segunda-feira, 29 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Solução para os Correios é privatizar enquanto é tempo

Por O Globo

Modelo está pronto e ainda há interessados. Com acúmulo de prejuízos, em breve não haverá mais

Uma das primeiras medidas de Luiz Inácio Lula da Silva ao voltar ao Planalto foi retirar os Correios da lista de privatizações. A justificativa alegada foi a opção pelo saneamento da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), de modo que pudesse ser mantida como empresa pública para cumprir sua “função social”. Diante da previsível resistência corporativa numa estatal com 85 mil funcionários, profundamente deficitária, cujos cargos são loteados politicamente, nada foi feito. A atividade postal básica — entrega diária de correspondência em todo o território nacional — não é cumprida sequer em bairros de elite do Rio.

Estima-se que neste ano a ECT terá de receber R$ 2 bilhões do Tesouro para fechar as contas. Para o ano que vem, a previsão são mais R$ 5 bilhões. Enquanto tramita mais uma rodada de mudança na cúpula da estatal, o Ministério da Fazenda se preocupa com o risco de ela se tornar “dependente do Tesouro”. Isso forçaria o governo a incluir no Orçamento da União todos os R$ 20 bilhões de custo anual, aumentando as dificuldades para cumprir metas fiscais. Para piorar o quadro, os resultados parciais de 2025 são desanimadores. No primeiro semestre, em comparação com o período no ano passado, o prejuízo mais que triplicou, de R$ 1,35 bilhão para R$ 4,37 bilhões. As perspectivas não são nada otimistas.

Com o advento da internet, uma fonte importante de receitas da ECT foi substituída por e-mails. Ao mesmo tempo, sites de comércio eletrônico e aplicativos deram origem a um mercado pujante de entrega de encomendas — em que, para competir, é preciso agilidade e atualização constante, qualidades em falta nos Correios. Em dez anos, de acordo com a Bloomberg, a participação da ECT no mercado de encomendas passou de 85% para 45%. Não há previsão de a queda estancar. Projeções mostram que as compras on-line não param de crescer, mas a estatal não demonstra fôlego para competir com startups de entrega que se multiplicam. Há intensa competição pelos contratos com varejistas e marketplaces. Nas duas pontas do comércio eletrônico, há vendedores e clientes exigentes quanto à rapidez na remessa e no recebimento da compra. Nessa corrida, a ECT tem sido derrotada.

A melhor maneira de preservar a entrega de correspondência em todo o território nacional — única “função social” razoável para justificar a existência da ECT — continua a ser a privatização. Está à disposição do Planalto a modelagem sólida que o BNDES fez para isso no governo passado. O estudo constatou que a ECT não tem como investir os R$ 2 bilhões anuais necessários para atender uma população cada vez mais ávida pelo comércio eletrônico. A proposta, acertadamente, separa o serviço postal de caráter social e universal — que precisa ser mantido — da entrega de encomendas, atividade em que devem vigorar as leis de mercado, na busca incessante por eficiência e investimentos em logística.

O erro do governo, ao recuar na privatização da ECT, obriga a mantê-la conectada ao Tesouro, consumindo recursos que poderiam ter outro destino, seja em investimentos sociais, seja no abatimento da dívida pública. A melhor alternativa é privatizá-la nos termos sugeridos pela modelagem do BNDES. Por enquanto, ainda deve haver interessados em comprar a estatal. Com a explosão dos prejuízos e o decorrente sucateamento, em breve poderá não haver mais.

Combate a tráfico de animais depende de êxito contra o crime organizado

Por O Globo

Maior operação contra venda ilegal de bichos expôs os vínculos das quadrilhas com Comando Vermelho

Na Operação São Francisco, realizada neste mês, a Polícia Civil do Rio libertou cerca de 800 animais e deteve 47 suspeitos. Foi, de acordo com a polícia, a maior ação já feita no Brasil contra o comércio ilegal de bichos como jabutis, aves ou micos. A ação executou mandados de prisão e busca em várias regiões do estado, desbaratando uma rede estruturada, ativa havia décadas. “A organização criminosa não trabalhava só com tráfico de animais”, disse o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi. “Atuava também no tráfico de armas e munições, com aliados do Comando Vermelho (CV).”Áudios mostram que os investigados negociavam primatas por meio de aplicativos e citavam o ex-deputado TH Joias, preso por sua associação com o CV.

O vínculo entre a venda ilegal de animais e o crime organizado reflete a realidade global. De acordo com o Relatório Mundial sobre Crimes contra a Vida Selvagem da ONU (2024), o tráfico afeta milhares de espécies em 162 países. No Brasil, 22.287 animais silvestres apreendidos em 2024 foram encaminhados a Centros de Triagem de Animais Silvestres. Há também indícios de profissionalização e elos com quadrilhas internacionais. No início do ano passado, o Ibama repatriou do Togo micos-leões-dourados e araras-azuis-de-lear. O crime também migrou com força para a internet. Monitoramento da Global Initiative against Transnational Organized Crime registrou centenas de anúncios de espécies protegidas, com uso de redes sociais para burlar a fiscalização. Não se trata de mercado amador, mas de cadeia criminosa que usa documentos falsificados, receptadores, logística interestadual, armas e veículos blindados— exatamente como o tráfico de drogas.

Operações como a São Francisco são essenciais para desbaratar esquemas estabelecidos, mas o enfrentamento eficaz ao tráfico de animais depende de medidas idênticas às necessárias no combate ao crime organizado. Duas frentes são decisivas. A primeira é a integração de bases de dados entre polícias, Ministério Público, Ibama/ICMBio e Judiciário, com cadastro unificado e acesso em tempo real a flagrantes, receptadores e reincidências. Tais medidas derivam da PEC da Segurança Pública enviada pelo Executivo ao Congresso. A segunda frente é o rastreamento financeiro. É preciso acionar os braços do Estado para investigar a contabilidade das quadrilhas, bloquear bens dos criminosos e asfixiar suas finanças. Esse deve ser um dos objetivos da Lei Antimáfia que o governo pretende enviar ao Legislativo.

Há medidas específicas necessárias para lidar com o tráfico de animais silvestres — como equipes dedicadas a monitorar o ambiente on-line e campanhas permanentes para reduzir o apelo dos “pets exóticos”. Mas nada substitui uma estratégia nacional para enfraquecer as facções criminosas. O Congresso deve dar prioridade à PEC da Segurança e à Lei Antimáfia. Sem isso, o mercado cruel que transforma bichos em mercadoria continuará a se recompor mais rápido do que as autoridades conseguem desmantelá-lo.

Lula semeou desaceleração econômica no final do mandato

Por Folha de S. Paulo

BC projeta crescimento de somente 1,5% em 2026, efeito dos juros que freiam a inflação e o emprego

Não há espaço para mais despesas, petista promoveu gastança no início do governo e pode antecipar crise se repetir a dose na eleição

Banco Central divulgou na quinta (25) sua estimativa para o desempenho do Produto Interno Bruto em 2026: crescimento de apenas 1,5%, abaixo da projeção do Ministério da Fazenda (2,4%) e mais próximo da mediana do mercado financeiro (1,8%).

Embora desde 2022 as projeções para o PIB tenham sido muito mais equivocadas do que o esperado, a desaceleração da atividade hoje parece compatível com a expansão prevista pelo BC para o fim deste ano, perto de 2%.

O aumento da taxa de juros produz impacto, que deverá ser maior entre o segundo semestre deste 2025 e o primeiro de 2026.

A moderação observada no segundo trimestre, ademais, mostra que o PIB dependeu mais de indústrias extrativas, que estão menos ligadas ao ciclo econômico, e do saldo das exportações. Já a demanda doméstica arrefece.

Tal esfriamento deverá resultar em queda do ritmo do emprego; a desocupação se mantém em níveis ainda historicamente baixos, mas a ampliação de postos de trabalho tende a ser menor. Resta saber o que acontecerá com a ainda forte alta dos salários.

Em resumo, espera-se menos inflação e atividade econômica em 2026. A combinação desses fatores costuma influenciar humores eleitorais, embora ainda não haja expectativa de mudança maior na insatisfação geral em relação à observada agora.

Deve-se ressaltar, contudo, que a desconfiança do consumidor tem crescido e as expectativas do eleitorado ainda são negativas, assim como o saldo da avaliação popular do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Assim, sem levar em conta reviravoltas políticas, importa saber se a gestão petista, a fim de chegar com mais prestígio às eleições, tomará providências adicionais que não raro elevam o gasto público de forma irresponsável.

Já estão encaminhados projetos e medidas como a desoneração do Imposto de Renda, a nova faixa do Minha Casa, Minha Vida, a expansão do Vale Gás, a continuidade, com maior divulgação, do programa Pé-de-Meia e mais empréstimos do BNDES.

Não há espaço para elevação de despesas. O governo só cumprirá as metas deste ano graças a aumento de impostos e antecipações de receitas —sem contar a contabilidade criativa que retira gastos do Orçamento.

Em 2026, será ainda mais difícil fechar as contas, mesmo com as metas fiscais relaxadasDólar e juros altos tendem a se repetir, já que o ano do pleito será de tensão financeira, ainda maior caso os candidatos a presidente não apresentem planos críveis de reforma do gasto público em 2027, o petista em particular.

Lula 3 inverteu o ciclo político-eleitoral de gastos. Em vez de botar ordem na casa no início do governo, resolveu impulsionar a economia com aumento exorbitante de despesas. Assim, na metade final do mandato, enfrentará desaceleração. Tentar insuflar outra vez a atividade pode antecipar uma crise em 2027.

Turismo na Esplanada

Por Folha de S. Paulo

Após ultimato, ministro do União Brasil pede demissão, mas pretende negociar permanência no cargo

Pasta foi criada para interessados em verbas para obras paroquiais; do orçamento de cerca de R$ 3 bi em 2025, R$ 1,6 bi vem de emendas

União Brasil tem origem em uma série de reciclagens de partidos. Nasceu de uma fusão entre o DEM e o PSL; o primeiro era uma versão rebatizada do outrora poderoso PFL, uma dissidência do PDS, sigla que apoiava a ditadura militar; o segundo era um nanico que passou por um breve período de agigantamento ao abrigar Jair Bolsonaro, hoje no PL.

Com tal DNA, a legenda costuma ser classificada como de centro-direita ou direita, mas seria mais preciso apontar que sua plataforma é associar-se a governos em busca de cargos e verbas, aproveitar-se dos fundos públicos que financiam atividades partidárias e valer-se de emendas parlamentares ao Orçamento para favorecer seus redutos eleitorais.

Assim se entende a relutância com que o União leva adiante o propósito de romper a relação de conveniência e infidelidade que mantém com o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foi preciso um ultimato do partido para que o ministro do Turismo, Celso Sabino, deputado licenciado pelo Pará, entregasse seu pedido de demissão na sexta-feira (26).

Ainda assim, Sabino declarou que tentará negociar a permanência no cargo com seus correligionários, cujo intento é se reposicionar na oposição a partir de uma federação com o PP —outra sigla que passou por diversas mutações desde o ancestral PDS.

Também a pasta do Turismo resulta de reciclagens políticas pouco ortodoxas. Seu formato atual remonta a 2003, na primeira administração petista, concebido com o objetivo de atrair interessados em verbas para obras e eventos paroquiais que remotamente possam ser considerados como fomento ao turismo.

Do orçamento de pouco menos de R$ 3 bilhões do ministério neste ano, mais da metade, ou R$ 1,6 bilhão, vem de emendas parlamentares individuais e coletivas.

O arranjo canhestro exemplifica a precariedade da coalizão formada por Lula. Os aliados ao centro e à direita recebem postos periféricos na Esplanada brasiliense, embora por vezes bem remunerados, e não são convidados ao centro das decisões de governo —e tampouco mostram grande alinhamento ao Executivo nas votações do Congresso Nacional.

Outros nomes podem deixar o primeiro escalão federal nos próximos dias, mas é improvável que a essência dessa configuração se altere a um ano das eleições gerais. Nem a administração petista mostra a disposição de contemplar uma agenda programática mais ampla, nem os partidos fisiológicos pretendem fazer mais do que turismo em ministérios e estatais.

Piora das contas externas deve refluir com desaquecimento

Por Valor Econômico

Tão logo a economia começou a desacelerar, o déficit em conta corrente, que mede todas as transações entre os países — comerciais, de serviços e financeiros — estacionou

Sinais ruins nas contas externas que se formavam com o sobreaquecimento da economia brasileira começaram a se dissipar com a redução do ritmo das atividades econômicas, ainda modesta, mas que deve se acelerar nos próximos meses. O déficit em conta corrente, que mede todas as transações entre os países — comerciais, de serviços e financeiros — atingiu 3,51% do PIB, um pouco acima do limite de alerta de 3,5% a partir do qual uma fragilidade externa começa a se formar. No entanto, o resultado negativo se estabilizou com a perda de ímpeto da economia. Os principais itens que representam transferência de divisas para o exterior caíram. O afluxo de recursos externos melhorou, em grande parte devido aos juros muito elevados.

A origem do contínuo movimento para cima do déficit externo, que saiu de cerca de 1,4% do PIB, quando o presidente Lula assumiu em 2023, para 3,5% do PIB, se deve ao aquecimento da economia brasileira. Isso se traduziu em um aumento das importações maior que o das exportações, reduzindo o saldo comercial, que tem peso essencial nesse equilíbrio — é a fonte maior, às vezes única, de obtenção de divisas fortes em países como o Brasil.

A expansão da economia aumenta a demanda por serviços externos, como transportes e viagens, contas nas quais o país é tradicionalmente deficitário.

Tão logo a economia começou a desacelerar, o déficit estacionou. Em 2025, a situação do lado externo ainda pode melhorar, indica o Relatório de Política Monetária do Banco Central. O déficit na conta de serviços, como reflexo do aumento das importações (mais transportes e mais gastos com aluguel de equipamentos), deve ser menor que em 2024. Na renda primária, o resultado negativo pode ser um pouco maior pela revisão estatística feita pelo BC, que encolheu os lucros, reduzindo as despesas líquidas de lucros e dividendos. Com o menor aumento dos aportes de fora, reduz-se o pagamento dos juros externos.

Em agosto, quando o déficit em transações correntes estancou, houve aumento das exportações e do saldo comercial, o que retirou US$ 1,7 bilhão do resultado de US$ 2,5 bilhões da conta desfavorável ao Brasil. O desaquecimento doméstico reduziu a conta de serviços em US$ 1,1 bilhão. O resultado das empresas no país ainda se mantém em bom nível, elevando a remessa de lucros e dividendos ao exterior a US$ 4,9 bilhões, ante US$ 4,65 bilhões em 2024 no acumulado do mesmo período.

O lado financeiro da equação das contas correntes pode equilibrar ou não os riscos externos. No caso do Brasil, os investimentos diretos, que têm mantido admirável constância mesmo em épocas de recessão e turbulências, ao redor de US$ 70 bilhões, serviram até um par de meses atrás para cobrir com folga as demais contas negativas em dólares. Não se prevê queda na entrada desses investimentos, que estão ao redor de 3,18% do PIB. O IDP é composto por participação no capital e empréstimos entre companhias. Em agosto, a participação no capital, que representa o investimento doméstico genuíno, somou US$ 6,2 bilhões. Já o empréstimos, que tendem a ser um componente de maximização de receitas financeiras quando o diferencial entre as taxas de juros domésticas e externas oferecem boas oportunidades de arbitragem (carry trade), somaram US$ 1,7 bilhão, e tendem a crescer enquanto os juros altos permanecerem no cenário.

Em 2026, segundo o BC, salvo abrupto agravamento de um cenário externo adverso, os investimentos diretos permanecerão em US$ 70 bilhões, enquanto as empresas cujas exportações nos setores não foram atingidas pelo tarifaço dos EUA devem crescer e estimular aportes de capital externo. As remessas de lucros e dividendos, pela desaceleração doméstica, devem se reduzir.

Outras contas podem jogar modestamente a favor do Brasil. As aplicações externas em renda fixa, atraídas por juros elevados, superaram tranquilamente em agosto a pequena saída de capital da renda variável, que, pela previsão, não deve ter retração importante, salvo reprecificação abrupta dos ativos, sempre possível pelo alto nível de incertezas do cenário externo. De qualquer forma, segundo o BC, os investimentos em carteira propiciarão entrada líquida “moderadamente positiva e concentrada em títulos”. Tudo somado, o déficit em conta corrente cairá de US$ 70 bilhões para US$ 58 bilhões, favorecida pelo diferencial de juros.

A desarrumação potencialmente perigosa das contas externas, advinda dos estímulos fiscais do governo, fez do Brasil novamente um devedor líquido, após muitos anos em que as reservas internacionais foram superiores à dívida externa. Mesmo assim, não há vulnerabilidade expressiva. Após recuo para US$ 230 bilhões, para conter a megadesvalorização do real em fim de 2024, as reservas internacionais voltaram a crescer, estão hoje em US$ 355,15 bilhões e são suficientes para proteger o país de fortes turbulências externas. Mas é preciso cuidar das contas internas para evitar futuros flancos abertos.

O Brasil ganha quando o bolsonarismo perde

Por O Estado de S. Paulo

Não estão sendo dias fáceis para Bolsonaro e sua grei, após uma série de reveses políticos e judiciais. É possível que o bolsonarismo se recupere, mas, enquanto isso, o País respira melhor

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), seu fiel amigo blogueiro, Paulo Figueiredo, e outros empedernidos soldados bolsonaristas até que tentaram disfarçar o desconforto e entoar uma mensagem triunfante, mas os últimos dias sacramentaram uma tendência inquestionável: a sucessão de derrotas políticas deixou o bolsonarismo ainda mais enfraquecido e isolado. Pode-se atribuir seus reveses a uma suposta perseguição política do Judiciário, a uma eventual traição do Centrão, ao nono círculo do inferno de Dante, a uma maré de azar ou aos efeitos tardios do Mercúrio retrógrado passado, mas nada disso esconde o essencial, isto é, está-se diante de uma espiral descendente que atormenta o bolsonarismo. E quando este perde, é o Brasil que ganha.

malaise bolsonarista chegou ao ápice na Assembleia-Geral da ONU, onde Donald Trump fez a inesperada declaração sobre a “excelente química” que sentiu nos poucos segundos de conversa que teve com o presidente Lula da Silva. Trump não só mencionou o demiurgo petista de forma positiva, depois de jamais citá-lo em declarações anteriores, como anunciou um encontro entre os dois e nem sequer citou o nome de Jair Bolsonaro. Pode não dar em nada, mas o gesto já é o suficiente para promover algo impensável até aqui – um canal de diálogo e negociação entre os dois mandatários. É tudo o que os Bolsonaros mais abominam, já que, dispostos a tudo em nome dos interesses do mito fundador do bolsonarismo, usaram seus contatos no governo americano para chantagear o Brasil e suas instituições.

Mas houve mais. As mais recentes manifestações de rua, por exemplo, mostraram o tamanho da insatisfação dos brasileiros contra a blindagem de parlamentares ante investigações criminais e a concessão de anistia “ampla, geral e irrestrita” a Jair Bolsonaro e outros golpistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Se é um erro reduzir os protestos a um triunfo da esquerda, também é um erro negar que o número de manifestantes em todas as capitais no fundo mostrou que Bolsonaro não é mais senhor das ruas. A eloquência da reação popular arrefeceu ainda mais o entusiasmo do Congresso para a anistia – uma agenda que já deveria estar sepultada – e para proteger a si mesmo.

Além disso, a Procuradoria-Geral da República denunciou o deputado Eduardo Bolsonaro por “coação” na Ação Penal 2.668, que julga a trama golpista; o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), rejeitou a tentativa do PL de blindar o filho “Zero Três” das ausências às sessões da Casa, um dos caminhos possíveis para cassar-lhe o mandato; o Conselho de Ética da Câmara instaurou processo que pede a sua cassação por agir contra os interesses brasileiros, trabalhar a favor de sanções dos EUA a autoridades brasileiras, atacar o STF e incitar a ruptura democrática; e partidos do Centrão vêm fazendo acenos a uma candidatura à Presidência que não leve o sobrenome Bolsonaro.

O infortúnio parece evidente e não é fruto apenas das circunstâncias externas. É resultado sobretudo dos próprios erros e da fadiga nacional com esses inconformados com a democracia. Recorde-se que Bolsonaro se elegeu num tsunami conservador e antissistema. Entre outras bandeiras, propunha o amor à Pátria contra a ordem globalista que violava a soberania nacional e a rejeição à velha política, vista como corrupta. Acreditou quem quis. Em sua cruzada, trabalhou para minar a Justiça Eleitoral, sucumbiu à velha política, atacou a democracia, tentou dar o golpe e foi vencido, limitado pelos diques de contenção das instituições democráticas. A partir daí, o bolsonarismo se restringiu a uma pauta única: livrar o seu principal líder do julgamento e da cadeia. Nada mais lhe importa – nem mesmo a Pátria.

Ainda é válida a velha máxima cunhada pelo ex-governador mineiro Magalhães Pinto, segundo a qual política é como nuvem: você olha e ela está de um jeito; olha de novo e ela já mudou. Não está escrito nas estrelas, portanto, nem que o calvário bolsonarista prosseguirá nem que seus métodos conseguirão seduzir alguém fora do mais restrito grupo de liberticidas inconsequentes. Mas considerando a atual direção e ritmo dos ventos, o Brasil pode começar a vislumbrar como real a chance de se ver livre dessa força política reacionária e destrutiva que tanto mal vem fazendo ao País.

Truque com meta fiscal não engana ninguém

Por O Estado de S. Paulo

TCU enquadra governo Lula da Silva ao decidir que leis exigem a busca do centro da meta fiscal, e não de seu limite inferior, prática que o Executivo adota para não ter de cortar gastos

O Tribunal de Contas da União (TCU) subiu o tom na semana passada ao deixar claro que a estratégia adotada pelo governo Lula da Silva de perseguir o piso em vez do centro da meta de resultado primário desrespeita as normas fiscais. O plenário da corte de contas optou por “dar ciência” à equipe econômica sobre a irregularidade dessa prática, o que é praticamente um conselho para que o procedimento seja revisto antes que os envolvidos acabem por ser responsabilizados.

Para o TCU, a banda deveria ser utilizada para acomodar situações atípicas, como a ajuda emergencial para enfrentamento das enchentes no Rio Grande do Sul e dos incêndios no Norte e no Centro-Oeste, o auxílio aos exportadores prejudicados pelo tarifaço imposto pelos Estados Unidos e a regularização do pagamento dos precatórios.

A meta fiscal para este ano é de déficit zero, mas o piso permite um saldo negativo de até R$ 31 bilhões. Como busca o limite inferior em vez do centro, não há espaço no Orçamento para acomodar qualquer tipo de imprevisto, e o Executivo precisa da autorização do Congresso ou da boa vontade do Supremo Tribunal Federal (STF) para contabilizar gastos adicionais fora da meta.

A questão é que essas despesas não apenas não desaparecem como elevam a dívida bruta, o que expõe a fraqueza do arcabouço fiscal, cujo objetivo é estabilizá-la na proporção do Produto Interno Bruto (PIB), algo que os indicadores mostram que não tem acontecido nem deve ocorrer no médio prazo. Essa, aliás, é uma das razões que explicam o elevado nível de juros no País.

O governo vai recorrer da decisão do TCU, e enquanto o recurso não for julgado, seus efeitos estão suspensos. Haddad, no entanto, não parece estar preocupado, muito embora precise convencer a corte de contas de que a meta é uma banda – e não um ponto – e que o cumprimento de uma decisão como essa pode paralisar a máquina pública.

Caso tenha de cumpri-la, o governo terá de contingenciar R$ 30,2 bilhões em despesas, além dos R$ 12,1 bilhões já bloqueados, ou encontrar novas fontes de receitas para arrecadar esse valor ainda neste ano. E em 2026, tudo o que o Executivo quer evitar é ter de congelar gastos em um ano no qual o presidente Lula da Silva deve concorrer à reeleição.

Haddad pretende se escorar no fato de que o Congresso recusou uma proposta do governo Lula para flexibilizar as despesas do Orçamento – e que, segundo ele, se aprovada, daria condições ao Executivo para buscar o centro da meta fiscal. É uma explicação capciosa, pois foi o próprio governo quem propôs, no texto que criou o arcabouço fiscal, que a meta seria cumprida se o piso fosse atingido.

Não é apenas o TCU que cobra do governo que persiga o centro da meta fiscal. Essa é uma análise compartilhada pela maioria dos economistas e especialistas em contas públicas. Fato é que Haddad se aproveita da profusão de emendas constitucionais, leis complementares e leis ordinárias que envolvem a área fiscal para obter a interpretação mais favorável possível ao governo, que sabidamente resiste a cortar gastos tanto de maneira definitiva, via reformas, quanto temporária, com bloqueios e contingenciamentos.

Por outro lado, a agenda de recuperação de receitas defendida por Haddad tem esbarrado nos limites do Congresso. O governo ainda precisa que o Legislativo aprove a medida provisória que acaba com a isenção de títulos como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e que amplia a tributação das bets, enviada em junho.

Até o fim de novembro, quando haverá uma nova revisão bimestral do Orçamento, o País saberá se a decisão do TCU será levada a sério pelo governo ou se será apenas mais um jogo de cena às vésperas das eleições presidenciais. Enquanto isso, Haddad continuará a dizer que o governo busca o centro da meta, embora todas as suas práticas apontem para o piso. Foi por isso, afinal, que Lula da Silva engoliu o arcabouço fiscal proposto pelo ministro: porque sabia que ele funcionaria assim, na exata medida de suas necessidades eleitorais.

Não é assim que se faz

Por O Estado de S. Paulo

Disputa sobre a Enel só ajuda quem está em campanha eleitoral, não o consumidor

O diapasão utilizado pelo governador Tarcísio de Freitas nas críticas à distribuidora Enel em reunião com prefeitos de São Paulo mostra como a disputa político-partidária e eleitoral pode distorcer a busca por soluções operacionais e administrativas. Reclamando dos danos das chuvas na região metropolitana, o governador declarou que vai “lutar com todas as forças até o fim para varrer essa concessionária ruim do nosso Estado”.

A fala, em tom de discurso, ocorreu em encontro fechado, no dia seguinte ao temporal que derrubou árvores em todo o Estado, deixou mais de 300 imóveis sem luz na Grande São Paulo e causou estragos em cidades do interior. Era previsível que a declaração se tornasse pública imediatamente após reunião tão ampla. E também que não tardasse a reação do governo federal, a quem cabem, de fato, a concessão e a fiscalização dos serviços de energia elétrica.

E assim foi: em evento no Rio, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ironizou o “linguajar populista” do governador, que se juntava ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, na pressão pelo fim da concessão da Enel. Nunes havia alcançado a proeza de atribuir à distribuidora a culpa pela demora na remoção de árvores caídas.

Fica a Enel como saco de pancadas de políticos em evidente campanha, incapazes de assumir as próprias responsabilidades. Não que a Enel seja isenta de responsabilidade pelos transtornos sofridos pela população, mas é uma vilã muito conveniente, como destacamos neste espaço há cerca de um ano, quando a mesma tática foi usada pelo prefeito durante o apagão que se estendeu por dias após chuva e vendaval. Alvo da artilharia do prefeito, a empresa alegou que cumpria rigorosamente os termos do contrato de concessão – o que era verdade e continua sendo, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Dentre as 31 maiores concessionárias de grande porte, a Enel permanece em 21.º lugar no ranking de prestação do serviço, com níveis aceitáveis em indicadores de frequência e duração de interrupções. Não se trata de defender a empresa – que tem obrigação de aperfeiçoar seu trabalho –, mas de apontar competências.

Não cabe ao governo do Estado e muito menos às prefeituras deliberar sobre concessões de energia elétrica, uma atribuição federal. A atuação conjunta de União, Estados e municípios é positiva e auspiciosa desde que dirigida ao bem coletivo, o que nitidamente não é o caso.

Tarcísio (Republicanos) busca rivalizar com o lulopetismo em questão que não deveria sair da seara técnica. Diz não haver cabimento “que alguém cogite a prorrogação antecipada do contrato”, numa referência clara ao ministro Silveira (PSD), que pressiona a Aneel para acelerar as renovações das concessões “sem entrar em politicagem”, numa alusão também nada sutil. Sandoval Feitosa, presidente da Aneel, se viu obrigado a informar ao ministro que a agência não é um órgão político.

Aturdido no meio da confusão está o consumidor, sem ter a quem recorrer para dispor de um serviço de qualidade. Se o contrato é o problema, está aí uma oportunidade de propor uma revisão técnica. Ameaçar quem cumpre contratos afasta investidores, algo que o governador certamente deve saber.

O dever do Brasil para a educação de qualidade

Por Correio Braziliense

O país tem de olhar para as desigualdades e para os problemas com a coragem à altura dos desafios

Considerado uma referência no monitoramento público dos dados educacionais do país, o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 foi divulgado na última quinta-feira. Em sua 12ª edição, o levantamento revela distorções e desafios que ainda precisam ser enfrentados. Os problemas são diversos: vão da infraestrutura ao aprendizado.

Segundo o documento, apenas 79% das escolas são atendidas por serviço de coleta de lixo e somente 48,2% estão conectadas à rede de esgoto. Também há deficit na oferta de espaços de aprendizagem, como bibliotecas e salas de leitura, presentes apenas em 47,2% das instituições públicas; assim como de quadra de esportes, em 37% delas; e de laboratório de informática (27%).

Outra informação apresentada no relatório diz respeito à proporção de estudantes com aprendizagem adequada em língua portuguesa e matemática ao concluírem o ensino médio. Os números assustam: 7,7% em 2023 — estatística que engloba as redes pública e privada e é inferior a registros anteriores: 8,3% em 2013 e 10,3% em 2019 (pré-pandemia).

O índice acende um sinal de alerta diante da importância que o ensino médio desempenha na formação dos estudantes e, consequentemente, no futuro que será traçado para o Brasil. Reta final para a entrada em uma universidade ou em outra formação profissionalizante, os três anos dedicados a essa fase dos estudos podem ser definitivos na vida profissional de muitos jovens.

Em 2024, a Política Nacional de Ensino Médio foi instituída, por meio da Lei nº 14.945, com o intuito de reestruturar pontos dessa etapa da educação, com a expectativa, por parte do governo federal e de especialistas, de promover um incremento da carga horária mínima para levar à implementação de um conteúdo mais abrangente. Os esforços, porém, precisam ir além. 

O país segue tentando solucionar problemas históricos, como assegurar o aprendizado efetivo, investir na infraestrutura, equipar as instituições, melhorar as condições de trabalho dos educadores, reduzir as desigualdades nas salas de aula e combater a evasão escolar. E esse cenário de entraves complica o avanço em um ponto primordial da atualidade: a introdução da inteligência artificial (IA) nas salas de aula.

Dados da pesquisa Perfil e desafios dos professores da educação básica no Brasil, divulgada em 8 de abril pelo Instituto Semesp — que representa mantenedoras de nível superior — revelam que três em cada quatro educadores aprovam a utilização da IA. O acesso a aplicativos que facilitam o desempenho dos alunos e auxiliam o planejamento dos professores é classificado como positivo. Por outro lado, são levantadas dúvidas quanto a possíveis ameaças ao trabalho dos docentes e o uso de ferramentas, como o ChatGPT, pelos estudantes para a realização de atividades que precisam ser desempenhadas por eles. 

Fato é que o país precisa vencer muitas provas para atingir um ensino de qualidade para toda a população. Diante das mudanças do mundo globalizado, ficar à parte de uma educação de ponta representa estagnação social e econômica. O Brasil tem de olhar para as desigualdades e para os problemas com a coragem à altura dos desafios. A educação, essencial para o desenvolvimento, deve estar no foco dos brasileiros. Esse é um dever que o país ainda precisa cumprir.

Sobretudo, uma celebração ao Cariri

Por O Povo (CE)

Os eventos que O POVO promove nesta semana na Região são também uma forma de celebrar essa pujança e destacar o Cariri como uma das regiões mais bem estruturadas e promissoras de todo o Nordeste

A semana que começa intensifica a já forte relação do O POVO com a Região do Cariri. Nesta segunda-feira, 29, será lançado, em cerimônia em Juazeiro do Norte, o Anuário do Ceará. Pela primeira vez na história, a publicação impressa mais antiga em circulação no Ceará, com mais de 150 anos, é lançada em uma solenidade na Região. Na próxima quinta, 2 de outubro, chega ao Cariri o Futura Trends, um dos maiores seminários de formação executiva do Nordeste. Será realizado em evento em Crato pela primeira vez, após 15 anos de um encontro bem-sucedido a cada ano em Fortaleza.

Os eventos apresentam a relevância que o Grupo de Comunicação O POVO imprime ao Cariri, região de incomparável riqueza cultural e simbólica, caracterizada pela valorosa diversidade. Do Expocrato à festa do Pau da Bandeira em Barbalha, passando pelos eventos do Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, são inúmeras as ações, ao longo do ano, que convidam a um passeio pela cultura e pela arte caririense.

A importância da Região é também econômica, política, religiosa, paleontológica e social. Imensurável, portanto. Figuras como o Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, e Menina Benigna, em Santana no Cariri, catalisam o turismo religioso, levando centenas de milhares de peregrinos ao local. Numa demonstração de fé e esperança, o romeiro faz as suas preces e agradece a intercessão ao tempo em que movimenta a economia e contribui para aquecer o comércio.

A propósito, essa economia dos 29 municípios da Região é robusta. No ano de 2024, o PIB da região totalizou R$ 14,67 bilhões, o equivalente a 7,53% do PIB do Ceará. Juazeiro do Norte concentra aproximadamente 36% do PIB regional. Também é inegável atestar o polo educacional que se formou no local. A presença de instituições de ensino superior públicas e privadas capacita a população, atrai mais gente à região e gera empregos. Na saúde, a presença de hospitais de alta complexidade, o fortalecimento do ensino superior na saúde e a oferta dos cursos de saúde em diversas instituições impõem o Cariri como um polo também nesse quesito.

Não à toa, a Rádio O POVO CBN Cariri está, há quase 7 anos, em funcionamento com excelência. "A rádio que toca notícia" é pioneira no conceito all news na Região Metropolitana do Cariri, apresentando qualidade nos debates e conteúdo de credibilidade e de relevância para os cearenses. Além disso, a entrada do O POVO, impresso e digital, das redes sociais e dos conteúdos do O POVO ressalta o valor com que o Grupo vê o Cariri.

Assim, os eventos que O POVO promove nesta semana na Região são também uma forma de celebrar essa pujança e destacar o Cariri como uma das regiões mais bem estruturadas e promissoras de todo o Nordeste. A capacidade que o local tem de gerar emprego, promover riqueza, assegurar a capacitação e difundir o conhecimento é um eixo fundamental para o desenvolvimento sustentável de todo o Estado.

 

 

 

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