valendo-se de recursos públicos para sua campanha de reeleição, como fez no último dia 22 em Porto Alegre.
O curioso é que a ânsia da reeleição se opere num momento em que a situação geral espelha-se no conjunto de realidades negativas, de resto, amplamente divulgadas. Uma refere-se ao recuo de 0,6% do PIB brasileiro no segundo trimestre, comparado aos três primeiros meses do ano, fato que os competentes avaliam como cenário recessivo; outrossim, noticia a imprensa que os investimentos em máquinas para investimentos tiveram retração de 5,3%. É imperioso reconhecer que a situação não é lisonjeira.
O chocante é que o ardor da reeleição seja comandado pela senhora presidente da República. Ora, a euforia oficial é paradoxal, pois a economia da nação está encalhada e o crescimento do PIB no ano passado foi inferior a 1%, mas a despeito dessas evidências, a senhora presidente, que não tomou medida já não digo eficaz, mas qualquer medida que se saiba, para alterar esta realidade no ano em curso, a única coisa que ela cogita é sua continuidade na Presidência. Para quê? O Brasil afundado e a senhora presidente dir-se-ia encantada com o mau sucesso que deseja inalterado. Confesso-me perplexo diante desse procedimento, postulando a prorrogação de seu quatriênio e sem dizer para quê, o silêncio implicaria a continuidade da estagnação.
Se não estou em erro, o governo falou na recuperação da confiança da sociedade. Quem diz recuperação parte da perda de algo, pois ninguém recupera o que não foi perdido. O que não foi perdido se conserva, não se recupera. Quer dizer, de momento a momento, os ilogismos tomam conta do panorama.
*Jurista, ministro aposentado do STF
Nenhum comentário:
Postar um comentário