Folha de S. Paulo
Rússia deu à Otan uma boa razão para
existir e até para se expandir.
Ilegal, imoral e burra. É assim que eu
classificaria a decisão de Vladimir Putin de invadir
a Ucrânia. O autocrata russo até que vinha se saindo bem em sua queda de
braço com o Ocidente. Estava conseguindo explorar com relativo sucesso as
divisões entre europeus e americanos e, se insistisse, poderia alcançar alguns
de seus objetivos sem disparar um único tiro. Mas, ao promover um conflito de
larga escala, Putin se expõe à tirania das incertezas.
Com efeito, até aqui o jogo era essencialmente definido pelas escolhas do próprio Putin e de meia dúzia de líderes mundiais. Com a guerra, qualquer comandante de pelotão pode deflagrar escaladas sem volta. Quatro países da Otan têm fronteira com a Ucrânia. Uma escaramuça mal resolvida num deles pode, ao menos no papel, arrastar a aliança militar ocidental para um embate direto com tropas russas.
Ciberataques, que agora fazem parte do
arsenal de armas das potências, são uma novidade com a qual o mundo ainda não
aprendeu a lidar, o que constitui mais uma preocupante fonte de instabilidades.
Mesmo fora do reino dos imponderáveis, o
prejuízo russo é certo. Ainda não vimos a fatura total das sanções econômicas
que recairão sobre Moscou, mas elas agora serão mais gravosas e aplicadas de
forma mais resoluta. Os russos dependem mais das compras de seus clientes
ocidentais do que o contrário, em especial se os europeus se conformarem em
pagar mais caro pela conta de energia.
A guerra de agressão promovida por Putin
também tem repercussões geopolíticas. Ainda não sabemos bem se ele planeja
ocupar a Ucrânia –e não é trivial controlar um país com 44 milhões de
habitantes--, mas o simples fato de tê-la invadido já muda o jogo
substancialmente.
A Rússia, que não parecia ter uma agenda
claramente expansionista, agora tem. E isso dá à Otan, que era uma instituição
em crise de identidade, uma boa razão para existir e até se expandir.
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