- Folha de S. Paulo
O charlatanismo, até que se prove o contrário, vale a pena e foi institucionalizado
A imprensa dividiu os integrantes do
governo Bolsonaro em duas alas: técnica e ideológica. Na prática, temos apenas
um grupo de incompetentes e outro de charlatões. E este segundo é de longe o
pior.
Os incompetentes deixam claros seus erros,
suas limitações. Em geral, são figuras histriônicas, que ganham espaço não
pelos seus feitos, mas pelo espetáculo que produzem. Weintraub, na educação,
era dessa ala. Eduardo Pazuello é também um incompetente. Com três estrelas,
mas um incompetente que nunca se esforçou para mostrar o contrário.
O problema maior é a ala dos charlatões e este governo está cheio deles. Segundo o dicionário, é um indivíduo que vende remédios milagrosos; que explora a boa-fé do povo, profissional inescrupuloso, enganador. O charlatão conhece o seu métier, tem vocabulário rico e apropriado e usa seu conhecimento para enganar.
Há vários exemplos, mas nada se compara à
secretária do Ministério da Saúde, a médica Mayra Pinheiro. Seu depoimento na
CPI da Covid mostra por que tantos brasileiros engoliram a falácia do
tratamento precoce. A Capitã
Cloroquina mente com propriedade, passa a
impressão de que domina tecnicamente os assuntos pelos quais
têm responsabilidade, cita estudos, manipula informações de entidades
internacionais.
Cada mentira, dita com a voz tranquila e
acolhedora, acertava o coração de um tiozão do Zap espalhado pelo país. Imagine
isso multiplicado milhões de vezes nos grupos bolsonaristas. Mayra Pinheiro
usou a CPI como palanque e saiu de lá ovacionada pelos negacionistas.
O charlatanismo, até que se prove o contrário, vale a pena e foi institucionalizado. Nesta quarta-feira (26), a CPI aprovou requerimento para que sejam ouvidos “especialistas” a favor e contra o uso de remédios como a cloroquina. Daqui a pouco o Senado coloca em discussão se a Terra é mesmo redonda porque tem quem ache que não é.
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