O Globo
À rede Al Jazeera,
durante seu giro pelo Oriente Médio, Lula abandonou
as ambiguidades que geralmente acompanham suas declarações voltadas a
audiências ocidentais. Falou o que pensa, sem matizes. O retrato que emergiu
funde ideias detestáveis com evidências de uma incompreensão geral sobre a
política internacional.
Sobre a invasão russa da Ucrânia, o
presidente corrigiu as correções de sua posição original:
— A Rússia diz que
alguns territórios pertencem a eles, e Zelensky diz que pertencem à Ucrânia —
pontificou, ignorando tanto as fronteiras internacionais ucranianas quanto o
tratado de 1994 pelo qual a Rússia as reconheceu.
Lula foi mais longe, num exercício de pacifismo cínico:
— Em vez de ir à guerra, por que não levar as
pessoas a um referendo para perguntar: você quer pertencer à Ucrânia ou à
Rússia?
Putin fez isso, mas melhor. Invadiu o leste e
o sul da Ucrânia e então, sob a mira das forças de ocupação, colocou em votação
a escolha sugerida pelo camarada brasileiro — com os resultados previstos por
qualquer potência ocupante.
A Ucrânia deveria servir como alerta para
Lula não se pronunciar sobre as guerras dos outros. Contudo ele desconhece o
valor do silêncio. À Al Jazeera, repetiu uma palavra que funciona como senha
ideológica: a operação militar em Gaza “não é uma
guerra tradicional, mas um genocídio”. O presidente foi ao Yad Vashem, em 2010,
e disse “nunca mais”, sem porém entender o Holocausto.
Há farto material para condenar o governo
israelense. Netanyahu sabota as negociações de paz e, desde 2009, estabeleceu
uma convivência violenta com o Hamas a fim de perpetuar a divisão entre os
palestinos. A ação militar em Gaza viola o direito humanitário internacional,
produzindo pilhas de vítimas inocentes. As Forças Armadas de Israel não
cumprem a (difícil) obrigação de distinguir os combatentes inimigos dos civis
utilizados pelo Hamas como escudos humanos. Genocídio, porém, é algo diferente:
o empreendimento deliberado de aniquilação de um povo.
A escolha de “genocídio” no lugar de “crimes
de guerra” tem um sentido: o termo pertence ao vocabulário militante
compulsório dos defensores da abolição do Estado judeu. A tática de propaganda
consiste em estabelecer uma equivalência entre Israel e a Alemanha nazista. É
um expediente particularmente abjeto, pois seu alvo é o Estado criado na
esteira do Holocausto para proteger os judeus de uma eventual repetição.
O Reich alemão não tinha o direito de
continuar a existir depois do Holocausto — e, de fato, desapareceu. A acusação
de genocídio é uma ferramenta política crucial na campanha que almeja a
destruição do Estado judeu. O Lula que pronunciou a frase “nunca mais” junta
sua voz à gritaria antissemita quando imputa o crime dos crimes a Israel.
A entrevista à rede do Catar forma um
arco ideológico completo.
— Não entendo como o presidente Biden não
teve a sensibilidade de falar para acabar com essa guerra — exclamou Lula,
concluindo com o diagnóstico de que os Estados Unidos “poderiam
ter parado com a guerra”.
Aí, atrás de um erro crasso de avaliação,
emerge uma narrativa destinada a deslegitimar Israel.
Não basta ir ao Yad Vashem: é preciso ler
Primo Levi para entender o Holocausto — e Israel. Levi descreveu a vitimização
e a desumanização dos judeus nos campos nazistas. O Estado judeu diz “nunca
mais” ao pacote completo: sua fundação representou, antes de tudo, uma rejeição
absoluta ao papel de vítima atribuído aos judeus. O alicerce de Israel
encontra-se na missão de “reumanização” dos judeus por meio da força política e
militar. Israel combaterá suas guerras, justas ou não, independentemente da
vontade de aliados externos.
Israel nasceu da imigração de judeus
perseguidos na Europa e no Oriente Médio. Atribuir aos Estados Unidos o poder
de parar sua mão inscreve-se no esforço ideológico de exibir o Estado judeu
como uma fabricação, um artefato e um joguete do “imperialismo americano”. Lula
fala todas as palavras e sentenças dos movimentos que marcham sob a bandeira da
“Palestina livre,
do rio até o mar”. Por essa via, renega a paz em dois Estados que declara
explicitamente defender.
3 comentários:
Realmente, em relação à política internacional e ao respaldo que está dando ao desrespeito às leis internacionais em geral por parte dos que apoia lá fora Lula está deixando os democratas arrepiados.
Mas não é só na política externa que Lula está assustando. Aqui no Brasil, em relação à economia, em relação aos interesses políticos e econômicos que arbitra junto com Arthur Lira e com o STF, em relação a tudo essa nova fase de Lula e do PT é uma versão bem piorada quando comparada à fase dos seus mandatos anteriores.
Lá fora, Lula é um capacho das ditaduras, de terroristas e de autoritários em geral.
Mas pior é que Lula lá fora não está se mostrando um capacho de autoritários por equívoco e ideologismo banal, mas por convicção. Lula está se mostrando capacho de autoritários de um jeito que está deixando os democratas brasileiros com medo do desfecho desse autoritarismo aqui no Brasil tanto quanto temos medo de Jair Bolsonaro, se Lula conseguir hegemonizar o processo político e social.
Quanto tempo levaria para que Lula e o PT conseguissem hegemonizar o processo aqui e reiniciassem o assédio contra as instituições e a democracia de forma mais assintosa, se conseguirem espaço suficiente para isso?
Na economia, para contornar restrições a expandir gastos, restrições que hoje existem pelos desequilíbrios graves criados na economia pelas políticas desastradas do próprio PT nos seus primeiros mandatos, Lula e o PT desistiram de apresentar um programa econômico durante a campanha, o que resultou em ausência também de um programa para saúde, educação e segurança e na ausência de alguma proposta de âncora fiscal e cambial para conter a inflação, os juros e o déficit primário e o aumento da dívida.
Não se comprometer com o eleitor e com o povo brasileiro apresentando um programa, além de ser um enorme desrespeito e desqualificação do exercício da política, foi conveniente para Lula e o PT fazerem na economia o que intencionavam e não queriam dizer:: novamente expandir gastos e fazer gastança sem ter dinheiro e sem se preocuparem com a inflação, os juros e o aumento da dívida.
Ao assumirem este atual mandato, Lula e o PT não apresentaram nenhuma proposta de âncora fiscal e no lugar de uma âncora propuseram um mero "arcabouço fiscal", e mesmo esta proposta de arcabouço foi retardada por todo este 2023 e com finalizações ainda pendentes e sua implantação de fato adiada para não se sabe quando, com seus parâmetros já em discussão de mudança e assim mostrando que o arcabouço não foi proposto para ser âncora de nenhum desequilíbrio fiscal e monetário e para dar segurança de nada e sim para servir a um arranjo legal para autorizar mais gastos até mesmo quando a receita apresentar queda sem que Lula incorra em quebra de responsabilidade fiscal e sofra impeachment.
Estamos presos entre dois populismos toscos, autoritários, completamente irresponsáveis e não temos forças, quadros, sociedade, não temos nada ou temos pouca coisa para conseguirmos interromper o desastre que é uma sociedade manobrada por gente como Lula, Bolsonaro e Arthur Lira.
Entre Lula e Bolsonaro, estamos como quem escolhe entre três pedófilos aquele que faz só com três irmãs e poupa as duas menorezinhas ou entre três homicidas em que escolhermos o que mata só três crianças e deixa duas vivas e ainda sentindo a vergonhosa satisfação de dizer:: "Eu escolhi o menos pior".
Precisamos de coisa muito melhor que Lula e Bolsonaro ou de termos coragem de ir às urnas e apertar a imensa tecla "BRANCO" da máquina de votar, negando todos os dois delinquentes políticos sem negar a política e o processo democrático.
Demétrio distorcendo tudo.
ADEMAR AMANCIO Mentiroso, prove o que diz. MAM
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