Valor Econômico
Os impactos da invasão Russa à Ucrânia
chegam ao país nos preços da energia e dos combustíveis
A guerra declarada pela Rússia, que invadiu
a Ucrânia ontem por terra, mar e ar, deverá trazer um pesado custo para o Brasil.
Os impactos chegam aqui nos preços da energia e dos combustíveis. A Petrobras
não vai poder segurar os preços da gasolina, do gás e do diesel por muito
tempo. Ontem, o preço do barril de petróleos superou a marca de US$ 105 na
máxima do dia, fechando em US$ 99,36 o barril do tipo brent
São questões “politicamente muito carregadas, com coisas muito impopulares, que afetam o mundo todo e não só o Brasil”, comentou um ex-presidente do Banco Central, que optou pelo anonimato. “Vai ser uma grande confusão”, previu ele.
Dois projetos que pretendem estabilizar os
preços dos combustíveis ficaram de ser analisados e votados pelo Senado Federal
após o carnaval. O relator dos projetos é o senador Jean Paul Prates (PT-RN).
Ele colocou o gás de cozinha na lista dos combustíveis que deverão ter um novo
modo de cobrança dos impostos, sobretudo do ICMS estadual.
O primeiro impacto da invasão russa na
Ucrânia ocorreu nos preços dos ativos, com um movimento dos mercados em busca
de segurança. As bolsas caíram e os investidores correram para o dólar, tido
como um ativo mais seguro. A cotação do real frente ao dólar, que estava em
franca valorização, começou a cair. A taxa de câmbio, que até então ajudava o
Banco Central no combate à inflação, ontem mudou de sinal.
No fim do dia, havia uma sensação de
“alívio” nos mercados por que a reação dos países contrários à invasão de
Vladimir Putin não teria sido tão pesada com o se supunha.
“Terminamos o dia com uma realidade melhor
do que imaginávamos, pois as sanções à Rússia poderiam ter sido bem piores”,
disse uma outra fonte do mercado financeiro. Nada autoriza a crer que os
próximos dias também trarão sensação de alívio.
A guerra trará mais inflação na veia dos
brasileiros, justamente em um momento em que o BC tenta conter a escalada dos
preços. Trata-se de um choque de oferta que, em tempos mais normais, poderia
ser acomodado no tempo. Mas se o BC deixar a inflação do IPCA sair dos atuais
10% para eventuais 15%, ficará mais difícil controlar um aumento generalizado
de preços.
“Estamos com um péssimo cenário para
enfrentar uma crise dessas” comentou a fonte. “Se vier um grande choque, como
se imagina, o Banco Central vai ter que aceitar uma taxa de inflação mais
elevada este ano e o ano que vem, mesmo subindo os juros e esticando para 2023
o aperto monetário”. Nesse sentido, está morta a expectativa de uma variação do
IPCA da ordem de 5% este ano.
Uma questão que ontem estava sendo colocada
por fontes oficiais se referia ao temor de o país ser mais punido do que os
demais emergentes, pelos mercados, por causa da solidariedade hipotecada por
Jair Bolsonaro ao governo de Vladimir Putin. Fontes do mercado financeiro
negaram qualquer iniciativa nessa direção, até porque consideram o presidente
do Brasil um “pato manco”.
O que incomoda os mercados é a falta de
clareza sobre os dados fiscais para este ano. O governo não estabeleceu metas
fiscais para o exercício, sob a crença de que voltará a obedecer a lei do teto
de gastos, que foi corrompida no ano que passou por conta dos precatórios.
Nem tudo, porém, será negativo para o
Brasil, já que os preços das commodities que exportamos seguem em alta. Melhor
ter mais inflação do que ter uma crise cambial. Mário Henrique Simonsen já
dizia que “Inflação aleija, mas uma crise de balanço de pagamentos mata”. Vale
lembrar que a inflação de 10,06% em 2021 ajudou o governo a encerrar o ano com
resultados bons na área da política fiscal.
Para uma fonte graduada do mercado
financeiro, no aspecto geopolítico, a guerra iniciada ontem marcaria ”o fim da
hegemonia dos Estados Unidos no mundo” e isso estará nos livros de história
daqui algumas décadas. E “a Europa não será mais a mesma “. Em mil anos, pela
primeira vez a Europa tem um período de paz tão prolongado. São quase 80 anos,
desde a Segunda Guerra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário