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Mas para isso, o general Paulo Sérgio
Nogueira precisa da concordância do presidente da República, Jair Bolsonaro
(sem partido)
O general Eduardo Pazuello, ex-ministro da
Saúde, que discursou em defesa do governo no alto de um carro de som no
último domingo, no Rio, algo proibido a um militar da ativa pelo Regulamento Disciplinar do Exército, será punido apenas com
uma advertência. É nessa direção que caminha o desfecho do caso.
As outras punições previstas no Regulamento
são: censura, suspensão e até 30 dias de cadeia. Do fim da ditadura militar de
64 para cá, nenhum general foi preso. O espírito de corpo, entre eles, não
permite. Censura e suspensão são consignadas na folha que corresponde à sua
trajetória na carreira. Advertência, não.
Por isso é a pena mais branda. Fica de fora
da folha, é como se nunca tivesse existido. Hoje, em São Gabriel da Cachoeira,
interior do Amazonas, onde se encontrarão, o presidente Jair Bolsonaro, o
ministro da Defesa, general Braga Neto, e o comandante do Exército, general
Paulo Sérgio Nogueira, discutirão o assunto.
Pazuello tem mais um ano pela frente para continuar como general da ativa. Antes, só passará à reserva se quiser ou se for convencido a isso. Não quer. Está intransigente. Sente-se protegido pela farda. Alega que em breve voltará a depor na CPI da Covid e que precisará de retaguarda. Bolsonaro dá-lhe razão.
Não que lhe dedique especial afeto, embora
admire sua lealdade. Mas como ex-militar e Comandante Supremo das Forças
Armadas, Bolsonaro sabe que militar da ativa é proibido de participar de
manifestação político-partidária. Foi ele que atraiu Pazuello para a armadilha.
E o fez de propósito, e com a anuência do general.
Bolsonaro quer mostrar que é o dono da
caneta e transformar o “nosso Exército” no Exército dele, rendido às suas
vontades. A eleição do ano que vem chegou mais rápido do que deveria. Bolsonaro
teme não se reeleger. Desde já, está disposto a melar os resultados das urnas.
E, para isso, o apoio da farda seria vital.
Pazuello, um general cabeça de papel, não
passa de um peão que Bolsonaro controla; em respeito ao general, digamos um
cavalo no jogo de xadrez que obedece a todas as ordens do dono das peças. O
general Paulo Sérgio quer passar o pano em mais um episódio que enfraquece o
Exército, mas depende de Bolsonaro.
Ministro da Saúde dá sinais de cansaço na
luta contra o vírus
Falta vacina, Bolsonaro sabota seus
esforços e Marcelo Queiroga não pode livrar-se de auxiliares considerados
intocáveis
Marcelo Queiroga, médico cardiologista, o quarto ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro, tem um problema. Melhor, tem mais de um – o que significa que o país também os tem.
O problema que mais o aflige: falta vacina
para quem precisa dela, quase todo mundo. Problema seguinte: Bolsonaro continua
sabotando o seu trabalho. E outro: não manda no seus domínios.
Antes dele, dois outros ministros da Saúde,
de tanto serem sabotados pelo presidente da República, e por discordarem do uso
da cloroquina contra a Covid-19, largaram o emprego.
Mandetta não largou, foi demitido. Nelson
Teich largou com menos de um mês no cargo. Não é moleza, não. Como servir a um
presidente que não quer conselhos, mas obediência irrestrita?
Em uma audiência pública na Comissão de
Fiscalização e Controle da Câmara, Queiroga, atribuiu culpa ao Sistema Único de
Saúde pelo descontrole da crise sanitária causada pelo vírus:
“O nosso sistema de saúde padecia de
vicissitudes. Unidades hospitalares sucateadas, urgências lotadas, UTIs lotadas
e filas de cirurgias para serem realizadas”.
Esqueceu-se de dizer, porém, que em março
deste ano o governo federal cortou em 72% a verba destinada à manutenção de
leitos de UTI. A desdita de Queiroga alimenta-se também de outros fatos.
A previsão de doses de vacinas contra
Covid-19, a serem distribuídas aos Estados pelo Ministério da Saúde a partir de
junho, foi reduzida em 10,3 milhões, e logo agora.
Logo quando estão dadas as condições para
que a terceira onda da doença se abata sobre o país. É o que preveem
autoridades médicas e cientistas, e apontam os indicadores.
E as doses que os Estados Unidos iriam doar
ao Brasil? Queiroga pareceu sincero ao admitir:
“Sendo pragmático, os Estados Unidos não vão
doar doses de vacina para o Brasil. Até porque o Brasil comprou essas doses das
indústrias americanas.”
Pobre Queiroga, vendedor de pastel de
vento. Como acertar se ele defende máscara, álcool gel e medidas de isolamento,
e Bolsonaro aparece diariamente sem máscara, a promover aglomerações?
Como acertar se uma expressiva fatia dos
brasileiros não lhe dá ouvidos, mas ao seu patrão que o desautoriza? Sem falar
dos funcionários do Ministério da Saúde que ele não pode trocar.
A Secretária de Gestão do Trabalho, Mayra
Pinheiro, demonstrou como o poder de decisão permanece fracionado no
ministério. Ela é partidária da cloroquina, Queiroga não é.
Mayra depôs na CPI da Covid e divergiu de
Queiroga em vários aspectos, um deles o uso de drogas ineficazes contra a
doença, e foi agraciada com flores enviadas por auxiliares de Bolsonaro.
O “pelotão cloroquina”, cuja estrela é
Mayra, não esmorece. Queiroga dá sinais de que sim:
“Eu sou médico, eu estou aqui para tentar ajudar o povo do Brasil nessa situação, eu não tenho condições sozinho de fazer isso”.
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