O Estado de S. Paulo
Num quadro já complexo, irrompe o novo presidente dos EUA, com sua agenda equivocada
Tudo junto, misturado e ainda sem um rumo
claro. Esta é a mais simplificada descrição que se pode fazer do cenário global
nos dias de hoje.
Entendo que existam cinco tendências globais
que vêm se fortalecendo há um certo tempo e que já apontavam para grandes
mudanças no cenário, na direção de um sistema multipolar.
A primeira destas tendências é a mudança do
papel da China no sistema econômico global, de complementar as economias
maduras de mercado para um gigante que busca afirmar seu papel no mundo e
ampliar sua influência. Isto ensejava uma resposta dos EUA já no governo Biden
e este é o ponto mais importante no entendimento da situação atual.
A segunda tendência é a progressiva perda de
efetividade dos organismos internacionais de governança criados após a 2ª
Guerra Mundial: ONU/Conselho de Segurança, FMI, Banco Mundial e a OMC.
A terceira é a aceleração da transição demográfica com a drástica queda nas taxas de natalidade ao redor do mundo.
Vários países já se encontram na fase de
queda absoluta da sua população, elevando o número de nações com o risco de
ficarem velhas antes de ficarem ricas. A questão migratória passa a ser tão
central quanto divisória nas políticas nacionais.
A quarta é a mudança climática, sobre a qual
não existem mais dúvidas. É um vetor novo a complicar o quadro.
A necessária transição energética que daí
decorre, implica numa mudança de paradigma da dupla petróleo/motor a combustão.
Entretanto, à medida que a transição começou
a andar, resultou claro que o processo será muito mais desafiante do que se
imaginava, por razões técnicas, econômicas e políticas.
Finalmente, vemos uma enorme mudança
tecnológica tipificada pelo desenvolvimento e as consequências da inteligência
artificial. Há uma aceitação generalizada de que esta tecnologia será
transformacional, mas que coloca desafios regulatórios enormes.
É neste quadro, já complexo, que irrompe o
novo presidente americano, iniciando um período caótico no mundo com sua agenda
equivocada e extremamente agressiva.
Ao contrário do antecessor, o objetivo é
“mover-se rápido, quebrando as coisas”, sem se preocupar em construir nada.
No plano econômico tratase de submeter
antigos aliados através de um nível elevado, mas incerto, de tarifas, ao lado
de uma política fiscal bastante expansionista.
O cenário global passa a depender do que vai
ocorrer nos EUA. A inflação vai mesmo se elevar, como acredito? E o que fará o
FED?
Apertem os cintos.
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