O Estado de S. Paulo
A hostilidade de Trump em relação ao Brasil de Lula atingiu um ponto de esgotamento
A disposição de Donald Trump de se reunir com
Lula segue um padrão de comportamento adotado pelo presidente americano desde o
seu primeiro mandato, calcado por seu desejo de manter a iniciativa. Além
disso, pesa o interesse de resolver a questão das tarifas de forma favorável
aos EUA.
A hostilidade de Trump em relação ao Brasil de Lula atingiu um ponto de esgotamento. O governo brasileiro deixou claro que não pode reverter decisões da Justiça em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro e às redes sociais. Não pode e nem quer, já que a resistência à pressão impulsionou a popularidade de Lula.
As tarifas e sanções dos EUA se tornaram um
incentivo interno e uma justificativa externa para o governo Lula fazer o que o
seu instinto ideológico já o impulsiona naturalmente a fazer: estreitar a
parceria com a China. Diante disso, as pressões americanas se tornaram inócuas
e contraproducentes. Ao se oferecer a negociar, Trump retomou a iniciativa,
voltando a ocupar o lugar de oferecer a solução.
A que custo, no entanto? Trump certamente não
abandonou a estratégia de usar o Brasil para provar que ele é o líder do mundo
livre, enquanto a esquerda é autoritária e repressiva, e usa a Justiça para
fins políticos contra a direita. Em um eventual encontro na Casa Branca, diante
das câmeras, o risco de o presidente americano impor a Lula um constrangimento
é considerável. Daí a preferência de setores do governo de realizar a reunião
em um terceiro país.
Esse aspecto político continua sendo o mais
incontornável. Mas as tarifas têm uma dimensão comercial. A revelação do
Estadão de que o vicepresidente Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento,
Indústria, Comércio e Serviços, conversou no dia 11 por videoconferência com
Jamieson Greer, representante comercial dos EUA, e o chanceler Mauro Vieira
recebeu no Brasil, no dia 15, Richard Grenell, enviado de Trump para missões
especiais, reforça a noção de que Washington tem interesse em negociar um
acordo.
Importadores e varejistas americanos
pressionam a Casa Branca para baixar as tarifas, cujo propósito é arrecadar
impostos, equilibrar a balança comercial, atrair indústrias de volta e impor a
vontade dos EUA sobre outros países – não escassez e elevação de preços.
O andamento das negociações dá ao Brasil a
chance de reduzir suas tarifas, que prejudicam os consumidores, o acesso dos
setores produtivos a tecnologias que impulsionam a inovação e a inserção de
segmentos da indústria nas cadeias de valor.
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