Brasil não vai à guerra e não apoia sanções, mas tem de repudiar veementemente a guerra
Ao invadir a Ucrânia por ar, terra e mar,
Vladimir Putin chacoalha o mundo no fim da pandemia, ameaça a economia
internacional, confronta a Europa, enfraquece Joe Biden e fortalece a volta de
Donald Trump ao governo dos Estados Unidos, ainda a maior potência. Isso tem
consequências no Brasil? Obviamente que sim.
Cuidado com o calibre dos ataques a Biden. Quanto mais a diplomacia, a academia e a mídia esculacham Biden, mais crescem as chances de um novo mandato para Trump, o que é conveniente para Putin, que interferiu a favor de Trump contra Hillary Clinton nas eleições americanas, e para o presidente Jair Bolsonaro, que disputa a reeleição e espaço na extrema direita internacional.
Por isso, a posição do Brasil na guerra
evoluiu mal: a cúpula do governo avaliava que Putin ganhava muito com as
ameaças de invadir a Ucrânia, mas não chegaria ao ponto de cumprir essas
ameaças. Daí a decisão de manter a viagem de Bolsonaro à Rússia e de não
orientar os brasileiros a deixarem a Ucrânia. Nem plano para tirá-los de lá
havia.
Dessa viagem, o que fica, agora e para a
história, é o presidente do Brasil declarando “solidariedade” à Rússia em
Moscou, enquanto Putin se engalfinhava com EUA, Europa, Japão, Austrália... Os
mesmos, aliás, que, após os primeiros ataques, também lideraram as sanções ao
governo, empresas e autoridades russas.
O Brasil não apoia sanções, nem mesmo
contra Cuba, no passado, e o Irã, depois. Além disso, decisões da
Assembleia-Geral da ONU não têm efeito jurídico vinculante e o Brasil só
endossaria sanções caso o Conselho de Segurança apoiasse. Impossível: a Rússia
é um dos cinco membros efetivos e tem poder de veto.
Assim, o Brasil não vai à guerra e não vai
aderir às sanções. Só pode condenar veementemente a invasão da Ucrânia, como
americanos, europeus, diplomatas e políticos brasileiros, ou fazer notas
pedindo “suspensão imediata das hostilidades”, como o Itamaraty fez ontem.
Com a guerra, dólar, euro e os preços do
petróleo, do gás, do pãozinho e do macarrão tendem a disparar – Ucrânia e
Rússia produzem 30% do trigo do mundo. O impacto é na inflação, nos juros e,
como sempre, no crescimento do Brasil, já tão baixo e instável.
Alguém precisa dizer ao PT que Putin pode
até ter razão ao temer a Ucrânia na Otan, mas ele não é amigo e invasão de
países é violação do direito internacional. E também explicar a Bolsonaro que
gasolina, dólar, pãozinho e macarrão caros e inflação alta não combinam com
reeleição. Guerra mata, destrói e tem de ser duramente condenada pela esquerda
e pela direita num país historicamente pela paz.
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