O Povo (CE)
O julgamento do grupo político envolvido nos
atos golpistas começará em poucos dias, em 2 de setembro. O processo
transcorreu com celeridade e tudo indica que o país acompanhará com atenção, em
tempo real, os atos derradeiros
O ano de 2025 ficará marcado na política
brasileira deste século como uma fonte inesgotável de instabilidade. Seja por
influência de eventos externos como as tarifas e sanções americanas, ou da
crescente importância geopolítica dos Brics, seja pela dinâmica interna do
grupo político de Jair Bolsonaro, 2025 produziu um resultado evidente: as
eleições do ano que vem devem ser mais um exemplo de eleição lotérica, de
resultado imprevisível.
O julgamento do grupo político envolvido nos atos golpistas começará em poucos dias, em 2 de setembro. O processo transcorreu com celeridade e tudo indica que o país acompanhará com atenção, em tempo real, os atos derradeiros, quando a corte se reunirá para julgar e, se for o caso, aplicar as penas a quem considerar culpado. Muito da dinâmica da conjuntura dependerá desse resultado: eu diria que o futuro político do Brasil dependerá de como o país reagirá a isso.
Para a esquerda, importa saber quem emergirá
como sucessor de Jair Bolsonaro nas próximas eleições presidenciais. Para
direita, importa traçar algum caminho de composição e alinhamento após a
desagregação causada por Eduardo Bolsonaro e seu esforço conspiratório no
exterior, que tem deixado seus antigos aliados de campo um tanto zonzos ante
tantas contradições.
É a contradição que engessa a direita, pois
ela necessita do capital eleitoral de Bolsonaro, ao mesmo tempo em que tem
na associação a um candidato com seu nome um obstáculo concreto à vitória de
uma chapa majoritária. A rejeição aos Bolsonaro ficou muito mais palpável
após os atropelos vindos do exterior e da divulgação dos áudios extraídos do
celular do ex-presidente.
Esse o principal paradoxo do presente: é
necessário o apoio político de Bolsonaro para a direita eleger alguém, ao mesmo
tempo em que tem no nome de sua família um empecilho para uma vitória
confortável. No mundo ideal desse campo, Jair sai de cena ungindo Tarcísio
de Freitas como sucessor. É um nome que parece agradar a muitos atores por
sua aparência de moderação e respeito à institucionalidade.
Com ele, a eleição se tornaria um embate
menos polarizado entre petismo e bolsonarismo e passaria a um
debate entre continuidade governista ou não. As chances de vitória não seriam
desprezíveis. Como o humor do ex-presidente e sua disposição kamikaze são
imprevisíveis, é possível que Bolsonaro opte por ir ao tudo ou nada, deixando
que a direita chegue fragmentada, alimentando hostilidades internas e
dispersando o campo.
O que veremos no ano que vem? Eu não me
arriscaria a prever ou apostar num nome. Mais importante do que esse grande
embate, eu diria que devemos observar como se dará a disputa por outro território
cada vez mais estratégico: o Parlamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário