O Estado de S. Paulo
Persistem as críticas à política monetária
(política de juros) do Banco Central -- embora sejam menos agressivas quando
partem de integrantes do governo depois que o presidente Lula encaminhou a
nomeação do presidente, Gabriel Galípolo e a de outros membros da diretoria.
Quase sempre essas críticas se limitam a afirmar que os juros aos níveis atuais, de 15% ao ano, são exorbitantes, que encarecem demais o crédito, que derrubam a atividade econômica e o emprego. Mas nenhum desses críticos sugere a adoção de critério diferente do vigente para definição dos juros básicos (Selic). Nem chega a reconhecer que, para os juros baixarem, é preciso estancar sua principal causa, a gastança do governo que empurra o rombo e a dívida pública e semeia desconfiança.
O Banco Central não faz mais do que cumprir o
que dele é exigido: calibrar o volume de moeda na economia -- e, assim,
estabelecer seu preço, que são os juros -- em nível tal que emppurre a inflação
para dentro da meta, que é de 3% em doze meses, com tolerância de 1,5 ponto porcentual,
tanto para mais como para menos.
Esta determinação não é imposta sobre o Banco
Central por determinação de quem comanda o Palácio do Planalto, mas por Lei
Complementar. Derrubar os juros a canetadas, como no tempo do presidente
Alexandre Tombini, por exigência da presidenta Dilma, é receita para o
desastre, como aconteceu.
Podem-se discutir nuances, como o início e o
fim de um ciclo de alta ou de baixa. Mas exigir o descumprimento do principal
implica risco de desmoralizar a política monetária.
Alguns argumentam que juros tão altos, por
tanto tempo, derrubam o emprego. Não é o que acontece. O atual nível de
desemprego aferido pela PNAD-Contínua, de 5,4%, é o mais baixo da História.
Outros alegam que a meta de inflação é baixa
demais para os padrões brasileiros. E que, se fosse mais alta, o Banco Central
poderia fixar juros mais baixos. Nesse caso, o problema não está no Banco
Central mas no governo que, por meio do Conselho Monetário Nacional, fixou a
meta e não pretende baixá-la.
O rombo fiscal, que despeja moeda na
economia, na contramão do Banco Central, não é o único fator que eleva os juros
no Brasil para níveis que estão entre os mais altos do mundo. Dois outros
fatores exigem que o Banco Central compense o jogo contra. O primeiro deles é o
histórico caloteiro do Brasil que impõe remuneração extra para ficar com os
títulos do Tesouro Nacional. Por isso, a cada avanço da dívida pública, aumenta
a desconfiança. E o outro fator é o BNDES que despeja no mercado R$ 400 bilhões
em ativos a juros favorecidos, também forçando o outro lado da gangorra.
Mas, vai que está tudo errado com os juros.
Nesse caso, qual seria o critério para definição da política? Apenas o chamado
bom senso? A retomada imediata da atividade econômica sem soltar os cachorros
contra a inflação? Pois é essa definição que os críticos da política monetária
são incapazes de avançar.
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