Mestre do pensamento social brasileiro,
intelectual de grande talento para a retrospecção e a prospecção, com visão
analítica aguda para a reflexão política e largos sentimentos públicos, Luiz
Werneck Vianna, se ainda estivesse entre nós, teria completado 87 anos no
último 14 de outubro. Deixou-nos há quase três, mas sua memória é vocacionada à
vigência longeva e ativa, como sua vida.
Passou seus últimos anos escrevendo, com
amargura e esperança, sobre várias coisas. Razão (e fé, por que não?) da sua
esperança seria a exuberância promissora que via na vida popular brasileira, em
movimentos e organizações civis da nossa cultura e cidadania. Como razão
moderadamente cética de sua amargura, a carência de vocação pública dos
políticos sistêmicos da democracia do Brasil atual, aos quais, mais de uma vez,
referiu-se (sem deixar nunca de reparar em exceções), como “liliputianos”. É
essa segunda dimensão de seu modo de ver a política recente que evoco para
escrever este artigo.
A reputação de autor não dispensava Werneck
de uma renitente, teimosa, vontade própria de ator. Quando usava o adjetivo
metafórico que mencionei, ele parecia ser ao mesmo tempo Swift e Gulliver. A
constante busca do ator emancipatório que marcou o seu trabalho intelectual
levava-o a retratar sinteticamente a atitude política dos políticos reais do
Brasil atual num patamar bem abaixo, em termos de motivações públicas, daquele
em que estaria Gulliver, o personagem famoso de Swift, se acaso vivesse
realmente entre nós, com sua estatura comparada às dos atores reais. Além da
distância esperada, objetivamente inevitável, entre romance e realidade,
haveria o flagrante de um declínio, em comparação com atores reais de outros
contextos. Declínio cuja explicação poderia estar na conduta.