Folha de S. Paulo
Julgamento de Bolsonaro, lei de big techs,
raiva de Rubio e Rússia são próximos riscos
É raro Donald Trump dedicar
ao Brasil mais do que poucas frases de suas falações. Nesta quinta, a algaravia
antibrasileira foi mais longa. Avacalhou
a política comercial, a Justiça e disse que Jair Bolsonaro passa por
"execução política".
Na Casa Branca, respondia a pergunta sobre
México e Brasil se aproximarem da China (disse
que não está nem aí). Mas Trump não fez mais ameaças ao Brasil. Vai bater mais?
O Brasil agora teria plano de reação?
Pode ser que estejamos fora do radar por
estes dias. Trump está entretido com a Ucrânia e em receber
em solo americano Vladimir Putin, persona non grata no mundo quase inteiro.
Sim, estamos na mira do secretário de Estado, Marco Rubio, que mandou tirar vistos de brasileiros relacionados ao Mais Médicos. A decisão, porém, pode ser apenas iniciativa mais particular de Rubio. Ao longo da vida, o agora chefe da política externa dos Estados Unidos prometeu dar um jeito na esquerda latino-americana, em Cuba em particular.
Depois de uma rodada de perguntas em
Brasília, fica-se com a impressão de que o governo não tem ideia do nível de
risco a que o país está sujeito.
Seria difícil de qualquer modo, pois se lida
com um governo autoritário, com um secretariado quase na maioria composto de
perturbados e incapazes, no nível baixo do ministério de Bolsonaro, presidido
por um alienado narcisista que quer ser imperador, um Augusto sociopata que
acabaria com a república americana. Ou, como disse um integrante do governo
japonês, "do outro lado não há alguém normal".
Isto posto, ainda não há conversa nem com
próximos relevantes da Casa Branca. Há quem acredite, baseado em conversas
empresariais e de lobbies, que pode até vir isenção
de tarifas para produtos como o café. Sobre o risco de sanções comerciais,
políticas e talvez financeiras, névoa.
Nas próximas semanas, Bolsonaro
e cúmplices serão julgados. Risco.
Pode ser que o governo Lula apresente
logo a regulação de plataformas de mídias sociais ou de "big techs".
Ainda está tudo confuso, mas o projeto pode se tornar motivo de campanha do
conluio da direita extrema daqui e dos EUA.
Aliás, o esboço de lei pode ser em si mesmo
ruim e intervencionista além da conta —se vier nesses termos, mal tramitaria,
diz um líder moderado do centrão. Mas "big tech" é assunto para Trump
e de lobbies trilionários. Risco.
Talvez a partir desta sexta se saiba o que
Trump pretende fazer de Putin e Ucrânia. A Índia entrou de gaiata nesse navio,
como se sabe, apanhando dos EUA por comprar petróleo russo.
Se Trump quiser pressionar Putin, pode
espetar mais cabeças em estacas, caso de outros importadores de produtos
russos, como o Brasil. Talvez apenas precise pegar o bonde de sanções que o
Congresso americano pode aprovar em breve.
Apenas em 2026 o poder de Trump talvez seja
contestado, na Justiça ou na eleição parlamentar. Serão meses de risco alto. O
governo está desinformado e apenas esboça projeto de reação vago ou de
resultado incerto (conversas com Brics e países da Europa; paliativos como o
pacote de ajuda a empresas).
No mais, a parte do país com algum poder parece
desnorteada, na melhor das hipóteses, ou tira casquinha da crise ou se dedica à
conspiração.
O meteoro nos ronda. Parte do país, do
eleitorado e de classes poderosas apoia o ataque americano e não se dá conta
prática da reconfiguração econômica do mundo, caso patológico de desunião e
destruição.
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