Folha de S. Paulo
Ao contrário do prometido pelos extremistas,
Lula só se deu bem e Bolsonaro só se deu mal após tarifaço
Narrativa de que o Brasil seria um barril de
pólvora prestes a explodir não resistiu ao confronto com fatos
Donald Trump quer
conversar com Lula.
Não se sabe sob quais condições, ou com qual grau de sinceridade, ou com qual
objetivo.
Mas uma coisa parece clara: já há canais de
comunicação entre os governos brasileiro e americano que não passam pelos
aliados extremistas de Eduardo
Bolsonaro e Paulo Figueiredo na Casa Branca.
Como surgiu essa brecha? Nos últimos meses,
gente ligada ao governo brasileiro e a empresários de vários setores
trabalharam para abri-la.
Mas outra coisa também pode ter acontecido:
Trump pode ter percebido que a turma de Eduardo e Figueiredo mentiu para ele.
Afinal, se a história contada pelos bolsonaristas fosse verdade, o tarifaço teria produzido efeitos exatamente opostos aos que produziu até agora.
O presidente americano parece ter sido
convencido, em algum momento, que o Brasil era um barril de pólvora prestes a
explodir, que as massas brasileiras estavam dispostas a pegar em armas por
acreditar na inocência de Jair. Os movimentos iniciais de Trump indicavam isso:
ele achava que só precisava riscar um fósforo para desencadear um golpe no
Brasil que colocasse no poder extremistas completamente leais à Casa Branca.
A influência dos golpistas ficou clara, por
exemplo, na escolha das autoridades brasileiras sancionadas pela Casa Branca.
Alvo da última rodada de sanções, o ex-AGU José Levi foi acusado por Paulo Figueiredo,
em um vídeo de novembro de 2022, de exercer influência para que o então
comandante do Comando Militar do Sul, general Valério Stumpf Trindade, não
aderisse ao golpe.
Entretanto, a narrativa Bolsonaro/Figueiredo
não resistiu bem ao confronto com os fatos.
Ao contrário do prometido pelos extremistas,
Lula só se deu bem e Jair só se ferrou depois do tarifaço.
Lula subiu nas pesquisas, ganhou as ruas com
a bandeira brasileira, fez sucesso na ONU, retomou com novo ímpeto a negociação
comercial com a União Europeia e refreou, não se sabe se definitivamente, a
onda Tarcísio.
Jair ganhou um processo por obstrução de
Justiça, uma tornozeleira, a fama indelével de cachorrinho de gringo, uma
condenação à prisão, a culpa por ter implodido a direita brasileira um ano
antes da eleição e a provável obrigação de sustentar um encostado na Disney por
tempo indeterminado.
De qualquer forma, mesmo se for verdade que
Trump descobriu a picaretagem de Eduardo e Figueiredo, é cedo para dizer que os
problemas da Casa Branca com a democracia brasileira foram resolvidos.
Afinal, os assessores de Trump que
acreditaram em Eduardo e Figueiredo podem achar que insistir na narrativa
bolsonarista é melhor do que admitir que foram enganados. Isso pode acontecer
até mesmo no caso do chefe do departamento de Estado, Marco Rubio, que pareceu
contrariado quando Trump elogiou Lula na ONU.
E a abertura das negociações não quer dizer
que elas serão fáceis. As pautas comerciais são legítimas, mas outras
discussões, como regulação das redes, podem ser difíceis. A defesa da
democracia, naturalmente, segue inegociável.
De qualquer forma, mesmo se Trump tiver
entendido que recebeu informações falsas de Eduardo e Figueiredo, pode não ter
se arrependido de patrocinar um golpe no Brasil. Talvez tenha se arrependido,
apenas, de patrocinar golpistas fracassados e cascateiros
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