domingo, 28 de setembro de 2025

Unidade floresce na dor da maioria. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

A indignidade da blindagem foi compreendida como barreira a qual o país não pode ultrapassar

A reação mostrou que há pautas convergentes passíveis de serem construídas no ambiente de atritos

A reação avassaladora à ideia dos 353 deputados que pretenderam incluir na Constituição um dispositivo protetor de malfeitorias, remete à antiga constatação de Luiz Inácio da Silva (PT) sobre a existência de "300 picaretas" no Congresso, mas não só.

As manifestações de domingo passado (21) e a surra moral que os senadores aplicaram à Câmara no enterro da PEC da Blindagem na Comissão de Constituição e Justiça, mostraram que a construção de pautas convergentes é possível no ambiente radicalizado da política.

Requer que se perceba onde aperta o calo da maioria. Nas ruas, os protestos levaram o carimbo da esquerda, mas na sociedade e no Senado onde o voto é majoritário e não conta com a proteção da proporcionalidade que elege deputados, a indignidade foi amplamente compreendida.

A repulsa ultrapassou barreiras da estima ideológica ou, como se diz, furou as bolhas. Parlamentares de direita, e até bolsonaristas, se engajaram no rechaço à quebra de limites. Donde é lícito supor que exista energia onde parecia vicejar a apatia.

Involuntariamente, os artífices da malandragem provocaram um curto-circuito daqueles capazes de despertar a coletividade para a necessidade dar um basta quando se chega à fronteira do inadmissível.

Na história recente vivemos alguns momentos de tomada de consciência que impulsionaram a unidade nacional. Resultaram, por exemplo, no fim da ditadura e no êxito do combate à inflação. Houve desperdícios, como ocorreu com os atos de 2013 contra a ineficiência do Estado que afundaram nos equívocos de condução e na indiferença do poder público.

Será que não temos causas em comum a defender sem prejuízo da preservação das opiniões divergentes no campo do pensamento político? Uma delas diz respeito à impunidade. De parlamentares, de golpistas e do avanço do crime organizado frente ao Estado desorganizado para enfrentá-lo.

Segurança é questão de soberania nacional. Aperta o calo da maioria e tende a apertar ainda mais.

 

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