Renata Batista – Valor Econômico
RIO - Apesar do discurso de que é preciso manter a humildade, a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, abriu com agenda e discurso de favorita sua campanha de rua no Rio de Janeiro, mas sem material de campanha. O Estado, onde alcançou o segundo lugar em 2010, é considerado prioritário por seus estrategistas. Nem mesmo a necessidade de esclarecer às dúvidas geradas pela retificação de dois itens do programa de governo divulgado na véspera arrefeceu uma Marina que no sábado percorreu - sorridente - uma das principais vias da Rocinha, acompanhada de aliados e dezenas de jornalistas, inclusive de emissoras de TV estrangeiras. Predominou a tese de ataque à candidatura em decorrência de seu crescimento.
Em discurso para militantes, reunidos pelo PSB em uma casa de shows na Lapa, Marina chamou de "movimento" o crescimento de sua candidatura e pediu uma campanha limpa. Antes, porém, o candidato a vice-presidente, Beto Albuquerque, e aliados de vários partidos conclamaram a plateia a responder as críticas e sinalizaram para o acirramento da disputa.
"Vamos fazer a campanha de limpeza da campanha. Vamos ser coerentes", disse Marina, que mais cedo havia atribuído as correções no programa a um engano. "Não é que seja uma revisão. O texto que foi publicado não é o texto que havia sido mediado. Foi apenas retornado o texto da mediação, porque havia sido cometido o engano", afirmou, questionada sobre as mudanças nos itens sobre união civil de homossexuais e sobre energia nuclear. Mediação, segundo a candidata, foi o esforço de reunir e avaliar diversas contribuições recebidas da sociedade civil.
A expectativa de candidatos e dirigentes partidários, salientada para os militantes no encontro da tarde de sábado, é que a campanha deve ficar mais dura para Marina a partir de agora. Ontem, o PSB divulgou nota sobre dois ataques ao site oficial da campanha, que ficou fora do ar por cerca de uma hora no sábado e por 20 minutos ontem. "Não tenho dúvida de que os ataques serão feitos com intensidade no tempo que resta de campanha", resumiu o presidente do PSB no Rio, o deputado federal Glauber Braga.
Sem referências diretas às suspeitas de irregularidades no uso do jatinho que transportava Eduardo Campos, Albuquerque voltou a dizer, em tom crítico, que as circunstâncias do acidente permanecem desconhecidas. Frisou também que Marina e ele serão "alvo de injustiças e agressões", mas acenou para a defesa das instituições. "Eu e Marina não seremos eleitos para fazer o que dê na cabeça, mas para fazer o que está na lei, na Constituição", disse.
Entre os aliados, o discurso já é de vitória, pelo menos no Rio, apesar do noticiário recente sobre o possível impacto negativo da política da candidata para exploração de petróleo no pré-sal e, consequentemente, para a economia fluminense. O Estado é considerado prioritário não apenas pelo histórico de votação da candidata, mas também porque foi um dos mais ativos nas manifestações de 2013. Historicamente, o eleitor fluminense tende a se posicionar majoritariamente na oposição.
Participaram da agenda nomes como o deputado federal e líder na corrida para o Senado, Romário Farias, o deputado Alfredo Sirkis e o ex-secretário de segurança, Luiz Eduardo Soares. Após acompanhar Marina durante todo o sábado, o deputado federal, Miro Teixeira (Pros), se despediu, na abertura do encontro com militantes, anunciando para ela e para a plateia, de cerca de 200 pessoas: "Tenho que ir embora. Mas já está eleita".
Outro aliado, o ex-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) e candidato a deputado federal pelo PPL, Fernando Siqueira, foi mais incisivo e disse que o discurso de Marina para o pré-sal "converge" com o dele. Para Siqueira, o pré-sal deve ser usado para viabilizar as energias sustentáveis. "Tentam intrigá-la com a sociedade brasileira. Quem está falando isso não quer a Marina porque quer manter o status quo", disse, e conclamou: "Vocês estão convidados a continuar nas ruas para dar suporte a Marina e ao Beto para governar o povo brasileiro".
A participação popular foi exaltada em vários momentos dos discursos, sem deixar de lado a defesa da institucionalidade. "A gente não pode sair das ruas, mas esse ano também temos que ir para as urnas porque só nas ruas não mudamos nada", disse Albuquerque.
Em Porto Alegre, ontem, Beto Albuquerque procurou atenuar a possível interferência de líderes religiosos na campanha e na retificação do programa de governo sobre os direitos homossexuais: "Nem a política deve mandar na religião nem a religião na política".
Em sua avaliação, os compromissos previstos no programa são "mais avançados" e "mais claros" que aqueles dos adversários Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) para a mesma questão. Albuquerque disse que havia "exagero" em assumir no programa algo que cabe ao Parlamento, em referência a projetos relacionados ao tema - entre eles está o projeto 122/06 que criminaliza a homofobia e cuja defesa constava na primeira versão divulgada pela campanha de Marina, depois retificada. (Colaborou Sandra Hahn, de Porto Alegre)
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