Valor Econômico
Mas há muitas incertezas para as eleições marcadas para 5 de novembro do próximo ano, e o cenário político é possivelmente um dos mais complexos da história do país
Daqui a um ano, em 5 de novembro de 2024, os
EUA vão escolher o seu próximo presidente e renovar parte do Congresso. As
pesquisas continuam a sugerir uma disputa acirrada entre o democrata Joe Biden
e o republicano Donald Trump, numa repetição da eleição de 2020. Mas há muitas
incertezas, e o cenário político é possivelmente um dos mais complexos da
história do país. Para o resto do mundo, é uma espera difícil, pois envolve se
preparar para políticas antagônicas nos EUA.
As pesquisas de intenção de voto vêm mostrando um empate técnico entre Biden e Trump no voto popular. Mas pesquisas divulgadas neste domingo (05) pelo jornal “The New York Times” mostram o republicano à frente -- com uma vantagem de 4 a 7 pontos percentuais, pouco acima da situação de empate técnico -- em vários daqueles Estados indecisos, que decidem a eleição nos EUA. Trump lidera hoje na Geórgia, Pensilvânia, em Michigan, Nevada e no Arizona, Estados nos quais Biden venceu em 2020 e que foram decisivos para a sua eleição. O mapa eleitoral, neste momento, não está favorável ao democrata.
As primárias (o processo de prévias
partidárias) que definirão os candidatos dos dois principais partidos
americanos começam em janeiro. Nunca um candidato que, no início de novembro,
tinha a vantagem que Biden e Trump têm hoje perdeu as primárias sucessivas.
Apesar de a maioria dos americanos achar que
Biden não deveria se candidatar, pela sua idade avançada (80 anos), ele lidera
com ampla vantagem (tem em torno de 72% das intenções de voto) as pesquisas
para a escolha do candidato presidencial democrata. A não ser que ele desista
ou que algum problema de saúde prejudique gravemente a sua imagem, as primárias
(prévias partidárias) democratas não deverão trazer surpresas.
Trump também lidera com folga (em torno de
59% das intenções de voto) a corrida pela candidatura presidencial republicana,
mas o partido atravessa um momento de intensa disputa interna, e alguns
movimentos estão ocorrendo. Mike Pence, que foi vice-presidente de Trump, não
conseguiu fazer sua candidatura decolar e desistiu da disputa, sugerindo que a
consolidação em uns poucos candidatos já começou.
Pesquisas começam a mostrar um avanço de
Nikki Haley, que aparece em terceiro lugar na disputa republicana, com pouco
mais de 8% na média das pesquisas do site Real Clear Politics. Ela
declaradamente tenta se posicionar como a alternativa anti-Trump no partido.
Por ser menos conhecida que o segundo colocado, o governador da Flórida, Ron
DeSantis, sua candidatura parece ter mais margem para crescer. Ainda assim,
superar Trump parece uma missão quase impossível.
Mas há fatores hoje difíceis de avaliar e que
podem influenciar tanto as primárias republicanas como as eleições. Trump,
primeiro ex-presidente do EUA indiciado criminalmente, é réu em quatro
processos que estão em andamento. Ele será alvo de depoimentos de pessoas que
lhe eram aliadas, como ex-assessores, advogados e autoridades locais do seu
próprio Partido Republicano. Poderá ser condenado (em primeira instância). É
improvável que essa intensa propaganda negativa nos próximos meses não
respingue e prejudique a sua candidatura, apesar de até agora isso não ter
ocorrido.
Há ainda os riscos associados à enorme crise
interna no Partido Republicano. Em outubro, os republicanos se digladiaram por
semanas para escolher o novo presidente da Câmara dos Deputados, depois que o
presidente anterior foi destituído (pela primeira na história) após perder o
apoio da ala mais à direita do partido. Foram semanas de uma disputa
fratricida, que evidenciou que um partido rachado entre republicanos mais
tradicionais e uma ala de extrema direita muito aguerrida, ligada a Trump. Essa
disputa está a pleno vapor, e o seu custo para o partido e para Trump ainda não
está claro. O risco mais grave seria o de perder apoio entre os eleitores
independentes.
Para o presidente Biden, além da questão da
sua idade, o maior risco é de uma desaceleração forte ou até de uma recessão na
economia americana. Um ano atrás, muitos economistas previam que os EUA
estariam agora em recessão. Mas a economia se mostrou até agora resiliente à
alta de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Mas o fato de muitas previsões terem errado
não quer dizer que a recessão não ocorrerá. Dados recentes, como o de criação
de empregos, parecem mostrar já alguma desaceleração. Se será o pouso suave da
economia pretendido, pelo Fed e pela Casa Branca, ou uma queda mais abrupta,
fará toda a diferença para Biden.
Apesar da boa situação econômica atual, com
desemprego em 3,9%, um nível historicamente baixo, a percepção que muitos
americanos têm da economia é ruim. Biden terá um ano para tentar convencer os
americanos de que eles estão errados, mas uma desaceleração forte ou recessão
tornaria essa missão quase impossível.
Há ainda o impacto imponderável, por
enquanto, das crises globais, especialmente as guerras na Ucrânia e entre
Israel e palestinos. Um agravamento desses conflitos poderia elevar mais os
preços do petróleo, o que seria ruim para Biden. Por outro lado, é uma
incógnita se os americanos vão confiar em colocar o incendiário Trump para
guiar o país em meio a dois conflitos graves.
O resto do mundo, inclusive o Brasil,
acompanha com ansiedade a campanha eleitoral americana. Biden e Trump
personificam dois modelos antagônicos, com políticas econômicas e externas
muito diferentes. Os aliados europeus, por exemplo, temem que Trump possa até
retirar os EUA da Otan (a aliança militar ocidental) e acabar com o apoio à
Ucrânia na guerra com a Rússia. O republicano promete também mais protecionismo
comercial, com aumento das tarifas de importação dos EUA.
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