O Globo
Tudo faz crer que Bolsonaro
queria que sua prisão fosse decretada, embalado pela suposição de que,
vitimizado, ganhará força na disputa com o relator dos processos
No atual momento político do
país, é lícito desconfiar, pelo menos, de que os bolsonaristas jogam no tumulto
generalizado para resolver o caso do ex-presidente Jair Bolsonaro. Todas as
manobras levam à conclusão de que não se preparam para disputar uma eleição
presidencial em poucos meses, mas pretendem desestabilizar as instituições
democráticas acreditando que o apoio do presidente dos Estados Unidos bastará
para levá-los de volta ao poder.
Tudo faz crer que Bolsonaro queria que sua prisão fosse decretada, embalado pela suposição de que, vitimizado, ganhará força na disputa com o relator dos processos contra ele, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. É pouco provável que ele ou os filhos não soubessem que, divulgando os pronunciamentos de Bolsonaro durante as manifestações contra Moraes e a favor de Trump e suas sanções contra o Brasil, quebravam as limitações impostas pela Justiça depois da decisão obrigando-o a usar tornozeleira eletrônica.
Mais inacreditável ainda é
que não tenham feito o cálculo político de que apoiar a taxação de Trump é
atuar contra o próprio país, mesmo que muitos de seus seguidores tenham
ostentado a bandeira dos Estados Unidos nas manifestações de domingo.
Transferem assim o nacionalismo, um dos temas predominantes dos bolsonaristas,
ao governo, devolvendo ao presidente Lula o verde e amarelo que havia sido
substituído pelo vermelho do PT.
Embora as pesquisas de
opinião mostrem que, num primeiro momento, Lula não se beneficiou desse
movimento, ou se beneficiou pouco, será difícil manter tal postura quando a
inflação se apresentar como consequência da taxação exorbitante dos americanos,
e a economia brasileira sofrer um baque. O cálculo de que, até a eleição, o
impacto será absorvido é temerário, a não ser que, nesse intervalo, aguardem
que as consequências das sanções estimuladas por Eduardo Bolsonaro e Paulo
Figueiredo levem a rupturas democráticas.
Pode parecer maluquice, mas
quem planejou matar toda a linha de sucessão presidencial como solução para o
golpe pode fazer qualquer coisa. As manifestações em vários estados são parte
da pressão sobre o Supremo Tribunal Federal (STF), mas também sobre o Congresso,
que, embora de centro-direita, não se inclina, pelo menos no momento, a assumir
a aprovação de uma anistia que permita a Bolsonaro concorrer na eleição do ano
que vem.
Está muito claro que toda
movimentação dos bolsonaristas visa a desmoralizar o sistema de Justiça
brasileiro, com truques banais para contornar as medidas cautelares
determinadas. O mesmo acontece com o senador Marcos do Val. Embora seus
passaportes tenham sido confiscados por determinação do Supremo, ele viajou
para a Disney, em Orlando, e de lá postou um vídeo ridicularizando Moraes. A
alegação de seu advogado de que não havia uma proibição expressa de viajar
chega a ser engraçada.
São atitudes que objetivam
desmoralizar o Supremo dentro de um esquema maior, para tirar a força das
decisões judiciais e confrontá-las com uma realidade que julgam poder
controlar. É como se dissessem às autoridades que elas não têm mais o controle
da situação, obrigando-as a apertar cada vez mais o cerco na expectativa de
que, internamente ou do exterior, receberão o apoio necessário para enfrentar a
Justiça brasileira. Resta-nos apenas aguardar como se comportará Donald Trump
diante do fato consumado. Bolsonaro está em prisão domiciliar, cada vez mais
cerceado pelas medidas cautelares que ele mesmo provocou, e não há nenhum sinal
de que essas reações conseguirão alterar o rumo do julgamento que começará em
breve.
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