O Estado de S. Paulo
Eduardo Bolsonaro jogou Hugo Motta, Davi Alcolumbre e Centrão contra o novo golpe
Assim como Donald Trump quer dominar o mundo,
mas empurra países e blocos para a órbita da China, Eduardo Bolsonaro tenta
controlar o Congresso, mas jogando os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do
Senado, Davi Alcolumbre, no colo do presidente Lula. Guardadas as devidas (e
óbvias) proporções, Trump e o 03 confirmam que têm, pelo menos, três problemas
em comum: ódio, megalomania e falta de estratégia. Agem por impulso, com o
fígado.
A guinada de Motta é evidente. Antes, cauteloso com as palavras e o tom, para se equilibrar entre oposição e governo e ter apoio e suporte do Centrão, que é quem manda no Congresso, Motta passou a assumir posições claras, sem papas na língua, após as chantagens de Eduardo Bolsonaro pelas redes sociais e, principalmente, depois da invasão bolsonarista no plenário, com o sequestro de sua própria cadeira.
É esse “novo Motta” que “não vê clima para
anistiar quem planejou matar pessoas” e não apenas desconsidera pôr em pauta
qualquer projeto para livrar a cara de Jair Bolsonaro como assume
ostensivamente que confia nas provas e sabe – como qualquer pessoa – que a
trama golpista para evitar a posse de Lula foi real, a ponto de incluir o plano
de assassinar Lula, Geraldo Alckmin e o então presidente do TSE, Alexandre de
Moraes. Um plano, aliás, impresso no Planalto e levado dali diretamente para o
Alvorada.
Além disso, Motta defendeu que a Corregedoria
seja “firme” contra os líderes do motim na Câmara e divulgou a pauta sem
anistia e também sem fim do foro privilegiado (uma isca do PL para atrair o
Centrão). Mas o principal são seus sucessivos recados para Eduardo Bolsonaro,
numa linha que significa: “Não tenho medo de você”, ou, coloquialmente, “não
vem que não tem”.
Segundo o presidente da Câmara, o 03 morar
nos EUA é “incompatível com o mandato”, porque “não existe mandato a
distância”, e mais: a atuação do quase ex-deputado no exterior “traz danos ao
País”, “não é razoável” e “ninguém pode concordar”. Sim, ninguém pode concordar
com a ação antipatriótica de quem quer que seja, muito menos de quem é
representante do povo. Logo, quem há de discordar de Hugo Motta?
Os ataques e ameaças de Eduardo Bolsonaro são
a Hugo Motta e a Alcolumbre, que não são “apenas” presidentes da Câmara e do
Senado, com a caneta e a pauta nas mãos, mas também líderes legítimos do
Centrão. Com eles e o Centrão, o PL e os bolsonaristas são uns; sem, são
outros, muito diferentes. A aposta é que, como resistiu ao golpe de Bolsonaro
com militares, o Congresso também resista ao novo golpe do mesmo Bolsonaro,
agora com EUA e Trump. Que assim seja.
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