O Estado de S. Paulo
Permitam-me fazer-lhes uma convocação. Chega de choradeira, chega de cabeça baixa. Vamos levantar a cabeça e agir
Caríssimos leitores e leitoras, sabemos todos
que a eleição de 2026 tem tudo para produzir um efeito profundo nos destinos de
nosso país. Permitam-me fazer-lhes uma convocação. Chega de choradeira, chega
de cabeça baixa. Vamos levantar a cabeça e agir. Não é concebível que 213
milhões de cidadãos se curvem aos desmandos de uma meia dúzia em Brasília. Isso
é aceitar insulto em cima de injúria.
Minha proposta – e creio que vocês a verão como realista – é contatar 1 milhão de cidadãos sérios para que eles multipliquem esse esforço, identificando o maior número possível de pessoas igualmente sérias, atiladas, corajosas, competentes e com vocação de liderança. A ideia é motivar essas pessoas a se candidatarem a deputado federal e, onde for realista, a senador. Penso que um esforço dessa envergadura há de eleger um número suficiente, pelo menos, para modificar o “clima” que tem prevalecido na Câmara federal. É pouco? Sim, é pouquíssimo. Mas é melhor do que nada, e muito melhor que permanecer de cabeça baixa.
Essa convocação não parte de um vazio. Parte
de uma base: um esboço de programa de governo, fundado em cinco pontos
fundamentais (ver abaixo). Aos que estiverem de acordo com ele, ou pelo menos
que o considerem digno de debate, peço compartilhálo com conhecidos, amigos,
parentes e instituições, do Oiapoque ao Chuí. Aos que não estiverem de acordo,
apelo a que proponham outro.
Permito-me apresentarlhes a seguir o esboço
de programa a que me referi.
1) Crescimento com abertura e produtividade:
reinserir o Brasil nas cadeias globais de valor com acordos comerciais
estratégicos, redução de barreiras tarifárias e estímulo à exportação de bens
industriais e serviços. Reformar o sistema tributário para simplificar e
premiar o investimento produtivo. Promover políticas de concorrência e inovação
tecnológica como motores do crescimento;
2) Responsabilidade fiscal com qualidade do
gasto público: consolidar o equilíbrio das contas públicas, com foco no
controle da dívida e na previsibilidade de regras fiscais. Substituir gastos
ineficientes por investimentos em capital humano, infraestrutura e segurança
pública. Fortalecer mecanismos de avaliação e transparência na gestão pública;
3) Educação e primeira infância como
prioridades nacionais: universalizar o acesso à creche de qualidade e à
préescola. Melhorar a formação e remuneração de professores. Criar incentivos
federais para que Estados e municípios avancem em alfabetização na idade certa
e combate à evasão no ensino médio;
4) Transição ecológica e reindustrialização
verde: tornar o Brasil líder global em energias renováveis, descarbonização da
agropecuária e produção de i nsumos verdes. Criar uma nova política industrial
voltada para cadeias produtivas de baixo carbono, com crédito, P&D e
parcerias público-privadas; e
5) Redução da desigualdade com oportunidades
e proteção social eficaz: aprimorar o programa de transferência de renda com
foco em condicionalidades e emancipação. Ampliar a cobertura do
seguro-desemprego e da Previdência para trabalhadores informais. Estimular o
emprego com políticas ativas de inserção no mercado de trabalho, especialmente
para jovens e mulheres.
Feita essa convocação, vem a pergunta-chave:
quem poderá liderar uma transformação dessa ordem? Os nomes que logo vêm à
nossa mente talvez possam. Ou não. Fora de dúvida é que Jair Bolsonaro está
fora do baralho; só não estará se os titulares de nossas instituições federais
perderem de vez o rumo. Lula contorce-se para aproveitar a oportunidade que o
sr. Donald Trump lhe ofereceu para posar de estadista. Só os muito obtusos não
percebem que a reeleição dele aprofundará a crise a que estamos fadados em
razão da “armadilha da renda” média. Observe-se que essa perspectiva tem como
pano de fundo um quadro mundial macabro. Os Estados Unidos, a outrora exemplar
democracia, têm na Presidência o abilolado sr. Trump. Percebendo-o, creio eu,
como o principal perigo do momento para a ordem internacional, quem está se
apresentando para o papel de “poder moderador” mundial, imaginem, é ninguém
menos que a China continental.
Voltando ao Brasil, peço vênia para martelar
uma tecla que já tive ocasião de expor neste espaço. O grande omisso político
de nossa sociedade são as camadas genericamente designadas como “classe média”.
Daqueles cinco ou seis por cento que compõem a ultraelite econômica, que detêm
metade da riqueza e da renda, não me parece que devamos esperar algo útil. Na
outra ponta, seria puro humor negro esperar um protagonismo importante dos 30%
que mal sabem como vão se alimentar amanhã.
Da classe média somos forçados a esperar
muito, mas o fato é que pouco ou nada sabemos sobre ela. É homogênea no tocante
a valores políticos? Tem sequer uma tênue consciência da importante mudança
para melhor que poderia propiciar ao País ou do desastre em proporções porteñas
a que poderá ser levada (a primeira classe também cai) se optar ad aeternum
pela preguiça e pela mediocridade?
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