Começamos 2021 em meio às incertezas do porvir. A última edição do Relatório de
Desenvolvimento Humano — “A próxima fronteira: desenvolvimento humano e o
antropoceno” — alerta sobre a queda no Índice de Desenvolvimento Humano — IDH
global — pela primeira vez em 30 anos.
A
pandemia de Covid-19 desencadeou uma crise que atinge duramente todas as
dimensões do desenvolvimento humano: renda — maior retração da atividade
econômica registrada desde a Grande Depressão; saúde — em escala global, foram
registradas 2.808.439 mortes; e educação — estudantes fora da escola e sem
acesso à internet para continuar a educação, e muitos que, provavelmente, já
não voltarão a estudar, ampliando as desigualdades existentes.
Em algumas dimensões do desenvolvimento humano, as condições de hoje são equivalentes aos níveis de privação vistos na década de 1980.
O
Gabinete do Relatório do Desenvolvimento Humano do PNUD (Human Development
Report Office — HDRO) estruturou simulações baseadas num IDH ajustado aos
impactos da crise. Com quase nove em cada dez alunos fora da escola, em escala
global, e recessões profundas na maioria das economias (que incluem estimativas
de queda de 4,4% na renda nacional bruta per capita em todo o mundo), o
declínio do IDH seria equivalente a anular todo o progresso no desenvolvimento
humano dos últimos seis anos.
O
choque econômico causado pela pandemia atingiu fortemente as pessoas e os
países. Em todos os níveis de desenvolvimento humano, as pessoas em grupos de
baixa renda são muito mais vulneráveis. A resposta econômica à crise deve
alcançar os elos fracos do tecido social e produtivo, apoiando suas capacidades
básicas e garantindo sua subsistência por meio de programas de transferência de
renda.
Para
países como o Brasil, isso representa uma excelente oportunidade para aprimorar
políticas públicas e apostar em propostas inovadoras de renda básica temporária
e renda básica universal.
Os
esforços a desenvolver no Brasil precisam ir além dos programas de assistência
financeira no curto prazo e exigem um investimento sustentado no futuro para
garantir o bem-estar e o trabalho digno aos trabalhadores e às empresas da
economia informal.
A
desigualdade no desenvolvimento humano afeta a capacidade dos países para
responder à Covid-19 e à tripla crise combinada e assimétrica: sanitária,
social e econômica.
Países
com baixo desenvolvimento humano dispõem de menos recursos para apoiar seus
sistemas de saúde se comparados aos países desenvolvidos. Neles, os gastos com
saúde são de 4,5% do PIB, em comparação com 12,1% nos países com
desenvolvimento humano muito alto (com PIB per capita 15 vezes maior).
Poucos
países estão conseguindo monitorar os impactos da Covid-19, o que é essencial
para a tomada de decisões em níveis nacionais. Países com baixo desenvolvimento
humano contam com apenas 0,2 médico por mil habitantes, em comparação com 3,1
médicos em países de desenvolvimento humano muito elevado.
Para
o Brasil, torna-se imperiosa a necessidade de ter a capacidade de desenvolver
novos produtos e serviços para se adaptar às atuais e futuras circunstâncias no
sistema de saúde. O investimento em pesquisa e desenvolvimento (em termos de
recursos financeiros e humanos), assim como a capacidade de inovar, está altamente
correlacionado com o nível de desenvolvimento.
Nos
últimos anos, eles têm sido reduzidos no país, levando-nos a crer que ainda não
foi construído o entendimento de que são e serão essenciais para o mundo e as
necessidades que se avizinham no século 21. Como dizia Peter Drucker, a melhor
maneira de prever o futuro é criá-lo.
*Representante-residente no Brasil do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Nenhum comentário:
Postar um comentário