O Estado de S. Paulo
Donald Trump quer projetar poder militar com justificativa aceitável para os eleitores
O cancelamento de exercícios militares
conjuntos entre Brasil e EUA e a mobilização de uma força de resposta rápida
americana no Caribe introduzem uma nova dimensão na crise entre os dois países.
O Comando Militar do Sul desmarcou há um mês
um exercício entre o Comando Espacial e a Força Aérea Brasileira. Na semana
passada, o Ministério da Defesa cancelou a tradicional Operação Formosa, em Goiás,
e deve fazer o mesmo com a Core, na caatinga.
A justificativa é a falta de verbas, mas o
cálculo político foi retirar os convites antes de receber um “não” dos
americanos. As relações entre os militares dos dois países continuam boas, mas
o ambiente político aponta para um afastamento.
O deslocamento de três navios para perto da costa venezuelana, acompanhados de submarino de propulsão nuclear e aviões de patrulha marítima P8A Poseidon, tende a aprofundar o distanciamento na esfera militar.
Os três destróieres podem ser equipados com o
sistema de combate Aegis, capaz de interceptar aeronaves e projéteis
balísticos, e com mísseis de cruzeiro Tomahawk. Os P-8 podem se engajar em
ataques a submarinos. A Venezuela tem dois submarinos de fabricação alemã, que
embora datem dos anos 70 são considerados o principal ativo de sua marinha.
O grupo de assalto anfíbio liderado pelo USS
Iwo Jima, com mais dois navios e a 22.ª Unidade Expedicionária de Fuzileiros
Navais, também foi destacado, mas teve de retornar à base na Virgínia por causa
do furacão Erin. A missão oficial é conter o narcotráfico. Especula-se que o
objetivo seja intervir na Venezuela. Na verdade, uma força-tarefa dessa
dimensão é grande demais para combater avionetas e submersíveis de transporte
de drogas e pequena demais para invadir o país.
Perguntei ao Pentágono como uma força de
resposta rápida poderia combater o narcotráfico, e me disseram para perguntar à
Casa Branca – deixando clara a natureza política da operação. Donald Trump quer
projetar poder militar, com uma justificativa aceitável para os eleitores – o
combate ao crime –, em vez do engajamento em mudanças de regime e conflitos
distantes, que prometeu abandonar.
O secretário de Defesa, Pete Hegseth, tem
forte militância no movimento trumpista. O conselheiro do Departamento de
Estado, Ricardo Pita, migrou em 2007 da Venezuela para os EUA aos 14 anos, e
abomina o regime chavista. Pita está envolvido na crise com o Brasil. A China
tenta vender armas ao País, cujo arsenal hoje é interoperável com a Otan. O
momento requer prudência.
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