Folha de S. Paulo
Livro mostra quais eram os planos da direita
para um segundo mandato de Trump
Ainda que de modo caótico, atual presidente
parece seguir as diretrizes dos conservadores
Trump é Trump. São raros os dias em que as
postagens que ele faz na hora do almoço não contradigam o que ele afirmara no
café da manhã. Mas o estilo caótico do presidente americano não implica que ele
não tenha um plano.
"O Projeto", de David Graham, é uma tentativa de revelar para onde vai o Agente Laranja. A fonte primária de Graham não é Trump, cuja natureza desregrada o torna pouco confiável até para prestar informações sobre si mesmo, mas um grupo de autores que lhe são ideologicamente próximos e que têm maior capacidade de pôr ideias no papel.
"O Projeto" é a tradução
jornalística —e crítica— de "Project 2025", um calhamaço de quase mil
páginas publicado pelo think tank conservador Heritage Foundation com os planos
da direita para um segundo mandato de Trump.
E o que tem ali é de assustar, não só pelo
conteúdo antiliberal das propostas, apresentadas originalmente em 2023, mas
também porque Trump está implementando várias delas, ainda que em seu estilo
confuso.
Acabamos de ver, por exemplo, ao vivo e em
cores, a Presidência usar o poder da FCC, uma agência governamental, para interferir na programação jornalística de emissoras de TV, o
que até há pouco pareceria algo impossível nos EUA do século 21.
O que mais me preocupa é o redesenho dos
poderes da Presidência. A ideia dos conservadores, que Trump parece estar
seguindo tão ao pé da letra quanto é capaz, é livrar-se dos servidores de
carreira e substituí-los por indivíduos que lhe jurem lealdade pessoal e lhe
permitam ampliar os próprios poderes.
Isso é grave porque fere de morte o verdadeiro
segredo da democracia, que é nunca promover mudanças que não possam ser
revertidas num cenário de alternância de poder. É essa perspectiva que faz com
que quem perde uma eleição aceite passar um período na oposição em vez de
resistir por todos os meios.
É pouco crível que Trump esteja empenhado em
criar uma Presidência superpoderosa para eventualmente entregá-la aos rivais
democratas em caso de derrota no pleito de 2028.
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