O Globo
O PT está se organizando para enfrentar as
acusações de corrupção que recaem sobre o partido mirando as eleições de 2022.
Seus políticos estão sendo treinados para rebater as acusações, e o partido
recentemente publicou um manual para treinar os militantes.
Se, por um lado, se trata apenas de uma
estratégia (legítima) para disputar a opinião pública em período pré-eleitoral,
nos seus efeitos a iniciativa dará sobrevida a um antipetismo radicalizado. O
PT está olhando demais para os resultados eleitorais de curto prazo e muito
pouco para como sua postura de não assumir os erros políticos alimenta a
intolerância e radicaliza a direita.
O partido tem todo o direito de denunciar a perseguição judicial de que foi vítima, muito bem documentada na série de reportagens conhecida como Vaza Jato. Não foi à toa que as condenações do ex-presidente Lula foram anuladas. Mas também não há sombra de dúvida de que, durante as administrações petistas, houve conluio entre a Petrobras e um pool de empreiteiras que desviou bilhões de reais para políticos.
Não foi provado que Lula organizou ou mesmo
que tinha ciência do desvio, mas seguramente o ex-presidente tem
responsabilidade política por um ato de corrupção dessa magnitude ter
acontecido durante seu governo.
A estratégia argumentativa que o PT está
adotando é embaralhar os fatos, usando a perseguição judicial para jogar fumaça
sobre a montanha de evidências de corrupção na Petrobras. Essa estratégia pode
reduzir as resistências a Lula junto a alguns eleitores hesitantes, mas também
enfurecerá e radicalizará bolsonaristas e outros antipetistas que já sentem que
a anulação das condenações de Lula representa uma vitória da impunidade.
Por um lado, a estratégia ajuda o PT nas
eleições de 2022; por outro, consolida a polarização política que envenena o
país.
A polarização tem efeitos eleitorais
relevantes, mas não é um fenômeno eleitoral. É uma dinâmica que toma a
sociedade civil e faz com que dois segmentos do público se radicalizem, se
fanatizem e se tornem intolerantes um com o outro. Nem sempre a polarização é
simétrica, com os dois lados adotando posturas políticas antidemocráticas —mas
ela sempre é relacional. Cada movimento de um campo repercute no outro. É por
isso que as ações do PT têm enorme impacto na estruturação da extrema direita.
A postura que o PT decidiu adotar para as
eleições de 2022 não é o único caminho —e certamente não é o melhor. O partido
poderia reconhecer que houve corrupção grave durante seu governo e se
comprometer a não deixar que isso volte a acontecer. Um mea-culpa honesto como
esse não ganharia um único voto governista, mas distensionaria o ambiente e
esmoreceria o antagonismo antipetista.
É preciso lembrar que a oposição tem uma
dupla tarefa, uma eleitoral, outra com a sociedade civil. Não basta derrotar
eleitoralmente Bolsonaro; é preciso também desmontar as condições políticas que
fizeram a extrema direita emergir como força política relevante.
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