Luiz Werneck Vianna – Todas as forças que de
algum modo se opõem a esse estado de coisas desgraçado em que nos encontramos.
Esse trabalho ainda está em construção. Ainda não se encontrou, por exemplo,
nomes que possam vir a representar esse
processo. Ulysses [Guimarães], Tancredo [Neves], nomes como
esses ainda não apareceram e, se apareceram, ainda não estão
conseguindo se projetar de maneira consensual. Tem que dar tempo ao tempo.
IHU On-Line – Como vê as disputas no campo da
centro-esquerda, com o retorno do ex-presidente Lula à cena política?
Luiz Werneck Vianna – Vai depender de arte.
Tem a volta do Lula – uma liderança relevante –, agora, é
preciso ouvir outras vozes. Lula, a meu ver, faria um papel muito mais
relevante como uma peça de articulação, abdicando das suas posições
pessoais. Lula como artífice da frente seria muito mais
importante do que Lula como candidato à presidência da República.
IHU On-Line - A crise gerada pela pandemia
representa e sinaliza uma transição ou o aprofundamento do nosso passado e do
nosso presente?
Luiz Werneck Vianna – Deveremos entrar
numa transição que, desta vez, não deixe intocado o nosso
passado. Desta vez, vai se ter um avanço quanto a isso, então, a transição vai
ser também dirigida para trás, vai ser para frente e para trás.
IHU On-Line - A pandemia deixará mais traumas na
sociedade brasileira?
Luiz Werneck Vianna – Mais traumatizada do que
a sociedade está... São Paulo, o estado mais rico da federação, Rio
Grande do Sul, Nordeste, a crise atinge a todos.
É claro que sem reflexão, sem pensamento, nada vai
andar. Não basta apenas um remédio; é preciso que se tenha um sentido, um
propósito, uma direção. Ainda mais agora, com o tema do meio ambiente,
dos direitos humanos, de uma sociedade mais igualitária. O tema da igualdade está
se impondo na agenda internacional. Novos tempos, novas agendas. Não podemos
mais ficar nos limites de um nacional-popular. Temos que pensar em
uma sociedade cosmopolita, quando a pandemia nos afunda a
pensar. Nenhuma sociedade sai da pandemia sozinha, é preciso um esforço
mundial. A pandemia varreu as fronteiras em toda parte.
O Papa Francisco tem essa compreensão ajustada da natureza do presente, quando se refere à paz, ao meio ambiente, à igualdade. Ele é uma força moral relevante; há outras.
*Luiz
Werneck Vianna, sociólogo, PUC-Rio. Entrevista. IHU On-Line, 31/3/2021.
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