Folha de S. Paulo
A indignidade da blindagem foi compreendida
como barreira a qual o país não pode ultrapassar
A reação mostrou que há pautas convergentes
passíveis de serem construídas no ambiente de atritos
A reação avassaladora à ideia dos 353
deputados que pretenderam incluir na Constituição um
dispositivo protetor de malfeitorias, remete à antiga constatação de Luiz
Inácio da Silva (PT) sobre a existência de "300
picaretas" no Congresso, mas não só.
As manifestações de domingo passado (21) e a
surra moral que os senadores aplicaram à Câmara no enterro da PEC da
Blindagem na Comissão de Constituição e Justiça, mostraram que a
construção de pautas convergentes é possível no ambiente radicalizado da
política.
Requer que se perceba onde aperta o calo da maioria. Nas ruas, os protestos levaram o carimbo da esquerda, mas na sociedade e no Senado onde o voto é majoritário e não conta com a proteção da proporcionalidade que elege deputados, a indignidade foi amplamente compreendida.
A repulsa ultrapassou barreiras da estima
ideológica ou, como se diz, furou as bolhas. Parlamentares de direita, e até
bolsonaristas, se engajaram no rechaço à quebra de limites. Donde é lícito
supor que exista energia onde parecia vicejar a apatia.
Involuntariamente, os artífices da
malandragem provocaram um curto-circuito daqueles capazes de despertar a
coletividade para a necessidade dar um basta quando se chega à fronteira do
inadmissível.
Na história recente vivemos alguns momentos
de tomada de consciência que impulsionaram a unidade nacional. Resultaram, por
exemplo, no fim da ditadura e no êxito do combate à inflação. Houve
desperdícios, como ocorreu com os atos
de 2013 contra a ineficiência do Estado que afundaram nos equívocos de
condução e na indiferença do poder público.
Será que não temos causas em comum a defender
sem prejuízo da preservação das opiniões divergentes no campo do pensamento
político? Uma delas diz respeito à impunidade. De parlamentares, de golpistas e
do avanço do crime organizado frente ao Estado desorganizado para enfrentá-lo.
Segurança é questão de soberania nacional.
Aperta o calo da maioria e tende a apertar ainda mais.
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