Folha de S. Paulo
Movimento acaba por atacar até elite
econômica, negacionista ou cúmplice, como em ditaduras
O bolsonarismo faz qualquer negócio.
Agora, começa a dar
tiros na estabilidade de bancos. Elites políticas e econômicas
continuam a colaborar no projeto da arquitetura da destruição, agora também
econômica. É colaboracionismo.
A ideia de que a propaganda criminosa e os
crimes dos Bolsonaro seriam farsa na prática insignificante sobreviveu mesmo
depois de Jair
Bolsonaro ter ocupado a cadeira de presidente. Ainda em 2022,
os crimes que cometeu durante o mandato eram considerados ficção esquerdista
pelos adeptos convictos e tolerados por aqueles que faziam o cálculo
supostamente pragmático de que se tratava do preço para manter Luiz
Inácio Lula da
Silva longe do poder.
Para os "pragmáticos", o bolsonarismo continua farsesco e de inépcia idiota. Suas consequências, pois, seriam negligenciáveis, no que lhes interessa. Em última análise, seria controlável por acordão de elites políticas e econômicas, como aqueles que se faziam pelo menos desde 2016.
As investigações das tentativas de golpe de
2022-23 pouco modificaram tais ideias. Para parte dos adeptos da tolerância,
tal crença foi transformada no plano "bolsonarismo sem Bolsonaro":
usar os votos dele para eleger um líder do "bolsonarismo moderado".
O bolsonarismo é uma espécie de movimento
revolucionário movido pelas redes, uma insurreição permanente. Suas lideranças
se alimentam desse movimento e precisam mantê-lo vivo. O que elites econômicas
e políticas acham que vai sair daí?
A conspiração dos Bolsonaro com Donald Trump prejudica
milhares de empresas. Muitos dos frequentadores da casa de tolerância dos
Bolsonaro ainda dizem que Lula e seu
esquerdismo "Sul Global" seriam os responsáveis pelo
prejuízo. É o mesmo padrão de negacionismo ou cumplicidade que se vê desde fins
de 2017.
Agora, bolsonaristas espalham boatos sobre
bancos, sugerem que correntistas esvaziem suas contas. Em tempos antigos, uma
corrida (saques em massa) quebrava bancos. Fundos garantidores e bancos
centrais em muito atenuaram esse risco de evaporação de haveres de correntistas
e de convulsão econômica. Mas o risco de tumulto permanece.
É exagero, diz o adepto da ideia do
bolsonarismo como farsa. Alguns esperam ganhar com a degradação institucional,
outros nem a enxergam, mesmo quando a água suja começa a bater nas costas.
Considere-se um trecho de uma resolução de
2023 do Parlamento Europeu sobre a Hungria, que apodrece sob a autocracia
admirada pelo bolsonarismo. Há "consternação" com os "relatos
sobre métodos de intimidação, como visitas da polícia secreta aos escritórios de
algumas empresas, e outras formas de pressão utilizadas por certos indivíduos
que se sabe estarem ligados ao círculo próximo ou ao gabinete do
primeiro-ministro, com o objetivo de colocar sob o seu controle setores da
indústria húngara considerados ‘estratégicos’".
De volta ao poder, o bolsonarismo pode criar
máfias econômicas (Rússia), expropriar e destruir (Venezuela), desapropriar por
coação (Hungria). Vejam o exemplo de Trump, a extorquir empresas. Foi a direita
alucinada (Collor) que deu calote na dívida pública.
O bolsonarismo é defesa de ditadura, tortura,
genocídio indígena, ameaça de estupro. É o morticínio da epidemia, promessas
públicas e tentativas de golpe, conluio contra exportadores e, agora, crimes
contra o sistema financeiro. Quem não for parte da solução, é parte do
problema. Ou fantasia lucrar com o problema.
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