Folha de S. Paulo
Capilaridade criada pela campanha do
presidente pode favorecer mobilização de eleitores
Num coquetel na casa de um empresário, a
senadora Simone Tebet reúne 650 convidados e defende que eles votem
em Lula para preservar a democracia brasileira. Enquanto isso, em milhares
de templos evangélicos espalhados pelo país, pastores aterrorizam fiéis com a
falsa alegação de que a vitória do atual presidente é a única maneira de evitar
que o PT feche igrejas.
A capilaridade é uma das principais armas de Jair Bolsonaro para converter votos no segundo turno. Além de pulverizar um discurso contra Lula nos templos, a campanha do presidente faz uma aproximação em massa com prefeitos e aposta no uso despudorado da máquina do governo para melhorar a imagem do presidente nos municípios.
O vínculo religioso, os laços políticos e o
dinheiro público permitem que a campanha de Bolsonaro chegue mais longe, com
mensagens específicas para grupos diferentes de eleitores. Pode ser um apelo
moral, uma promessa de benefício ou mesmo uma vantagem concreta.
A ação de líderes
religiosos no Nordeste é um exemplo desse esforço. Nos primeiros dias
do segundo turno, Bolsonaro pediu que pastores aliados falassem com colegas da
região para amplificar o discurso contra Lula nos templos. A ideia é explorar a
fé, driblar a ligação de eleitores com o PT e ajudar o presidente a alcançar um
eleitorado que demonstra mais resistência a ele.
A campanha também tenta criar uma equipe de
cabos eleitorais remunerados com verba pública. Na semana passada, o governador
de Minas Gerais, Romeu Zema, reuniu prefeitos do estado e disse que eles devem
atuar "única e exclusivamente" por Bolsonaro. "Vai ser um
trabalho de formiguinha", descreveu.
Para completar o pacote, o governo usa os cofres públicos para fazer chover dinheiro pelo país antes do segundo turno. Nos últimos dias, a Caixa liberou R$ 1,8 bilhão em empréstimos para beneficiários de programas sociais. As 700 mil pessoas atendidas terão que pagar uma conta salgada —mas só depois da eleição.
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