O Globo
Marcelo Freitas defende anistia a golpistas e
impeachment de Alexandre de Moraes
Em 2 de setembro, o Supremo Tribunal Federal
começou a julgar Jair Bolsonaro e seus comparsas na tentativa de golpe. Do
outro lado da Praça dos Três Poderes, um deputado de terno marrom subiu à
tribuna para defender os réus e espinafrar a Corte.
“Gostaria de registrar minha perplexidade em
razão de um julgamento que nos parece ter efetivas cartas marcadas”, esbravejou
o parlamentar. Ele manifestou “apreço” e “respeito” pelos acusados e disse que
a denúncia “nem sequer deveria estar sendo discutida”. Acrescentou que a
provável condenação seria “uma vergonha” — para o Judiciário, não para os
golpistas.
O autor do discurso foi Marcelo Freitas, dublê de deputado e delegado de polícia. Integrante da bancada da bala, ele despontou na onda bolsonarista de 2018, que encheu o Congresso de militares e meganhas. Agora será relator do processo contra Eduardo Bolsonaro no Conselho de Ética.
A representação do PT pede que o Zero Três seja
cassado por quebra de decoro. O texto enumera exemplos de conduta indevida: do
abandono do mandato para viver nos Estados Unidos à articulação de sanções
econômicas contra o Brasil.
O documento também cita ameaças de Eduardo à
democracia. Em entrevista, o filho do capitão disse que “sem anistia para Jair
Bolsonaro não haverá eleições em 2026”. Faltou explicar se ele conta com um
golpe verde-amarelo ou se espera ajuda dos amigos americanos.
O relator do processo não pode ser acusado de
incoerência. Em discursos e vídeos na internet, Freitas pede anistia aos
golpistas e prega o impeachment do ministro Alexandre de Moraes. No mês
passado, defendeu o motim que ocupou a mesa da Câmara em protesto contra a
prisão domiciliar de Bolsonaro. No governo do capitão, Freitas se entusiasmou
com os decretos que desfiguraram o Estatuto do Desarmamento. Dizia defender o
“sagrado direito à legítima defesa”.
O deputado aprendeu a combinar extremismo com
fisiologismo. Nas redes, apresenta-se como “campeão de emendas” e capitaliza a
distribuição de verbas para municípios do interior de Minas. Em ritmo de
campanha permanente, entrega trator, viatura e ambulância a prefeitos
convertidos em cabos eleitorais.
Quando o ministro Flávio Dino mandou
suspender o pagamento das emendas, em meio a suspeitas de corrupção, Freitas
acusou o Supremo de “interferir na Casa do Povo”. “Temos que liberar os
recursos para que cada deputado e senador seja valorizado lá na ponta”,
discursou, deixando claro que a captura do Orçamento é mais útil aos parlamentares
do que aos cidadãos.
Em vídeo que voltou a circular na
sexta-feira, o delegado posa com Eduardo Bolsonaro, a quem chama de “amigo”, e
promete apoio incondicional a seu pai. A ligação com o clã não impediu que ele
fosse escolhido para relatar o processo no Conselho de Ética. O presidente do
colegiado, Fabio Schiochet, já declarou que não vê quebra de decoro na
sabotagem do Zero Três ao Brasil. Se depender dessa turma, o deputado em fuga
pode continuar a delinquir em paz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário