DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Excesso de corruptos, debate político vazio e programas indistintos devem favorecer mais personalismo na eleição
A NOTÍCIA mais importante de hoje, em especial no Brasil, é o sorteio dos grupos da Copa de 2010, com a decorrente definição da tabela dos jogos.
Os brasileiros começaremos a organizar "bolões", os milhares de grupos de apostas ilegais que reforçam nosso senso de comunidade e identidade e revelam que tipo de sapiência é socialmente reconhecida (entender de futebol e faturar uns trocados fáceis). A Copa será disputada entre junho e julho.
Até lá, refletiremos sobre as dificuldades do grupo do Brasil. A Eslovênia é pior que a Dinamarca? A Austrália parece fraca, mas não costuma encrencar com o Brasil? E se a França cair no nosso grupo? Teremos vingança ou a França do gol de mão nos derrubará outra vez?
Em junho de 2010, também teremos conhecido os candidatos a presidente, suas alianças, seus vices e a quantidade e variedade de desclassificados que estarão a apoiar cada chapa.
De quantos bandalheiros nos lembraremos? Quem estava no mensalão do DEM? Do tucanato mineiro? Na lista da empreiteira? Do velho mensalão do PT?
Dos programas dos candidatos não nos lembraremos, pois eles nem devem estar prontos, como tem sido a praxe. Caso estejam, tendem a ser inanidades vagas, que de resto poderão ser renegadas ainda na campanha, como o fizeram o PT em 2002 e o PSDB em 2006. É provável que saibamos mais das manhas de Costa do Marfim e das táticas da Sérvia.
Os escândalos recentes, o mensalão do DEM e o listão da empreiteira, e outros sob juízo, como mensalão do tucanato mineiro, parecem dar pistas sobre quem ficará morto e ferido no caminho para a campanha de 2010. Parecem, mas de fato darão? Em 2002, a fotografia de pacotes de dinheiro empilhado numa mesa derrubou a candidatura de Roseana Sarney a presidente pelo PFL, agora DEM. Agora, o DEM faz pelo menos o esforço de expulsar o quanto antes José Arruda, que governa o Distrito Federal das pacoteiras de dinheiro.
Mas quem da maioria do povo saberá distinguir a pacoteira brasiliense das bandalhas do Senado de José Sarney (PMDB) e da deputalhada que embolsa dinheiros indevidos? Quem vai se lembrar da velha matriz do valerioduto, de origem tucano-mineira, dos talvez candidatos a vices que aparecem em supostos listões de propinas?
A mensalagem do PT foi quase toda eleita, no voto popular, e volta a comandar o partido. Será mais provável lembrarmos que o Brasil costuma passar melhor pela Inglaterra do que pela França.
Nem se trata de dizer que a ocorrência de bandalhas em toda parte torna os partidos iguais, que "zera o jogo" das acusações de mensalagem e enfraquece o "debate ético", sempre uma piada escarninha. Talvez o problema seja o de dificuldade de processar tanta informação ruidosa, pois mesmo para quem lê jornais tornou-se difícil lembrar-se de tantas folhas corridas.
De resto, mas importante, nem há distinções programáticas essenciais ou identificação de políticos com algum movimento social ou de opinião pública relevantes (que aliás inexistem).
Os eleitores não vão votar a esmo. Ao menos não devem escolher a esmo o candidato a presidente. Mas, mais do que de costume, dada a destruição adicional da política, o personalismo deve dar o tom de 2010.
Excesso de corruptos, debate político vazio e programas indistintos devem favorecer mais personalismo na eleição
A NOTÍCIA mais importante de hoje, em especial no Brasil, é o sorteio dos grupos da Copa de 2010, com a decorrente definição da tabela dos jogos.
Os brasileiros começaremos a organizar "bolões", os milhares de grupos de apostas ilegais que reforçam nosso senso de comunidade e identidade e revelam que tipo de sapiência é socialmente reconhecida (entender de futebol e faturar uns trocados fáceis). A Copa será disputada entre junho e julho.
Até lá, refletiremos sobre as dificuldades do grupo do Brasil. A Eslovênia é pior que a Dinamarca? A Austrália parece fraca, mas não costuma encrencar com o Brasil? E se a França cair no nosso grupo? Teremos vingança ou a França do gol de mão nos derrubará outra vez?
Em junho de 2010, também teremos conhecido os candidatos a presidente, suas alianças, seus vices e a quantidade e variedade de desclassificados que estarão a apoiar cada chapa.
De quantos bandalheiros nos lembraremos? Quem estava no mensalão do DEM? Do tucanato mineiro? Na lista da empreiteira? Do velho mensalão do PT?
Dos programas dos candidatos não nos lembraremos, pois eles nem devem estar prontos, como tem sido a praxe. Caso estejam, tendem a ser inanidades vagas, que de resto poderão ser renegadas ainda na campanha, como o fizeram o PT em 2002 e o PSDB em 2006. É provável que saibamos mais das manhas de Costa do Marfim e das táticas da Sérvia.
Os escândalos recentes, o mensalão do DEM e o listão da empreiteira, e outros sob juízo, como mensalão do tucanato mineiro, parecem dar pistas sobre quem ficará morto e ferido no caminho para a campanha de 2010. Parecem, mas de fato darão? Em 2002, a fotografia de pacotes de dinheiro empilhado numa mesa derrubou a candidatura de Roseana Sarney a presidente pelo PFL, agora DEM. Agora, o DEM faz pelo menos o esforço de expulsar o quanto antes José Arruda, que governa o Distrito Federal das pacoteiras de dinheiro.
Mas quem da maioria do povo saberá distinguir a pacoteira brasiliense das bandalhas do Senado de José Sarney (PMDB) e da deputalhada que embolsa dinheiros indevidos? Quem vai se lembrar da velha matriz do valerioduto, de origem tucano-mineira, dos talvez candidatos a vices que aparecem em supostos listões de propinas?
A mensalagem do PT foi quase toda eleita, no voto popular, e volta a comandar o partido. Será mais provável lembrarmos que o Brasil costuma passar melhor pela Inglaterra do que pela França.
Nem se trata de dizer que a ocorrência de bandalhas em toda parte torna os partidos iguais, que "zera o jogo" das acusações de mensalagem e enfraquece o "debate ético", sempre uma piada escarninha. Talvez o problema seja o de dificuldade de processar tanta informação ruidosa, pois mesmo para quem lê jornais tornou-se difícil lembrar-se de tantas folhas corridas.
De resto, mas importante, nem há distinções programáticas essenciais ou identificação de políticos com algum movimento social ou de opinião pública relevantes (que aliás inexistem).
Os eleitores não vão votar a esmo. Ao menos não devem escolher a esmo o candidato a presidente. Mas, mais do que de costume, dada a destruição adicional da política, o personalismo deve dar o tom de 2010.
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