O Estado de S. Paulo
Hoje, defender o planeta dá votos na Europa Ocidental, especialmente entre os jovens
Em 14 de julho deste ano, aniversário da
queda da Bastilha, a Comissão Europeia propôs ao mundo uma nova revolução: o
“European Green Deal”. O ambicioso projeto tem três objetivos: zerar as
emissões de carbono até 2050, promover um crescimento econômico que não destrua
o planeta, e compensar, de alguma forma, os perdedores da nova economia verde.
O “European Green Deal” será amplamente discutido na COP 26, a conferência do
clima que começa no próximo dia 31 em Glasgow.
O nome evoca o “New Deal” americano. Não é
por acaso. Na década de 1930, os Estados Unidos viviam a ressaca da quebra da
Bolsa de Nova York, e o presidente Franklin Roosevelt investiu pesado para
recuperar a economia dos Estados Unidos. A Europa vive atualmente a ressaca da
pandemia. Será gasto 1,8 trilhão de euros na recuperação econômica. Um terço
desse valor será destinado ao “European Green Deal”.
Os europeus querem transformar a crise em oportunidade. Trata-se, antes de tudo, de um grande projeto de política setorial. A União Europeia investirá dinheiro público para incentivar indústrias da economia verde – painéis solares, carros elétricos, materiais de construção energeticamente eficientes, por exemplo – e para promover o desenvolvimento das respectivas tecnologias.
Tudo isso custa caro – e também será
necessário dinheiro para compensar os “perdedores”. Indústrias como a
petrolífera e a de carros tradicionais ficarão fragilizadas, gerando
desemprego. “A União Europeia precisa fortalecer sua rede de proteção para
lidar com os problemas sociais que irão surgir”, diz João Mourato, professor da
Universidade de Lisboa. Especialista em sustentabilidade, ele é o entrevistado
do mini-podcast da semana.
Nem tudo se resume à economia. “Existe uma
combinação rara entre recursos financeiros e circunstâncias favoráveis na
política”, diz Mourato. Ele se refere ao fato de que, hoje em dia, defender o
planeta dá votos na Europa Ocidental, especialmente entre os jovens. Em alguns
países, como a Alemanha, o consenso em torno da economia verde perpassa o
espectro político. A presidente da Comissão Europeia, Ursula van der Leyen, foi
ministra no governo conservador de Angela Merkel. Ela baseia sua gestão no
slogan “o futuro será verde e digital”.
Se a dura transição para a economia verde, no entanto, gerar desemprego ou abalos no estado de bem-estar social tão caro aos europeus, a boa vontade dos eleitores pode acabar. Esse equilíbrio delicado é o principal desafio do “European Green Deal”.
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