sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Claudia Safatle: Com a guerra, aumenta a inflação no Brasil

Valor Econômico

Os impactos da invasão Russa à Ucrânia chegam ao país nos preços da energia e dos combustíveis

A guerra declarada pela Rússia, que invadiu a Ucrânia ontem por terra, mar e ar, deverá trazer um pesado custo para o Brasil. Os impactos chegam aqui nos preços da energia e dos combustíveis. A Petrobras não vai poder segurar os preços da gasolina, do gás e do diesel por muito tempo. Ontem, o preço do barril de petróleos superou a marca de US$ 105 na máxima do dia, fechando em US$ 99,36 o barril do tipo brent

São questões “politicamente muito carregadas, com coisas muito impopulares, que afetam o mundo todo e não só o Brasil”, comentou um ex-presidente do Banco Central, que optou pelo anonimato. “Vai ser uma grande confusão”, previu ele.

Dois projetos que pretendem estabilizar os preços dos combustíveis ficaram de ser analisados e votados pelo Senado Federal após o carnaval. O relator dos projetos é o senador Jean Paul Prates (PT-RN). Ele colocou o gás de cozinha na lista dos combustíveis que deverão ter um novo modo de cobrança dos impostos, sobretudo do ICMS estadual.

O primeiro impacto da invasão russa na Ucrânia ocorreu nos preços dos ativos, com um movimento dos mercados em busca de segurança. As bolsas caíram e os investidores correram para o dólar, tido como um ativo mais seguro. A cotação do real frente ao dólar, que estava em franca valorização, começou a cair. A taxa de câmbio, que até então ajudava o Banco Central no combate à inflação, ontem mudou de sinal.

No fim do dia, havia uma sensação de “alívio” nos mercados por que a reação dos países contrários à invasão de Vladimir Putin não teria sido tão pesada com o se supunha.

“Terminamos o dia com uma realidade melhor do que imaginávamos, pois as sanções à Rússia poderiam ter sido bem piores”, disse uma outra fonte do mercado financeiro. Nada autoriza a crer que os próximos dias também trarão sensação de alívio.

A guerra trará mais inflação na veia dos brasileiros, justamente em um momento em que o BC tenta conter a escalada dos preços. Trata-se de um choque de oferta que, em tempos mais normais, poderia ser acomodado no tempo. Mas se o BC deixar a inflação do IPCA sair dos atuais 10% para eventuais 15%, ficará mais difícil controlar um aumento generalizado de preços.

“Estamos com um péssimo cenário para enfrentar uma crise dessas” comentou a fonte. “Se vier um grande choque, como se imagina, o Banco Central vai ter que aceitar uma taxa de inflação mais elevada este ano e o ano que vem, mesmo subindo os juros e esticando para 2023 o aperto monetário”. Nesse sentido, está morta a expectativa de uma variação do IPCA da ordem de 5% este ano.

Uma questão que ontem estava sendo colocada por fontes oficiais se referia ao temor de o país ser mais punido do que os demais emergentes, pelos mercados, por causa da solidariedade hipotecada por Jair Bolsonaro ao governo de Vladimir Putin. Fontes do mercado financeiro negaram qualquer iniciativa nessa direção, até porque consideram o presidente do Brasil um “pato manco”.

O que incomoda os mercados é a falta de clareza sobre os dados fiscais para este ano. O governo não estabeleceu metas fiscais para o exercício, sob a crença de que voltará a obedecer a lei do teto de gastos, que foi corrompida no ano que passou por conta dos precatórios.

Nem tudo, porém, será negativo para o Brasil, já que os preços das commodities que exportamos seguem em alta. Melhor ter mais inflação do que ter uma crise cambial. Mário Henrique Simonsen já dizia que “Inflação aleija, mas uma crise de balanço de pagamentos mata”. Vale lembrar que a inflação de 10,06% em 2021 ajudou o governo a encerrar o ano com resultados bons na área da política fiscal.

Para uma fonte graduada do mercado financeiro, no aspecto geopolítico, a guerra iniciada ontem marcaria ”o fim da hegemonia dos Estados Unidos no mundo” e isso estará nos livros de história daqui algumas décadas. E “a Europa não será mais a mesma “. Em mil anos, pela primeira vez a Europa tem um período de paz tão prolongado. São quase 80 anos, desde a Segunda Guerra.

 

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