Folha de S. Paulo
Sinais na economia e na política, como queda
da inflação e confusão na direita, sopram ventos favoráveis ao presidente
"O povo tinha razão de estar meio puto
porque o feijão estava caro, a carne estava cara. O povo tem razão e agora nós
temos que ter o compromisso de melhorar e as coisas estão melhorando",
disse Lula em entrevista a
Reinaldo Azevedo, na Bandnews, na terça (12). Não se pode dizer que
o presidente esteja fora da realidade. Os ventos estão mudando a seu favor.
Quem, por exemplo, esperava ou torcia por uma tempestade econômica provocada pelas sanções tarifárias determinadas por Donald Trump, até aqui pelo menos não se deu muito bem. A cotação do dólar, que já vinha cedendo, recuou ainda mais e chegou, na terça (12), ao mais baixo valor em 14 meses.
Paralelamente, como seria de esperar, a
inflação de alimentos recuou. Os índices de elevação dos preços, de
uma maneira geral, vão deixando para trás previsões alarmistas sobre escaladas
catastróficas causadas pela política fiscal de "gastança" do governo
federal.
Neste quesito, é fato que há o que ser feito
pelo lado da despesa, porém não estamos em queda livre no abismo alardeado por
certo fiscalismo alarmista. A busca de justiça tributária, que tem bastante a
avançar, é uma estratégia promissora, apesar das resistências —enquanto o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mostra tenacidade no cumprimento dos compromissos
previstos em regras do arcabouço fiscal.
Também nesse terreno, o aumento da faixa de
isenção do Imposto Renda, por mais que o Congresso tente cozinhar a votação,
virá e terá efeito positivo para o governo. Não falemos dos já conhecidos
ganhos na renda média, do crescimento com aumento do PIB per capita, da baixa
taxa de desemprego e de outras bondades a caminho. A reação firme e ponderada
do governo à investida de Trump em aliança com a ralé golpista também ajuda.
"Ah, mas o presidente permaneceu
com avaliação fraca no Datafolha mesmo depois do tarifaço". É
verdade, mas a pesquisa foi realizada num momento em que seria praticamente
impossível registrar alguma variação mais significativa. Foi depois do
Datafolha que Trump recuou na taxação de centenas de itens e acenou com
possibilidade de falar com Lula. De todo modo, o presidente passou a vencer todos
os seus possíveis concorrente fora da margem de erro nos cenários de segundo
turno. Veio agora o anúncio bem recebido do pacote de apoio aos
setores atingidos pelas sanções.
Assistimos ao mesmo tempo à turbulência
gerada pelo desespero da extrema direita que vê se aproximar a condenação de
Jair Bolsonaro e dos envolvidos na tentativa de golpe. Associados aos radicais
no antipetismo, setores que se apresentam como direita moderada mal disfarçam a
piscadela para Trump, enquanto alimentam os ânimos contra o Supremo. O que
acontecerá se Bolsonaro for sentenciado? Caos? Bem, Lula já foi condenado e
preso, não teremos exatamente uma novidade.
O fato é que o cenário é adverso ao bolsonarismo.
A direita não tem neste momento um candidato forte definido. Está desunida e
temerosa. O governador paulista, Tarcísio de Freitas, tido como o preferido do
establishment, teria que se afastar em abril para concorrer. Arriscará? Já Lula
pode esperar. É osso duríssimo de roer. Tem vulto histórico, máquina federal,
muita experiência eleitoral e conquistas a mostrar.
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