sábado, 27 de setembro de 2025

Por um Brasil mais aberto, próspero e justo. Por Bolívar Lamounier

O Estado de S. Paulo

Permitam-me fazer-lhes uma convocação. Chega de choradeira, chega de cabeça baixa. Vamos levantar a cabeça e agir

Caríssimos leitores e leitoras, sabemos todos que a eleição de 2026 tem tudo para produzir um efeito profundo nos destinos de nosso país. Permitam-me fazer-lhes uma convocação. Chega de choradeira, chega de cabeça baixa. Vamos levantar a cabeça e agir. Não é concebível que 213 milhões de cidadãos se curvem aos desmandos de uma meia dúzia em Brasília. Isso é aceitar insulto em cima de injúria.

Minha proposta – e creio que vocês a verão como realista – é contatar 1 milhão de cidadãos sérios para que eles multipliquem esse esforço, identificando o maior número possível de pessoas igualmente sérias, atiladas, corajosas, competentes e com vocação de liderança. A ideia é motivar essas pessoas a se candidatarem a deputado federal e, onde for realista, a senador. Penso que um esforço dessa envergadura há de eleger um número suficiente, pelo menos, para modificar o “clima” que tem prevalecido na Câmara federal. É pouco? Sim, é pouquíssimo. Mas é melhor do que nada, e muito melhor que permanecer de cabeça baixa.

Essa convocação não parte de um vazio. Parte de uma base: um esboço de programa de governo, fundado em cinco pontos fundamentais (ver abaixo). Aos que estiverem de acordo com ele, ou pelo menos que o considerem digno de debate, peço compartilhálo com conhecidos, amigos, parentes e instituições, do Oiapoque ao Chuí. Aos que não estiverem de acordo, apelo a que proponham outro.

Permito-me apresentarlhes a seguir o esboço de programa a que me referi.

1) Crescimento com abertura e produtividade: reinserir o Brasil nas cadeias globais de valor com acordos comerciais estratégicos, redução de barreiras tarifárias e estímulo à exportação de bens industriais e serviços. Reformar o sistema tributário para simplificar e premiar o investimento produtivo. Promover políticas de concorrência e inovação tecnológica como motores do crescimento;

2) Responsabilidade fiscal com qualidade do gasto público: consolidar o equilíbrio das contas públicas, com foco no controle da dívida e na previsibilidade de regras fiscais. Substituir gastos ineficientes por investimentos em capital humano, infraestrutura e segurança pública. Fortalecer mecanismos de avaliação e transparência na gestão pública;

3) Educação e primeira infância como prioridades nacionais: universalizar o acesso à creche de qualidade e à préescola. Melhorar a formação e remuneração de professores. Criar incentivos federais para que Estados e municípios avancem em alfabetização na idade certa e combate à evasão no ensino médio;

4) Transição ecológica e reindustrialização verde: tornar o Brasil líder global em energias renováveis, descarbonização da agropecuária e produção de i nsumos verdes. Criar uma nova política industrial voltada para cadeias produtivas de baixo carbono, com crédito, P&D e parcerias público-privadas; e

5) Redução da desigualdade com oportunidades e proteção social eficaz: aprimorar o programa de transferência de renda com foco em condicionalidades e emancipação. Ampliar a cobertura do seguro-desemprego e da Previdência para trabalhadores informais. Estimular o emprego com políticas ativas de inserção no mercado de trabalho, especialmente para jovens e mulheres.

Feita essa convocação, vem a pergunta-chave: quem poderá liderar uma transformação dessa ordem? Os nomes que logo vêm à nossa mente talvez possam. Ou não. Fora de dúvida é que Jair Bolsonaro está fora do baralho; só não estará se os titulares de nossas instituições federais perderem de vez o rumo. Lula contorce-se para aproveitar a oportunidade que o sr. Donald Trump lhe ofereceu para posar de estadista. Só os muito obtusos não percebem que a reeleição dele aprofundará a crise a que estamos fadados em razão da “armadilha da renda” média. Observe-se que essa perspectiva tem como pano de fundo um quadro mundial macabro. Os Estados Unidos, a outrora exemplar democracia, têm na Presidência o abilolado sr. Trump. Percebendo-o, creio eu, como o principal perigo do momento para a ordem internacional, quem está se apresentando para o papel de “poder moderador” mundial, imaginem, é ninguém menos que a China continental.

Voltando ao Brasil, peço vênia para martelar uma tecla que já tive ocasião de expor neste espaço. O grande omisso político de nossa sociedade são as camadas genericamente designadas como “classe média”. Daqueles cinco ou seis por cento que compõem a ultraelite econômica, que detêm metade da riqueza e da renda, não me parece que devamos esperar algo útil. Na outra ponta, seria puro humor negro esperar um protagonismo importante dos 30% que mal sabem como vão se alimentar amanhã.

Da classe média somos forçados a esperar muito, mas o fato é que pouco ou nada sabemos sobre ela. É homogênea no tocante a valores políticos? Tem sequer uma tênue consciência da importante mudança para melhor que poderia propiciar ao País ou do desastre em proporções porteñas a que poderá ser levada (a primeira classe também cai) se optar ad aeternum pela preguiça e pela mediocridade?

 

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